Assim como assim, a importância fundadora do saudosismo poético é uma das
linhas de força que do nosso ponto de vista justifica aquela incómoda e
pessoalíssima apreciação que Mário Cesariny fez em 1972, sessenta anos depois
do primeiro manifesto do saudosismo, considerando Teixeira de Pascoaes um poeta bem mais importante que Fernando Pessoa,
e que justificaria só por si, neste centenário, caso houvesse audácia de
abandonar o ramerrão conceptual, uma atenção cuidada, que fizesse justiça, à
situação do saudosismo no campo poético português do século XX e uma homenagem
muito especial ao seu criador, Teixeira de Pascoaes, credor de toda a grande
poesia que se lhe seguiu.
Como a rotina dos lugares comuns é superiormente cómoda e a verdade demasiado
audaz para consciências anestesiadas, o saudosismo e o seu criador serão
decerto esquecidos neste ano de 2012 por aqueles que tinham obrigação de o
lembrar e preitear. As fanfarras, os foguetes e os encómios ficam guardados
mais uns tempos; daqui a três anos sairão das arcas. Então, sim, haverá
champagne, brindes, colóquios, comemorações oficiais e até discurso da
presidência da República. Pobre Orpheu,
que vai a enterrar pacóvio.
(excerto)