
Para Ricardo Mansur: um corpo irreal inferido pela realidade objetiva.
I
Oh! Fina flor de sexo amamãezado!
O que sangra dos corpos continentais
covardemente justapostos
— ali onde a fúria da genitália solúvel se deixa entornar,
ali onde a saliência de Vênus se deixa penetrar —,
remete o meu tênue canto à inexatidão das órbitas.
Teus auto-falantes de carne anêmica
dizem tudo para quem nem mesmo
sabe de quê se valha.
Brumas enlutadas regurgitam,
levedadas em cheiros-verdes de miragens;
me impõe o espanto dos milhares de soldados
loucoassustados dos fronts mui-globalizados
e esconde e esconde da gélida rendição
seus trôpegos velórios de colisão
e rebeldia – ri do clitóris da garganta.
Indo embora
me lamento a hora. Minha seiva expele
fogo e gemidos... Aprende, a cada suspirar,
que barro e sapato em caligrafia esculpida aos pés
da consciência alimentam a parábola da candura
onde levantes procriam
como móbiles em chamas.
II
Para vós,
que sois a gérbera circunspecta,
vos oferto a exuberância dos testículos encabulados.
Faço-vos isso, porque usais as vestes do instante
que não seduz
e abençoais a crua realidade sadofixada hoje
no bíceps da cidade: porque chocas o meu soluçar,
e desprezas o óvulo da friagem – renegas o poema
à mercê de sua própria loucura
- e amareleces até que ovário da flor seja a um só sopro:
perfume incipiente
e mormaço atroz.
Delirando, aprendo, a cada soslaio,
que o nu da beleza freqüenta a sacristia do verbo,
toma jeito de Deus, incita o orvalho à bebida;
entorna cadinho de glória,
de modo que o seu orgasmo elimine a gordura
das manhas e manhãs dos tempos
oprimidos... Ao menos excite o eterno sussurro
das mãos.
III
Altares em prantos
descansam em mim e os seus ardumes de vidro
cerceiam o perigo.
(A pureza do corte já não é essencial)
Exceto o que ouço grunhir nas favelas,
minuto a minuto, dou ouvido às esquinas:
Decerto se uma certa cerração
escondesse (do segredo) o cobertor e o frio,
talvez um quase-poema (âmago da partida)
corresse meia volta sobre a esfera.
Então os flancos das bocas ocas
jazeriam na tez da saliva
esteticamente encarcerados qual uma tortura de prisioneiro:
- Perímetro nenhum receptaria os beijos que me traem...
- Pluma nenhuma me vestiria de cata-vento
e infinitamente pousaria no óvulo de festim.
Então o barro e o sapato se transformariam em espadas,
em excrementos de dois velhos verdugos
e poriam fim a tudo:
- Como se o ato da mana morte
purificasse os seus mortos redivivos...
- Como se as tumbas velassem fomes não identificadas
e de joelhos, silenciosamente,
guerreassem para alimentar, eternamente,
os seu lutos misteriosos.
IV
Oh! Não, não.
É de assustar amar o medo
e as frias eloqüências dos torpes amplexos.
Desfolhar as laudas belemitas das mangueiras multifacetadas,
é antes (de tudo) masturbação e glamour: acinte da ventania,
pavor e aderência de quem se gala!
De viés, fotografo musculosos olhares
e encho os ouvidos de lubricidade.
Um poema atira-me à luz!
Vivo o sintoma do meu tempo,
e mais que um extraterreno fora do ar,
envelheço ungido e desvivido!
Ai! Comparo-me a um corcel metafísico,
ejaculação de palavras
mediunicamente embevecida qual um mamar
e babar de seios...
Ai! Renovo-me em candeeiros de coitos sem gritos
– que, de armas em punhos,
sarcasticamente sorriem com desdém da aurora
que me mortifixa.
© Benny Franklin
Foto: Daniel Kongos
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