CORONAVÍRUS,
SOCIEDADE E DIREITO: QUESTÕES DE MORTE E DE VIDA
Paulo Ferreira da Cunha
Não será, decerto, por conhecermos muitas pessoas, nem
sequer pela virulência específica do Coronavírus, peste do nosso tempo: mas, já
de há alguns anos a esta parte (antes mesmo da eclosão da pandemia), temos a
sensação, muito vívida, e muito amarga e triste, de que o nosso mundo dos vivos
anda a ser ceifado de grandes figuras, de excelentes pessoas, e, para nós,
também de bons amigos.
Não confundamos as coisas, que não queremos que pareça
o que não é: não fomos amigo pessoal de muitos desses grandes nomes, longe
disso. Alguns conhecemos, é verdade. Com mais ou menos frequência de contacto e
maior ou menor empatia. Duns tantos, chegámos a ser amigo, sim. Não sabemos
quantas das grandes figuras que desapareceram nos últimos anos realmente se
recordariam de nós. Mas isso não interessa, nem para nós nem para os milhares
de pessoas que, certamente, mais longe, ou mais perto (em geral, mais longe),
sentem a falta de figuras centrais, importantes, simbólicas, inspiradoras. Não
pelo seu mediatismo (há imensas figuras mediáticas que ninguém lembrará na
semana seguinte ao seu ocaso – seja por que motivo for). Mas pela sua real
importância. Pelo seu valor. Pelo seu brilho próprio, e não emprestado pelas
luzes da ribalta.
Em relação a algumas dessas pessoas, o golpe foi tão
profundo, tão certeiro, que mesmo com a idade que levamos, nos sentimos sem
chão e sem norte...