A
primeira voz lírica verdadeiramente significativa surgida em Moçambique foi a
de Rui de Noronha (1909-1943), filho de pai goês e mãe africana, precocemente
falecido e cuja obra só viria a ser publicada, embora parcialmente, após a sua morte e
apenas há meia dúzia de anos objecto de uma criteriosa edição crítica integral.
Escritos entre 1930 e 1941 e em grande parte publicados na imprensa
periódica laurentina, os poemas do malogrado poeta são, maioritariamente,
constituídos por sonetos, de recorte anteriano e, formalmente, de assinalável
inspiração parnasiana, em que se exprime uma dimensão metafísica de índole
pessimista e em que perpassam dramáticas e vívidas interrogações sobre a dor e
o mal, o sentido da vida, a existência de Deus ou o problema da imortalidade
pessoal e se exprime a solidão do poeta, a nostalgia da fé da infância, a
saudade de amores frustrados ou perdidos ou um ironia triste e desencantada e
em que a morte surge como algo libertador do mal, do sofrimento ou do sem
sentido da existência.
(excerto)