99 Cent Store, Andreas Gursky, 1999
Ditadura, sim. Um Império se erga acima do formigueiro de corruptas urbes, das vias rápidas sem destino, das pontes quebradas pelo lixo, das muitas casas, queimadas e escuras, das muitas gentes, robóticas e sem fala. Erga-se, defenda-se, alastre-se, um fogo do espírito, uma lei acima das leis, um costume acima dos costumes, uma justiça acima das justiças, uma assembleia universal igual para todos, iguais no assento da palavra. «Nada farei, ó César, para te agradar, / Nem me interessa se és branco ou preto.»*. O mesmo direi de cada um de vós. Que comeis. Onde, quando. A que deus ou deuses rezais. Ou a nenhum. Que fazeis na cama. Com quem. Que fazeis na casa. Como vestis. Com que entretenimentos ocupais o tempo vosso. A ditadura é o Império, despreza-vos nas vossas diferenças, em todas aquelas pequenas inutilidades onde julgais que acontece a vossa vida, isso é folclore humano, isso é merda, um caos de emoções envolvido em pratas e púrpuras. A lei do Império é universal, só reconhece indivíduos nos atributos comuns da sua humanidade; perante o Império são calados os vossos deuses e o vosso ganir de matilha, as identidades medíocres que julgais acima das dos outros, os vossos tiques de pertença, que quereríeis, megalomanamente, supremos, mas que mais não são que a súmula patológica das vossas insuficiências e mediocridades e vilezas. Nada sois de vosso perante o Império, porque o Império não vos reconhece a propriedade sobre nada que seja a humanidade, sobre nada que pertença a todos, sobre nada que seja a civilização no seu progresso futuro e imparável, sobre nada que seja a manifestação suprema da liberdade como motor da História.
A civilização é a casa da humanidade. O Império, a sua assembleia única. A ditadura, a sua guardiã. Um Rei, o seu autor.
Klatuu Niktos
* XCIII
Nil nimium studeo, Caesar, tibi velle placere,
nec scire utrum sis albus an ater homo.
Gaius Valerius Catullus, poeta do Império Romano, 87 a.C. – 54 a.C.
Ditadura, sim. Um Império se erga acima do formigueiro de corruptas urbes, das vias rápidas sem destino, das pontes quebradas pelo lixo, das muitas casas, queimadas e escuras, das muitas gentes, robóticas e sem fala. Erga-se, defenda-se, alastre-se, um fogo do espírito, uma lei acima das leis, um costume acima dos costumes, uma justiça acima das justiças, uma assembleia universal igual para todos, iguais no assento da palavra. «Nada farei, ó César, para te agradar, / Nem me interessa se és branco ou preto.»*. O mesmo direi de cada um de vós. Que comeis. Onde, quando. A que deus ou deuses rezais. Ou a nenhum. Que fazeis na cama. Com quem. Que fazeis na casa. Como vestis. Com que entretenimentos ocupais o tempo vosso. A ditadura é o Império, despreza-vos nas vossas diferenças, em todas aquelas pequenas inutilidades onde julgais que acontece a vossa vida, isso é folclore humano, isso é merda, um caos de emoções envolvido em pratas e púrpuras. A lei do Império é universal, só reconhece indivíduos nos atributos comuns da sua humanidade; perante o Império são calados os vossos deuses e o vosso ganir de matilha, as identidades medíocres que julgais acima das dos outros, os vossos tiques de pertença, que quereríeis, megalomanamente, supremos, mas que mais não são que a súmula patológica das vossas insuficiências e mediocridades e vilezas. Nada sois de vosso perante o Império, porque o Império não vos reconhece a propriedade sobre nada que seja a humanidade, sobre nada que pertença a todos, sobre nada que seja a civilização no seu progresso futuro e imparável, sobre nada que seja a manifestação suprema da liberdade como motor da História.
A civilização é a casa da humanidade. O Império, a sua assembleia única. A ditadura, a sua guardiã. Um Rei, o seu autor.
Klatuu Niktos
* XCIII
Nil nimium studeo, Caesar, tibi velle placere,
nec scire utrum sis albus an ater homo.
Gaius Valerius Catullus, poeta do Império Romano, 87 a.C. – 54 a.C.
9 comentários:
Excelente texto, Klatuu.
Oxalá todos o leiam com olhos de ler:)
E quem é esse Rei? Este texto, sem mais explicações, é um atentado ao espírito do MIL! A legitimidade de se publicarem aqui atrocidades destas é que se deveria discutir!
Olhe, nem merece resposta. Procure o auxílio de algum templo, eu nunca estive disponível para iluminar pobres de espírito, mesmo que deles venha a ser o «reino dos céus».
Cumprimentos, amiga Andorinha, e obrigado pela MILitância.
Muita falta de cultura política há por aqui. Encontro neste texto muitos dos ideais da revolução francesa na sua fase mais tardia. Espero continuação e vou pensar.
Se fosse só falta de cultura política... estaríamos bem.
Vai ter continuação, claro.
P. S. Seria importante que os MILitantes começassem a assumir posições, e a usar menos a possibilidade, que qualquer membro deste blogue tem (por determinação do interface do blogger), de fazer «comentários anónimos» que escapam à moderação.
Cumprimentos.
Eu confesso que por vezes não percebo se as pessoas não entendem mesmo determinado texto por terem dificuldades de interpretação ou se fazem propositadamente que não entendem, servindo isso então como provocação.
Enfim, em qualquer dos casos...pobres de espírito.
Alguns de propósito... Mas no caso acima é mesmo reincidente estupidez crónica.
"A ditadura é o Império, despreza-vos nas vossas diferenças, em todas aquelas pequenas inutilidades onde julgais que acontece a vossa vida, isso é folclore humano, isso é merda, um caos de emoções envolvido em pratas e púrpuras. A lei do Império é universal, só reconhece indivíduos nos atributos comuns da sua humanidade"
A única imposição desta ditadura é que todas as diferenças são irrelevantes... Quem lê aqui qualquer associação a uma ditadura no sentido fascista, ou parecido, é apenas porque não sabe (te) ler... Não há aqui qualquer possiblidade de dupla interpretação.
Abraço
Viva El Rey
Viva Portugal
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