OPÚSCULO SELECTO PARA UMA ESPIRITUALIDADE LUSITANA:
DA DEUSA ATLÂNTICA OU UMA EXORTAÇÃO AO ESPÍRITO LUSITANO
Joaquim Pinto
“A saudade é
Deusa atlântica, não mediterrânea. Os Iberos são atlânticos, esses refugiados
do Cataclismo que submergiu o célebre continente, se a Deusa mediterrânea é
branca de mármore, em fundo azul, a Deusa atlântica é sentimental e enevoada, e
tem, como as Nébulas, a milhões de anos-luz, (…) o quer que é de fabuloso. Mas
o fabuloso está na nossa intimidade; e assim vivemos em pleno Reino da Fábula,
que nós somos antes de ser e depois de ser, ou ausentes no passado e no futuro,
na lembrança e na esperança. Apenas somos presentes nos braços da nossa mãe.”[1]
À amizade entre
Teixeira de Pascoaes e o lusófilo
Philéas Lebesgue[2]
[1] Teixeira de Pascoaes, “Da Saudade (1952) ”, in A Saudade e O Saudosismo (Dispersos e
Opúsculos), Assírio & Alvim, fixação do texto e notas de Pinharanda
Gomes, Lisboa, 1988 p. 246
[2] Colaborador assíduo na revista A Águia, razão pela qual o autor deste artigo considera merecida,
justificada e em lugar adequado esta humilde invocação, Philéas Lebesgue foi
considerado como o maior lusófilo da tradição filosófico-cultural lusitana.
Para além disso, não é demais salientar que foi por via da sua direção na
conceituada Mercure de France, na
qual publicou os mais renomeados autores da Renascença Portuguesa, que o
pensamento português ampliou as suas fronteiras. Assumido adorador de Dante,
Hugo e Virgílio, podemos caracterizar o seu pensamento como uma Filosofia
Essencial, Humanista e Surrealista que preconiza o homem, na sua
individualidade e, em associação, em povo, como ressonância do Verbo: língua,
símbolo e poesia, e que é por via da história que se revela o homem a si mesmo.
Cf. Philéas Lebesgue, Mes Semailles,
Bensaçon, L´Amitié Par le Livre, 1979, p. 271 e 279.