Muito cedo conheci Carlos Carranca, era ele finalista do liceu,
enquanto eu, mais velho, iniciava o estágio de medicina. A fibra dos Carrancas
já me era familiar quando, no embrião do PS, de Coimbra, deparei com um jovem
diferente dos demais. Ir à Lousã e não visitar José Carranca Redondo, e provar
o Licor Beirão, era como ir a Roma e não ver o papa. Também aquele jovem se
destacava pelo seu vozeirão contagiante, por um olhar firme com que aspergia
afetos, pela incontida sede de saberes e, sobretudo, pela sua total entrega às
causas em que acreditava. Daí, a ter concluído facilmente: este miúdo vai
longe!
Não falhei. Muitos anos mais tarde, comentando a “grande festa”
que foi a sua vida, Eugénio Lisboa havia de sublinhar: Carranca dava-se por inteiro, com gosto, com
energia e com uma impressionante alegria de viver. E até
na fase terminal dessa “festa”, recusando desaparecer em silêncio por “doença
arrastada”, como é “tradição” entre os portugueses, Carlos Carranca fez questão
de nos proporcionar um assinalável conjunto de textos e fotos, que pintam de
forma magistral a sua personalidade única. Como não me sentir tocado por uma
das suas últimas citações, esta retirada de Ernest Hemingway? - Quem estará nas trincheiras a teu lado? – E
isso importa? – Mais do que a própria guerra.
EVOCANDO CARLOS CARRANCA (1957-2019)
Cândido Ferreira