Em tempos de pandemia, mudam palavras e coisas[1]. Como
é sabido, a ligação entre a Palavra, a reta e adequada palavra, e o bom governo
foi, desde logo, estabelecida por Confúcio. Perguntado qual a primeira coisa
que faria se lhe fosse confiado o Governo, declarou que primeiro curaria de
“retificar a linguagem”[2].
Grande sabedoria há nessas palavras e nesse projeto, hoje ingentíssimo, porquanto
a linguagem se abastarda, e mesmo os meios de comunicação social, que a poderia
tentar endireitar, promovendo na sociedade uma sã imitação[3],
resvalam frequentemente para o esquecimento das regras e a adoção de modismos
de mau gosto e um laxismo despreocupado com a sacralidade da Palavra. Os
malefícios de palavras inadequadas, mal pensadas, impróprias, vão corroendo as
mentes...
(excerto)
[1] Alusão, evidentemente ao clássico de FOUCAULT, Michel — Les mots et les choses, Paris,
Gallimard, 1966.
[2] CONFÚCIO — Lun-yu, ou Analectos,
XIII, 3. Cf., v.g., CONFUCIUS — Entretiens de..., trad. do chinês
de Anne Cheng, Seuil, 1981, p. 102 Comentários, v.g. in LEYS, Simon
(dossier coordenado por Minh Tran Huy) — De -551 à Aujourd'hui. Confucius
les voies de la sagesse, in "Le Magazine Littéraire",
novembro de 2009, n.° 491, p. 66. CHENG, Anne — Histoire de la Pensée
Chinoise, Paris, Seuil, 1997, pp. 82 ss..
[3] DE TARDE, Gabriel — Les Lois de l'imitation, Paris, 1895, trad.
port., As Leis da Imitação, Porto,
Rés, s/d..