“O principal problema da oposição à direita ao actual Governo é que tem medo de ser oposição. Ou, para ser mais rigoroso: não é capaz de ser oposição porque aquilo que a diferencia do partido no poder são detalhes.”
(...)
“Ao contrário do que muitas vezes se sugere, este aparente “consenso” não é saudável numa democracia aberta. Porquê? Porque sem pluralismo verdadeiro, e não artificial ou “clubístico” sem real competição entre ideias e modelos diferentes (e não apenas entre soluções técnicas rivais), falta aos cidadãos a possibilidade de escolher não apenas entre líderes diferentes, mas entre políticos diferentes.”
(...)
“Do Portugal, Que Futuro? ao Compromisso Portugal, a maioria destes movimentos esgotam-se quando os seus protagonistas chegam ao Poder”
(...)
“Não temos nada que se assemelhe a um think-thank americano ou a tantos centros de estudos, fundações ou departamentos universitários que, por essa Europa fora, são capazes de alimentar correntes de opinião diferenciadas e ajudar os políticos a serem... diferentes.”
José Manuel Fernandes
Público, 26 de Março de 2008
Se as diferenças entre PS e PSD são meramente “fulânicas” e se apenas a suposta competência para aplicar a mesma política distingue os dois partidos de poder em Portugal, então o sistema democrático só se pode salvar se... estes deixarem de serem alternantes na partilha do Governo da República. A semelhança de políticas, objectivos e princípios é agora especialmente flagrante já que o PS de José Sócrates bandeou claramente à direita, e que o PSD tem um dos líderes mais inseguros e hesitantes da sua história, mas a semelhança destes gémeos esvazia o sistema político e abre margem à aparição de novos projectos.
Entre um sistema cada vez mais personalizado e cada vez menos politizado, em que os partidos e os políticos são cada vez mais tecnocratas cegos que se limitam a aplicar o melhor que podem políticas definidas algures fora do país, nasce espaço para que surjam projectos e ideias verdadeiramente alternativas. E são precisamente porque estas não têm surgido e porque existe esta indistinção entre os dois partidos que se vão alternando no Poder que se registam em Portugal níveis de abstenção crescentes e que começam a ser tão elevados que estão a ameaçar a própria existência do sistema democrático. Urge portanto aproveitar as energias que existem na sociedade portuguesa e que o fenómeno das petições virtuais deixa adivinhar, encontrar novas formas de participação na sociedade civil que potenciem estas energias e que... se criem as condições para o esgotado sistema bi-partidário que – de facto – nos vai regendo desde 1975 desapareça e surja uma nova democracia mais pluralista, descentralizada e participada.
7 comentários:
Bravo! Ele pôs mesmo o dedo na ferida e indicou o que é preciso ser feito.
Que tal o MIL tomar a iniciativa e mobilizar recursos intelectuais e financeiros para criar um "think tank" desse género, que faz tanta falta?
É uma boa ideia...
Mas carece de...
guita
(pagar salas de conferência, conferencistas, publicidade, etc)
os tipos dos movimentos aqui citados têm-na (são empresários), mas nós no MIL...
Eu poria este projecto na lista, mas buscaria por enquanto outros de alcance mais imediato...
Algo a debater, contudo!
Ups! Não foi este senhor que fez uma defesa acérrima da invasão do Iraque pelos EUA? Será que tal como o Sr. Presidente da UE Durão Barroso, também ele se sente enganado pelas falsas imagens com que os americanos justificaram a necessidade de destruição de um país? Não me lembro de ver nenhuma declaração pública sua neste sentido.
Todos temos direito a asneirar... eu pelo menos rogo-me tal direito!
Não é por ter errado redondamente nessa questão que a partir daí tudo o que diz é uma imbecilidade.
E neste concreto, acho que avalia bem o problema.
Não pode haver discussão (mas somente desconversa) quando se embaralha ideias e conceitos, ou se toma os nomes por conteúdos o que é manipulação.
O que distingue os partidos são as suas políticas e as suas práticas e não as suas siglas. Qualquer análise, mesmo ao de leve que seja, revelará sem erro, que o PS no campo económico e social, aplica esforçadamente os modelos neoliberais, portanto da ultra direita moderna (moderna por ser destituída de quaisquer valores que não sejam o dinheiro). No campo estritamente político as suas práticas são pró-fascistas (atribuindo aqui o significado corrente e popular de fascismo).
Na verdade, as diferenças entre o PS, PSD e CDS são unicamente de interesses económicos e nada mais. Todos eles são da direitíssima embora escondidos por detrás de um sistema eleitoral viciado que lhes confere poder absoluto de quatro em quatro anos. Recorde-se que as cortes se reunião anualmente e que nelas o próprio rei podia ser posto em causa bem como as suas políticas.
Quanto a qualquer um poder asneirar e “prontos”, claro que pode, mas existem tribunais para julgar as asneiras. E se não há deviam existir tribunais (espero que venham a existir) para julgar as asneiras que carregam às costas (ou ajudaram a carregar) centenas de milhares de mortos, de todas as idades, de velhos a crianças que sorriam, iam às escolas e brincavam nas ruas como as nossas.
Respeitemos, ou menos, a memória das vítimas.
A pessoa em questão sabe o que diz e o que quer dizer
Relativamente ao "guito", com esforco e paciencia para preencher candidaturas a fundos e mobilizar os recursos humanos do MIL conseguiremos o que necessitamos.
Obviamente que tem de ser um projecto a medio prazo.
Podemos falar disto em conjunto quando eu chegar ai?
Muito bem Marques de Almeida
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