«Os Irlandeses estão com medo da Europa.»
Dito por um gajo qualquer num telejornal, apresentado como analista político.
Meu caro senhor – perdoe-me não saber o seu nome; a culpa é inteiramente da minha ausência de hábitos televisivos, que se resumem ao malfadado hábito dos restaurantes não desligarem a trampa dos televisores durante as refeições –, retomando, meu caro senhor, com os Escoceses, os Irlandeses estão no topo da valentia a Ocidente. Durante os anos de pertença à Europa comunitária (nenhuma alusão à utopia das comunas) ergueram da fome e da opressão uma Nação sempre orgulhosa, cujo sucesso económico e social é um exemplo, tendo no momento melhor nível de vida que os Ingleses (qualidade de vida, riqueza para alguns e poderio dos Estados são categorias sumamente diversas).
A Irlanda, em cujo povo Almada Negreiros encontrou, fora da matriz ibérica, as maiores semelhanças aos Portugueses, ao limpar o cu ao Tratado de Lisboa, está, primeiramente, a dar-nos um recado solidário: sabem que somos um povo inteligente, com mitigada culpa no governo da idiotia e só nos querem auxiliar na recuperação do nosso orgulho e da nossa honra. É uma irmandade do sangue, que fala mais alto que qualquer argúcia política de gabinete, chama-se brio antigo! – algo que também herdaram dos primeiros colonizadores das Bretanhas, os Iberos.
Klatuu Niktos
P. S. Tem o meu amigo razão nisto: o Tratado de Lisboa não está morto. Não está… está morto-vivo – de vampiros, percebo eu.
TO IRELAND IN THE COMING TIMES
NOW, that I would accounted be
True brother of a company
That sang, to sweeten Ireland's wrong,
Ballad and story, rann and song;
Nor be I any less of them,
Because the red-rose-bordered hem
Of her, whose history began
Before God made the angelic clan,
Trails all about the written page.
When Time began to rant and rage
The measure of her flying feet
Made Ireland's heart begin to beat;
And Time bade all his candles flare
To light a measure here and there;
And may the thoughts of Ireland brood
Upon a measured quietude.
Nor may I less be counted one
With Davis, Mangan, Ferguson,
Because, to him who ponders well,
My rhymes more than their rhyming tell
Of things discovered in the deep,
Where only body's laid asleep.
For the elemental creatures go
About my table to and fro,
That hurry from unmeasured mind
To rant and rage in flood and wind;
Yet he who treads in measured ways
May surely barter gaze for gaze.
Man ever journeys on with them
After the red-rose-bordered hem.
Ah, faeries, dancing under the moon,
A Druid land, a Druid tune!
While still I may, I write for you
The love I lived, the dream I knew.
From our birthday, until we die,
Is but the winking of an eye;
And we, our singing and our love,
What measurer Time has lit above,
And all benighted things that go
About my table to and fro,
Are passing on to where may be,
In truth's consuming ecstasy,
No place for love and dream at all;
For God goes by with white footfall.
I cast my heart into my rhymes,
That you, in the dim coming times,
May know how my heart went with them
After the red-rose-bordered hem.
William Butler Yeats
11 comentários:
Desta vez Klatuu dou-lhe os parabéns!
Os Irlandeses deram-nos uma lição de democracia e de soberania.
Não aconteceu como em Portugal que alguns decidiram por todo um povo.
Será que o Senhor Presidente do Conselho estava com medo de perder o referendo?
Espero que o Directório de Bruxelas tenha ficado comprometido.
Porque desta vez o que está em causa é a Independência Nacional.
Questões como a Defesa, a Segurança Interna, as Relações Externas passam para as mãos daquele que será o Presidente da UE, personagem esta que não será sufragada pelo nosso voto, mas sim escolhido pelos seus pares, uma verdadeira democracia...
Mais uma vez parabéns pelo magnífico post.
Oportuno.
Não fui eu o "gajo" mas podia ter sido. E diria mais: os irlandeses são os ingratos. São dos que mais devem à Europa...
P.S.: Cheguei há poucos dias de fora e só agora comprei um exemplar da vossa Revista. Em breve enviarei uma crítica.
E sente-se infeliz por não ser?
Homem, você fale do que sabe, de Lisboa, do Alentejo, de Portugal, até.
A Europa é que deve muito aos Irlandeses, a todos os níveis, passados e presentes... E, no presente, deve-lhes o exemplo de que a Europa comunitária talvez até possa funcionar!
Caro, Mário... você concorda comigo pelas razões erradas - e eu detesto filas.
Caro Klatuu,
Estou bastante interessado nessa atávica relação com a Éire. Se me puder indicar algum apontamento do Almada sobre isso, ficar-lhe-ei grato, pois eu, de momento, apenas me sei de uma referência feita numa breve passagem da Cena do Ódio. Outros autores poderão eventualmente ser bem-vindos, mas o que me interessava mesmo era Almada Negreiros. Já agora, aqui fica:
"Felizmente que na minha pátria,
a minha verdadeira mãe, a minha santa Irlanda,
apenas vivi uns anos d'Infância,
apenas me acodem longinquamente
as festas ensuoradas do priest da minha aldeia,
apenas ressuscitam sumidamente
as asfixias da tísica-mater,
apenas soam como revoltas
as pistolas do suicídio de meu pai,
apenas sinto infantilmente
no leito de uma morta
o gelo de umas unhas verdes,
um frio que não é do Norte,
um beijo grande como a vida de um tísico a morrer.
Ó Deus! Tu que m'os levaste é que sabias
o ódio que eu lhes teria
se não tivessem ficado por ali!
Mas antes, mil vezes antes, aturar os burgueses da My
Ireland
que estes desta Terra
que parece a pátria deles! "
Klatuu creio que a contenção, por vezes é o melhor dos caminhos.
Surpreende-me que sendo um fervoroso adepto real, que não tenha frequentado as aulas de etiqueta da Paula Bobone.
Quanto ao comentário que me dirigiu, o Diabo dá-lhe um conselho válido, não fale de quem não conhece nem emita juízos de valor precipitados!
Mário... então seja você coerente e não se meta a fazer suposições de inábil chiste retórico para quem também não conhece. Nem tem proficiência argumentativa para tal nem diz nada que se aproveite nesta sua réplica em comentário.
O comentário que lhe fiz nada supõe da sua pessoa, mas é, sim, uma observação objectiva em relação ao que refere no seu primeiro comentário. Além de que dispenso que você me afague o ego e a escrita seja com que parabenizações, tudo o que depois indica nenhuma relação estabelece com as minhas preocupações políticas acerca da Europa comunitária.
Não alinho na estratégia de fila... que junta, por exemplo, toda a sorte de mentecaptos nas Caixas de Comentários de tanto blogue, onde ganem em uníssono bloquistas, salazaristas, socialistas descontentes, nazis e desocupados da vida.
(z), além dessa, há mais umas referências à Irlanda, vou ver se encontro. Mas entenda que o meu estilo de crónica está muito próximo do «jornalismo de ficção», estilo derivado do caldeirão cultural do Movimento Hippie e que tem entre nós um exímio cultor em João Alves da Costa, mas as próprias blagues de Pessoa e a «pestilência» do Repórter X me inspiram.
:)
Seu estilo de crónica não me faz qualquer confusão; aliás, Hunter S. Thompson, com seu gônzico olhar, é um dos meus bichos de estimação, embora, a partir de certa altura, tenha optado por lhe vedar a entrada em meus domínios (mija em tudo que é sítio!), ainda assim aprecio e alimento sua felina independência; mas no quintal - é, para mim, uma opção sempre preferível à castração. ;)
Quanto ao tal apontamento do Almada, julguei mesmo, ingenuamente, que se estava a referir a algo específico, porque faz todo o sentido, e por isso, mesmo sem procurar, ele há-de aparecer...
Espero que você mesmo entenda a sua cabalística.
Deixo-lhe então o prazer da procura.
Cumprimentos.
Os meus mistérios montam sobretudo cavalos, embora não diga que dessas cabalas não beberei.
De qualquer modo, obrigado pela solicitude.
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