Dedicado à Nova Águia
Portugal é um poeta.
Não um conjunto de pessoas que escrevem uma história. Portugal é uma alma. Um poeta. A história que Portugal escreve nunca aconteceu. Há quem diga que nunca acontecerá.
Portugal não sofre do sindroma de personalidade múltipla: Portugal é, sim, bipolar.
Portugal já foi analisado nos mais subtis divãs e tratado pelos mais rigorosos cientistas. Mas Portugal é ainda poeta. Poeta menor, talvez, em busca da velha inspiração, mas ainda poeta.
Por vezes, Portugal gosta de recordar poemas antigos, folheá-los, decorá-los até. E sempre que o faz, Portugal sente já não ser capaz de compor a beleza de antigamente e resigna-se ao estatuto de poeta decadente. Alegra-o um pouco mais o facto de “poeta decadente” ser uma invenção sua, bela no sentido melancólico do termo, bela. Mas mesmo assim Portugal tem saudade de si mesmo. Saudade. Portugal tornou-se uma rima.
O seu medo é justificado. O Editor já não o elogia, nem tanto acha piada à sua saudade de coitadinho: para ele Portugal é um ex-poeta em fase de negação e nem sequer percebeu que hoje os poemas já nem se escrevem com pena. Portugal sente-se obsoleto. Não poeticamente obsoleto: verdadeiramente obsoleto.
Portugal era um poeta.
Primatologista
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