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Nunca se escutou Camões, o que cantou não a Fé nem o Império, não o encontro de culturas, mas a “expedição” de Eros “Contra o mundo rebelde, por que emende / Erros grandes que há dias nele estão, / Amando cousas que nos foram dadas, / Não para ser amadas, mas usadas” (Os Lusíadas, IX, 25). O que cantou a redenção do mundo pela conformidade do masculino e do feminino na Ilha dos Amores, a plenitude do amor sensual e sexual pela qual se abre a divina visão, o messianismo erótico de uma nova raça andrógina de deuses humanos e homens divinos. Ninguém o escuta. Crucifica-se Eros na pornografia e nessas outras obscenidades que são o intelecto, o poder e as honras, o sucesso, a fama e a riqueza. O que faz avançar a civilização, a ciência e a miséria. As câmaras de gás da alma. Mas Eros ri e voa. E quem na cruz fica, exangue e triste, és tu !
in A Cada Instante Estamos A Tempo de Nunca Haver Nascido, Corroios, Zéfiro, 2008, p.9.
in A Cada Instante Estamos A Tempo de Nunca Haver Nascido, Corroios, Zéfiro, 2008, p.9.
5 comentários:
Totalmente de acordo, ninguém o escuta nessa vertente:(
"As câmaras de gás da alma", excelente metáfora.
Mais um livro aqui apontado na minha lista de férias. Está a ficar enorme:)
Abraço
Alguém percebe que estamos todos num câmara de gás da alma ?
Não é difícil de perceber. Basta olhar à nossa volta...
Amigo Paulo!
Há sim! Há quem escute! A leitura que faz do episódio da Ilha dos Amores é magnífica e tanto mais pertinente que nada no texto de Camões a desmente, antes a confirma!
Em reflexão sobre esse canto, cheguei à mesma conclusão de base e por isso foi com alegria que recentemente, ao assistir a um mini-curso que ministrou, o ouvi desenvolver a sua interpretação.
Atrevo-me até a pedir-lhe que a exponha mais detalhamente no blogue para que todos facilmente tenham conhecimento dela.
Amiga Fernanda Oliveira,
O que tenho preparado sobre o assunto é bastante extenso para publicar aqui, mas sugiro a quem se interesse que consulte o meu site - www.pauloborges.net - , onde poderão encontrar o seguinte texto: “Eros e Iniciação em Luís de Camões. A “Ilha dos Amores””.
Está também publicado na Revista "Phainomenon", “Homenagem a João Paisana (1945-2001)”, nºs 5 e 6 (Outubro de 2002 e Primavera de 2003), pp.339-350.
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