ESCRITO EM 10 DE JUNHO DE 2006, EM LISBOA, APÓS TER TOMADO CONHECIMENTO QUE SKINS NAZIS TINHAM INSULTADO E TENTADO ESPANCAR UMA TOXICODEPENDENTE AFRICANA
«Gosto das ruas assim, vazias. Custa-me menos, as paredes não têm olhos e não as posso recriminar por não terem mãos. Às vezes, no silêncio, sem nada, sinto até que esta rua é uma espécie de lar. Às vezes é lindo, brinco com a meia dúzia de cães que também fizeram deste pedaço de cidade a sua casa, eles riem, rebolam, saltam e conseguem fazer-me sorrir – e crescem flores pequeninas entre as pedras da calçada, duram pouco, só enquanto as ruas estão desertas, até serem pisadas de novo – e então agita-se o ar, é como um perdão branco, descem os pombos e nunca se assustam comigo, não querem saber se as minhas mãos estão sujas e são pretas. Por vezes distraio-me com coisas estúpidas, para que o tempo passe depressa, gostava de poder arranjar as minhas unhas, de lavar e pentear o cabelo, de pintar os lábios.
Não me lembro de quando na minha fome o desejo e a comida passaram a ser a droga. Não sei bem o que me aconteceu. Lembro-me de ter sido mulher, do meu orgulho e da minha vaidade de africana me cobrirem de roupas bonitas, de dançar nas discotecas, de fazer amor com vontade. Depois alguma coisa aconteceu, abriu-se um rasgão na minha vida e quando acordei encontrei-me aqui sentada, neste degrau duro e frio, a ver passar as pernas dos outros, rua abaixo, rua acima.
Já nada mais posso perder, já nada mais tenho que me possam roubar, a não ser o meu coração, esse quero guardá-lo dentro de mim até ao dia da minha morte, tão escondido que não o poderão magoar, é por isso que nunca me hei-de prostituir. Sento-me aqui, como os homens-estátua, nesta rua, sento-me aqui, calada, não peço nada, mas às vezes um par de pernas detém-se e dão-me alguma coisa, digo, «Obrigada.», sempre com vergonha, com muita, muita vergonha.»
«Gosto das ruas assim, vazias. Custa-me menos, as paredes não têm olhos e não as posso recriminar por não terem mãos. Às vezes, no silêncio, sem nada, sinto até que esta rua é uma espécie de lar. Às vezes é lindo, brinco com a meia dúzia de cães que também fizeram deste pedaço de cidade a sua casa, eles riem, rebolam, saltam e conseguem fazer-me sorrir – e crescem flores pequeninas entre as pedras da calçada, duram pouco, só enquanto as ruas estão desertas, até serem pisadas de novo – e então agita-se o ar, é como um perdão branco, descem os pombos e nunca se assustam comigo, não querem saber se as minhas mãos estão sujas e são pretas. Por vezes distraio-me com coisas estúpidas, para que o tempo passe depressa, gostava de poder arranjar as minhas unhas, de lavar e pentear o cabelo, de pintar os lábios.
Não me lembro de quando na minha fome o desejo e a comida passaram a ser a droga. Não sei bem o que me aconteceu. Lembro-me de ter sido mulher, do meu orgulho e da minha vaidade de africana me cobrirem de roupas bonitas, de dançar nas discotecas, de fazer amor com vontade. Depois alguma coisa aconteceu, abriu-se um rasgão na minha vida e quando acordei encontrei-me aqui sentada, neste degrau duro e frio, a ver passar as pernas dos outros, rua abaixo, rua acima.
Já nada mais posso perder, já nada mais tenho que me possam roubar, a não ser o meu coração, esse quero guardá-lo dentro de mim até ao dia da minha morte, tão escondido que não o poderão magoar, é por isso que nunca me hei-de prostituir. Sento-me aqui, como os homens-estátua, nesta rua, sento-me aqui, calada, não peço nada, mas às vezes um par de pernas detém-se e dão-me alguma coisa, digo, «Obrigada.», sempre com vergonha, com muita, muita vergonha.»
Klatuu Niktos
20 comentários:
Viva a irmandade de todos os Lusófonos e os princípios humanistas da Civilização Portuguesa!!
Marcia, «Vida».
Gosto das ruas vazias e aparentemente frias porque essa é a atmosfera da madrugada. Uma atmosfera mórbida e calada que queima dentro d’alma.
Gosto da mensagem seca do silencio, pois sua rudez não causa ruído em minhas idéias. As ruas vazias , escuras e silenciosas recontam alguma história.. poucos conseguem captar e sorver dessa atmosfera, mas quem se entrega obtém o privilegio da absolvição pra si e pra quem já se foi por algum ideal.
A vaidade é um vício que consome o espírito, é como câncer que não se extirpa.
A melancolia de quem sabe que há uma História correndo no silencio de cada ato é por si só a redenção.
Beijos, Klatuu!
Ps: vida longa pra ti...esse foi seu melhor texto aqui na Nova Águia!
PPS: É assim que eu gosto..com vídeo ou musiquinha pro meu comentário ficar digno de seus escritos.
Te adoro um
Te adoro dois,
mais QUE FEIJAO COM ARROZ.
Errata: ...por si só é a redenção.
Tá ficando que nem eu?? Vai no caixaozinho, menina!
P. S. Tá querendo ser o espectro do espectro? :)
Fecha logo a tampa e dorme!
Márcia - «Vida»
Amor bem alivia nha vida...
Nta amo...
Sinti um peso riba mi
pamodi quim tevi qui sufri si
queli im qua mereci
Cruza mas é solidão
sem im conchi si beleza
Beleza di amoooooooor...
Decepção por decepção
qui parti nha coração
qui paga nha visão de ser feliz sem excepção
Um alguém pa cunfia nel
um alguém pa caricia
um alguém pa amaaaaaaaaa...
(refrão)
Pesado nha vida tenim cansado
Na bô quim tem pensado
Amor bem alivia nha vida
Nha vida tenim cansado
Na bô quim tem pensado
Amor bem alivia nha vida...
Asa foi sempre na sonda
di nha três pom quel fadja
Tinha um pingo di esperança
qui faria um pingo di alegria
e hoje im stá li
ta pidi deus na céu
pé dam fé nês vida
nês vida... oooohh
(refrão)
Pesado nha vida tenim cansado
Na bô quim tem pensado
Amor bem alivia nha vida
Nha vida tenim cansado
Na bô quim tem pensado
Amor bem alivia nha vida... (2X)
Baby....................
oohh oohhh oooohh
Pesado, cansado, pensado
oohh oohhh oooohh
(refrão)
Pesado nha vida tenim cansado
Na bô quim tem pensado
Amor bem alivia nha vida
Nha vida tenim cansado
Na bô quim tem pensado
Amor bem alivia nha vida... (2X)
P. S. Cretcheu mi e dod na bo, Márcia... ;)
Bia, se Nietzsche tivesse podido te conhecer... ia te achar uma gracinha! Sábio tem mesmo que ter diabrete na sombra, ou fica burro, sério e triste! JAJAJAJAJAJAJA!!!
Belo texto ! O problema é que o que esses nazis tentaram fazer também andaram os portugueses a fazer em África... Não esqueçam também que este Portugal que tanto veneram foi o iniciador da globalização que desgraçou o mundo e só sonha hoje com futebol !... Será que está à altura do amor que lhe têm ?
Foi, foi, iam todos para África a equilibrar uma suástica na cabeça! - e, pela manhã, quando arrotavam expeliam fornos crematórios!
E foi, sim senhor, da globalização que desgraçou o mundo, iam pelos oceanos fora a deitar latas de coca-cola, pizzas e hamburguers para as águas!
Porque é que vocês não se juntam aos nazis na Praça Luís de Camões e não se matam uns aos outros?
P. S. Ou apanham um avião para o Afeganistão e vão morrer ao lado dos Talibans?
Idealizações cegas da pátria são tudo menos patrióticas...
viva a LIBERDADE!!!
Abraço.
Não sabia que o MIL já aceitava comentários de pseudo-genocidas ideológicos e de castradores de opinião. O MIL deve ser muito Avant-Guarde para permitir que pessoas, que se dão ao desprazer de injuriar publicamente qualquer um que não toque a 'mesma musiquinha de caixa' que este senhor, escrevam acerca de valores 'muy nobres & elevados'. Pensei que se tratasse de um projecto mais integro, com mais carácter, representado que está por pessoas que tanto admiro e prezo.
Que melífluo e áulico genuflector... :)
P. S. Prometo que de futuro e tendo em consideração as vossas tremendas dificuldades de entendimento... vou passar a colocar um emoticon nos meus comentários cada vez que esteja a ser irónico.
Não me agradeçam.
P. P. S. Outra coisa ainda é o despropósito dos comentários - mas nunca resultarem de alguma relação raciocinante com os textos, nem é de espantar, porque não passam de escarros para o quintal do vizinho, feitos de má-fé.
A liberdade de opinião supõe opinião; a liberdade, inteligência; o debate, alguma objecção de fundo.
LERAM o meu texto, ó calhamaços?
Fala apenas do sofrimento humano e da indiferença ao sofrimento!
Foi despoletado pela minha revolta contra a alarvidade criminosa de pequenos tiranos psicóticos!
Sou Monárquico, essa é para mim a Bandeira de Portugal e ilustro os meus textos como bem entendo!!
O mais importante aqui e agora é que eu te adoro, meu espinafre!
Bjuxxx.
Chegou a minha tropa de apoio... :)
Enviar um comentário