Nos seus estudos sobre
David Hume, ocupou-se principalmente dos problemas da indução e da causação,
entendendo a indução do ponto de vista das inferências causais, do raciocínio
lógico causal, e não tanto das relações observáveis entre os objetos e suas
qualidades; aliás, prova disso mesmo é, segundo Hume, a nossa capacidade de
antecipar relações causais antes mesmo da observação dos fenómenos. Na mesma
esteira, concebe o hábito como uma construção teórica que não se manifesta
sempre que um fenómeno é observado, isto é, a observação dos fenómenos não é
confrontada sempre com outros fenómenos já observados, pois que o hábito é,
como princípio, inato, e possibilita uma construção teórica sobre possíveis
causas ainda não observadas, não sendo por isso um princípio puramente
empírico. Para João Paulo Monteiro, o conhecimento em David Hume refere-se aos
fenómenos observáveis; no entanto, as causas e os efeitos observados só o são
assim considerados porque há um mecanismo ou princípio da natureza humana que
identifica uma regularidade nos fenómenos que os próprios fenómenos não dão à
observação. É a clássica questão dos “poderes ocultos” que agem no mundo dos
fenómenos entre aquilo que consideramos ser a causa e o efeito – veja-se a
questão da gravidade em Newton e David Hume. Tal pressuposto coloca o nosso
autor ao lado daqueles que consideram David Hume um realista em termos
ontológicos, embora cético moderado em termos gnosiológicos, não obstante e ao
contrário de outras leituras, a tarefa a que o filósofo escocês se determinou
empreender, isto é, compreender a natureza humana numa tentativa de introdução do método experimental em assuntos morais,
conduziu-o claramente à identificação dos princípios que dirigem as operações
da mente com aqueles princípios que podemos observar na relação dos fenómenos
no mundo exterior à mente.
João Paulo Monteiro
faleceu no dia dezassete de abril deste ano de dois mil e dezasseis. A sua obra
e o seu legado certamente perdurarão nos estudos humianos de língua portuguesa (excerto).