A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
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Donde vimos, para onde vamos...

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terça-feira, 24 de junho de 2008

E a cada momento a pedra


Tão simples contar uma história, tão fácil ver. Espera, disse a irmã mais velha, porque agora vou virar a página e contar como o cavaleiro foi salvo pela bruxa do mar. Mas olha outra vez, repara nas cores pesadas do céu: o pai escrevia estes versos três dias antes de os soldados o levarem, tenta não te esquecer. Ou então, se quiseres, subiam ao terraço porque ali podiam fingir que a cidade ainda estava viva, tão longe; subiam ao terraço intacto para não pensar nos dias da devastação. E Miriam sentia confusamente que queria adormecer nos braços da rapariga do tigre.

Tão simples contar uma história, mas ver é ser levado por ela. Sou o que os meus olhos me dizem, digo só o que o meu olhar pode ser: aprendi a ler com os olhos do falcão e do órfão. E a cada momento a pedra, o gesto velado da rapariga do tigre.

Em tudo o que digo há cidades mortas.


[pintura a óleo sobre tela: Omens of Hafez, de Iman Maleki]

12 comentários:

Jo disse...

Tão simples contar uma história, mas ver é ser levado por ela.

Estava eu a escrever sobre o saber narrativo e o património imaterial, e deparo-me com este post. Creio termos estado em sintonia hoje, Casimiro. (Guardando a devida distância, é claro, pois o que escreve é belo, muito mais belo do que eu alguma vez serei capaz de escrever.)

Um abraço.

Ana Beatriz Frusca disse...

"Tão simples contar uma história, mas ver é ser levado por ela..."
...e eu fui me levando por sua história.
Beijos.

Ana Beatriz Frusca disse...

A cor do texto é a cor de quem o escreve, os olhos de quem lê sofre variação de matiz.
beijos.

Casimiro Ceivães disse...

Biazinha, não há texto que não seja uma legenda [dizem assim no Brasil?] numa imagem do Mundo: ainda que essa imagem seja a do corpo ou da alma de quem a escreveu, que são mundo também.

Mas... as legendas são chaves, e às vezes as chaves são falsas. Ou chaves verdadeiras, mas que servem uma porta diferente.

Beijinho

Casimiro Ceivães disse...

um abraço, mariazinha, obrigado. Também tinha visto a sintonia. Mas estes textos já vêm, pelo menos em parte, de coisas que estão lá para trás, não?

Ana Beatriz Frusca disse...

A palavra legenda aqui no Brasil é usada para tradução de filmes: filme legendado ou partido político funcionando como sinônimo de sigla.
Tu és de que parte de Portugal?

Casimiro Ceivães disse...

Do Norte, Biazinha. Do rio Douro para cima. Mas se vires um mapa de Portugal, encontras mais a Norte ainda outro rio a que chamam Lima; e só daí em diante (entrando mesmo na Galiza) é que me começo a sentir em casa. Há quem diga que são as terras dos antigos Celtas.

Mas entretanto vivo em Lisboa :)

beijinho

PS. Sim, a "legenda" dos filmes. Mas se escreveres uma frase debaixo de uma fotografia ou desenho, é "legenda" também.

Anabela.R disse...

«aprendi a ler com os olhos do falcão e do órfão», encontrei-me aqui.

Um abraço :)

Ana Beatriz Frusca disse...

Sim...também há esse sentido,até havia me esquecido.
Beijos.

Ruela disse...

Momentos mágicos.





Abraço.

andorinha disse...

"Tão simples contar uma história, mas ver é ser levado por ela."

É isso.
Ler é apenas juntar palavras; ler com olhos de ver é outra história:)

Beijinho.

Flávio Gonçalves disse...

Um belo exemplo da arte iraniana, boa escolha.