O império das ideias é uma velha ideia de intelectuais e filósofos, convicção optimista de que o pensamento regula os processos do mundo e o ordena. Após o concerto metafísico, contudo, coloca-se um tremendo problema de ordem prática. Toda a metafísica teria sido uma charada culta num clube privado de senhores ilustres, não tivessem os filósofos gregos deixado uma herança de fundo comprometimento moral e político: mais do que explicar a natureza e o mundo, sonharam com uma sociedade fundada em leis racionais e tentaram salvar do declínio a civilização de que foram contemporâneos... pequenas cidades-estado, cujo mecanismo de gestão colocaríamos hoje em paralelo com o de uma qualquer câmara municipal.
A democracia serviu bem Atenas, mas tornou-se uma mera utopia referencial (que, quanto muito, mediaria as relações de civilidade entre homens livres) para a Roma expansionista, a caminho de se tornar o império mais importante da história da humanidade. Não basta as ideias serem razoáveis, ou mesmo verdadeiras, quando se passa à sua aplicação prática, é necessário que funcionem.
Um dos maiores mistérios políticos do pós II Grande Guerra é o da durabilidade da democracia. Esta aparente estabilidade de um regime tem sido possível mantendo a crença de que a democracia está realizada se ocorrem eleições, se o cidadão vive na fé de que o Estado lhe concede liberdade e se pode regatear vencimentos. Esta farsa é orquestrada pela manipulação dos media, não a partir de uma directiva porém num dilúvio de informação inútil, em que a propaganda paga a peso de ouro opera num darwinismo social em tudo eugénico, cujo macabro faz sombra a um bom conto de horror. A miragem da «república perfeita», da «Atenas ideal», é de consumo interno. O império foi transferido para um modelo económico expansionista, não só supra nacional mas inimigo dos Estados, que arromba todas as fronteiras, devassa todas as Línguas, deturpa as culturas étnicas e ergue um novo conceito de «cidadão do mundo»: uma espécie de patrício romano vestido à proletário rico, que trocou o Latim e o Grego por mau Inglês, é todos os povos e nenhum e tem por pátria os detritos de linguagem de uma apocalíptica lavagem global, que tudo iguala: homens, bichos, pessegueiros, estrelas e calhaus. O império do lixo.
1 comentário:
Boa reflexão. Gostei.
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