Cinco
se afigura serem as linhas reflexivas que caracterizam o pensamento ético português
contemporâneo: a de matriz neo-tomista, desenvolvida, na Faculdade de Filosofia
de Braga, por Lúcio Craveiro da Silva (1914-2008) e Roque Cabral (1929), a
neo-utilitarista, em que se destacam Edmundo Curvelo (1913-1955) e, sobretudo,
Mário Sottomayor Cardia (1941-2006), a que parte da fenomenologia, cujo máximo
expoente foi Eduardo Abranches de Soveral (1927-2003), a que se inspira no
pensamento existencial, de que a recente Ética
(2010) de Luís Araújo (1946) é o melhor exemplo e a de cariz dialéctico, que
encontrou no pensamento filosófico de António José de Brito (1927-2013) a sua
mais acabada expressão.
Figura
destacada da geração pensante que começou a afirmar-se na década de 50 do
século findo, ao lado de especulativos como Afonso Botelho (1919-1996), Orlando
Vitorino (1922-2003), António Quadros (1923-1993), Eduardo Lourenço (1923),
José Enes (1924-2013), Eduardo Abranches de Soveral ou António Telmo
(1927-2010), o portuense António José de Brito, falecido em 21 de Setembro
passado, legou-nos uma obra especulativa de invulgar vigor reflexivo, coerência
interna e rigor conceitual, em que, a par da noção principial de insuperável, da conceituação da
dialéctica, de um exigente conceito de razão e de uma aturada defesa do
idealismo, em estreito diálogo crítico com o realismo gnosiológico de A.
Miranda Barbosa (1916-1973), ocupa lugar fundamental a problemática ética, filosófico-jurídica
e filosófico-política, que soube abordar, sempre, com corajosa independência
intelectual e rara capacidade argumentativa.
No que à reflexão ética diz respeito, além de ter constituído o tema do
relatório que apresentou, em 1986, para as provas de agregação em Filosofia e
onde se acha a mais acabada sistematização que dela nos deixou, texto que,
infelizmente, permanece inédito, foi objecto de diversos ensaios, estudos e
artigos, reunidos em vários dos seus livros, desde os juvenis Estudos de Filosofia (1962) até ao Esboço
de uma Filosofia Dialéctica (2005), amadurecida síntese do seu sistema de
pensamento (...)(excerto)