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DA MEMÓRIA … JOSÉ LANÇA-COELHO
CARLOS QUEIROZ
(28 de OUTUBRO de 1949 – 28 de OUTUBRO de 2009)
60 ANOS APÓS O FALECIMENTO DE UM GRANDE POETA, AMIGO DE FERNANDO PESSOA
De seu nome completo, José Carlos Queiroz Nunes Ribeiro, nasceu em Lisboa, a 5 de Abril de 1907, tendo falecido com apenas quarenta e dois anos de idade, em Paris, a 28 de Outubro de 1949, vítima de um ataque cardíaco.
Poeta, ensaísta e crítico de arte, integrou-se nos movimentos modernistas.
Em 1925, com dezoito anos, publicou os seus primeiros poemas na revista Contemporânea.
Apesar do seu lirismo e da beleza da forma, a sua poesia era de tendência intelectualista, como se pode constatar nos seus livros, de que o primeiro se intitulou Desaparecidos, reeditado postumamente, considerado uma revelação e que o catapultou para lugar de destaque na poesia portuguesa.
Carlos Queiroz teve por parte da crítica o melhor acolhimento e o Secretariado de Propaganda Nacional concedeu-lhe, em 1935, o Prémio Antero de Quental, prémio este que, no ano anterior, fora dado a Fernando Pessoa pela sua Mensagem.
No ano seguinte, 1936, publicou o inesquecível livro Homenagem a Fernando Pessoa, de quem foi amigo e companheiro de publicação nas revistas literárias da época. Diga-se ainda que a sua irmã, Ofélia Queiroz, foi, por duas vezes, a namorada do poeta dos heterónimos.
Relativamente à relação que Queirós teve com Pessoa, David Mourão-Ferreira ao referir-se à poesia do primeiro, afirmou que ela é: “um privilegiadíssimo elo na cadeia que estabelece a ligação entre os poetas do Orpheu (em particular Fernando Pessoa e, nomeadamente, o Pessoa ortónimo) e algumas das camadas que só na segunda metade do século principiaram a manifestar-se”
Como ensaísta, deixou-nos notáveis estudos literários e trabalhos sobre obras de arte, como são os casos paradigmáticos de Paisagens e Monumentos de Portugal, escrito em colaboração com Reis Santos, Paisagens de Portugal que, além da edição portuguesa, também conheceu a francesa e a inglesa, e organizou a Colecção de Arte Portuguesa Hífen.
Foi também crítico de cinema, com o pseudónimo de Rui Casanova.
O seu último livro, Breve Tratado de Não Versificação, 1948, constituiu uma confirmação do seu grande mérito para a poesia.
Grande parte da sua obra ficou dispersa por jornais e revistas literárias. Na verdade, foi colaborador assíduo de notáveis revistas como, a coimbrã Presença, fundada por José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, a Instituto (também de Coimbra), a Variante, a Sudoeste, de Almada Negreiros, e, a Seara Nova, onde publicou um poema dedicado ao escritor e ex-Presidente da República, Manuel Teixeira-Gomes; e director das revistas Litoral (1944/45) e Panorama (esta última editada pelo Secretariado Nacional de Informação, SNI).
Relativamente à Presença, deixou de colaborar nesta revista, quando tomou o partido de Vitorino Nemésio, a que se juntaram Miguel Torga e Paulo Quintela, numa polémica em que os ‘presencistas’ saíram em bloco.
Carlos Queiroz foi, durante muitos anos, funcionário da Emissora Nacional, estação radiofónica onde organizou programas, principalmente consagrados à poesia, à literatura, ao teatro, e à propaganda turística, como a rubrica Conheça a sua Terra.
Opositor à ditadura de Salazar, chegou a ter escondido na sua casa, o antifascista Celestino Soares, que andava fugido à PIDE.
Postumamente, foi publicada a obra Epístola aos Vindouros e Outros Poemas (1990) com um Prefácio do professor e escritor David Mourão- -Ferreira.
Além de escritor, Carlos Queiroz era também um grande leitor, como provam os seus livros todos anotados, sobre os mais diversos assuntos: filosofia, antroposofia e poesia portuguesa, de que preparava uma antologia.
Da sua obra poética, aqui ficam alguns poemas:
DESAPARECIDO
Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar’ceu…»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.
Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.
Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.
Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
- Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar’ceu…»
Eu, o feliz desapar’cido!
In Desaparecido
PROFECIA
Poetas: esperemos com paciência!
Que a Humanidade, um dia, (quase morta,
À míngua d’alma, a Civilização),
Vergada ao peso inglório da ciência,
Há-de vir mendigar à nossa porta
A esmola duma canção!
In Desaparecido
CARTA PARA CIMA
Senhores governantes:
Eu queria saber
Se me deixam ver
- Como via dantes –
Na vida a luzir
Tanta coisa linda.
E, também, se ainda
Poderei sorrir.
E se eu encontrar
Meus velhos amores,
Senhores ditadores
Poderei amar?
Se for proibido,
Então, paciência!
- Faço a continência.
Ponho-me em sentido.
Mas que mal faria?!
(Ah! outra pergunta):
Se não está defunta,
Ainda, a poesia.
E me visitar
- Como vinha dantes –
Senhores governantes:
Poderei cantar?
In Epístola aos Vindouros e Outros Poemas
O AMIGO
(A Fernando Pessoa)
Era bom encontrar o amigo
No Café, onde estava a olhar
Com um gesto elegante e ambíguo
Para o fumo a sumir-se no ar.
A poesia era o tema dilecto
Da conversa que o tempo engolia.
O real, o preciso, o concreto
Nem sabiam que a gente existia.
Nada era por nós maculado,
Nem um só sentimento era fosco:
Porque havia outra luz, outro lado,
E o mistério morava connosco.
Tudo isto foi antes de Orfeu
Ter levado o encanto consigo.
Esse amigo está vivo - e morreu.
(E de mim, que dirá esse amigo?)
in Epístola aos Vindouros
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".
Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
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