De José Marinho a Eduardo Lourenço e Miguel Real, passando por Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva - breve reflexão sobre o nosso "atraso".
Sendo, desde logo, o nosso descentramento de cariz espacial, geográfico - daí a nossa "situação finistérrea" -, ele é também, senão sobretudo, um descentramento de cariz temporal, histórico. Como escreveu José Marinho, esse descentramento histórico é de tal modo acentuado que "nos pensadores de maior consciência teorética ou especulativa, emerge o pensamento português alheio ao tempo da modernidade".
Para muitos, justifica-se esse desfasamento pelo nosso proverbial "atraso". Para esses, estranho seria, aliás, que, estando Portugal"atrasado" em relação aos mais "avançados" países da Europa nos mais diversos domínios, não o estivesse também no domínio da filosofia. Para esses, a par de um défice económico, social e político, deve pois mencionar-se um défice cultural, senão mesmo civilizacional, que, por sua vez, se consubstancia num alegado défice filosófico. Eis, em suma,a opinião mais generalizada e, dir-se-ia, a mais "sensata".
Não propriamente por ter "prazer em discordar" - prazer esse que, aliás, assumiu não ter - não é essa, contudo, a visão de Marinho. Daí, desde logo, esta sua dúvida, esta sua interrogação: se Portugal, enquanto essa "região espiritual, a mais agudamente cristã da Europa, que os nossos 'inteligentes' desde Luís António Verney vêm considerando a mais atrasada, a mais improgressiva (...), não será, noutro sentido, a mais adiantada, a que primeiro tentou a grande aventura da terra, esgotou os caminhos e ficou à espera que a experiência humanista chegasse à nova encruzilhada".
Convocando outros pensadores - nomeadamente, Eduardo Lourenço -, ensaiaremos defender essa perspectiva.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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7 comentários:
Será um texto oportuno, a ler com gosto, como este! A modernidade navegou o seu rio até à foz mas será "encruzilhada" a escolha entre o "vasto mar" e o retorno que não queremos nem podemos? Diante do desconhecido me parece perigoso "saber" o que vamos encontrar, há que ver o Brasil a caminho da Índia. Por isso aplaudo e agradeço que este blog esteja aberto a todos e sugiro que não tema os comentários; para ser íntegro, não os exclua!
Por muito que me esforce, não consigo entender o motivo pelo qual os portugueses têm tão má impressão de si-próprios: acham-se atrasados em tudo! Este parece-me aliás ser o aspecto mais consensual da sociedade portuguesa. Todos concordam em dizê-lo desde os mais eruditos aos menos instruídos. Portugal não presta! Lá fora é que bom!
É ver os locutores na abertura do telejornal anunciarem, palpitantes e com brilho no olho, que as estatíticas da UE dizem que Portugal é o país da Europa com mais alcoólicos. Notícia proveniente da mesma fonte, dizendo que os portugueses são os europeus que mais se lavam, passa em notícia de rodapé, passados 45 minutos. Lindo! Chega a parecer anedota!
Por que têm os portugueses esta imagem de si-próprios? A exploração desta temática seria interessante, para mim pelo menos, que considero isto um grande mistério!
Mas esse debate não cabe num pequeno comentário. Vou portanto limitar-me a dizer que vivi muitos anos na chamada cidade-luz e não vi que ouvesse por lá mais claridade do que por cá (... olhem que não estou a referir à lunimosidade do céu)!
Fico a aguardar com interesse essa reflexão.
Para já confesso que faço parte dos que partilham essa opinião mais generalizada e mais "sensata".
Olá Andorinha!
Essa reflexão escrita provavelmente nunca a farei porque isto de encontrar as palavras certas para expressarmos as nossas ideias de maneira a que outros as entendam, afigurasse-me bastante complexo. Como o leitor ajuda a construir o sentido do texto, chega-se frequentemente à conclusão de que não conseguimos transmitir nada daquilo que queríamos. É frustrante. Prefiro ainda tentar desocultar aquilo que os outros tentam dizer, na opacidade dos seus textos.
No entanto, como o seu interesse foi tão simpático, vou tentar explicar-lhe a ideia central da minha hipotética tese: "Os portugueses não têm auto-estima porque, no seu subconsciente, sabem duas coisas:
1. têm algo para dar ao mundo;
2. não estão a fazê-lo.
O conflito psicológico que dai resulta é intenso e reflecte-se no seu consciente colectivo sob a forma de um retumbante "a gente não presta".
Eis um exemplo dos argumentos que poderia desenvolver: "Parece-me muito interessante constatar que o português, sendo tão inseguro relativamente às suas aptidões, se revele no entanto tão competente quando vive no estrangeiro, onde todos solicitam o seu trabalho e gabam o seu carácter. Muito espanta também que quando recebe estrangeiros no seu próprio país dá lições aos melhores". Aqui daria o exemplo da organização de grandes eventos, tipo EURO de futebol e Expo 98, e acrecentaria: "... quem diria, um país tão desorganizado como o nosso"!
Na verdade, o português sabe que tem de estabelecer pontes entre povos... Mas, enquanto não se consciencializa plenamente da sua tarefa, não dá corpo ao seu sonho e embora muito insatisfeito consigo próprio... vai treinando nestas coisas.
Eu, desculpe-me a imodéstia, como já chamei o camião ds mudanças para transportar estas coisas do subconsciente para o consciente... adoro ser portuguesa! É um condão magnífico! Não conheço coisa melhor do que ser neta de Afonsos e Sanchos!
E tendo assim escrito, me despeço.
Abraço fraterno
Agora quando comecei a ler até fiquei circunspecto, depois conferi e é mesmo o post do Renato... e não acredito que agora lhe tenha dado para um avatar feminino... :)
Isto ficou confuso, mas, quem sabe, a Andorinha não se referia ao texto do Renato.
Fernanda,
Agradeço o teu comentário, mas para te ser sincera, estava a comentar o post do Renato.
"Convocando outros pensadores - nomeadamente, Eduardo Lourenço -, ensaiaremos defender essa perspectiva."
Referia-me concretamente a estas palavras dele; poder ter uma perspectiva diferente que possa confrontar com a minha.
Klatuu,
Claro que me referia ao texto do Renato como já expliquei.
Não tenho por hábito comentar comentários sem comentar posts:)
Olá Andorinha , Klatuu!
Têm toda a razão! E peço desculpa pelo equívoco.
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