DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO
São diversos os republicanos – mulheres e homens – que, tendo participado no 5 de Outubro de 1910, com acções decisivas, se encontram esquecidos pela grande maioria das pessoas.
Está neste caso, Artur Augusto Duarte Luz de Almeida, nascido em Alenquer, no ano de 1867, filho de um regente escolar, que viria a diplomar-se em Lisboa no curso de Bibliotecário e Arquivista.
Enquanto estudante, Luz Almeida filiara-se na Maçonaria Académica, fundando a Loja Montanha, local onde mais tarde nasceria a Carbonária Portuguesa, quando as ‘lojas’ passaram a ‘choças’.
Vivendo na freguesia lisboeta de S. Vicente de Fora, Luz Almeida tornou-se o director da biblioteca da Rua do Saco, deambulando pela cidade, procurando arregimentar activamente cidadãos para a sua luta clandestina, nomeadamente, no Rossio, em pleno Café Gelo – que mais tarde, por volta do final dos anos quarenta, princípio dos cinquenta do século XX, se tornaria o poiso do movimento surrealista – jovens activos e empenhados na mudança da estrutura da sociedade, principalmente alunos militares.
Os seus contemporâneos descrevem-no do seguinte modo: sempre vestido de negro, com um grande lenço a cobrir-lhe o peito e a gaforinha negra do revolucionário.
A obra de aliciamento para a Carbonária, executada por Luz Afonso, foi uma das traves-mestras para a implantação da República, como o provam os quarenta mil membros existentes nas vésperas da revolução, bem treinados em pontaria na carreira de tiro de Alcântara.
Entre os angariados por Luz Almeida, contam-se personalidades como, o escritor Aquilino Ribeiro, o oficial da Armada Machado Santos, um dos heróis da Rotunda, e, o almirante Cândido dos Reis que, num acto de desespero, se suicidaria na véspera do golpe de 5 de Outubro de 1910 por julgar tudo perdido.
Apesar do escol anunciado, a Carbonária caracterizava-se por, ao contrário da Maçonaria, concentrar entre os seus membros cidadãos de baixa categoria social, como operários e militares de baixa patente, ao mesmo tempo que, sobrevalorizava a luta armada.
Luz Almeida não se limitava à capital, deambulando por todo o país na captação de membros para a sua causa.
A 28 de Janeiro de 1908, três dias antes do Regicídio, participou no golpe falhado conhecido historicamente por ‘Janeirada’, tendo ido parar à cadeia.
Em Outubro do ano seguinte, já em liberdade, é acusado de ter morto, em Cascais, mais precisamente no local conhecido por Boca do Inferno, um apaniguado seu que, ameaçava denunciar todos os seus camaradas à polícia. Embora inocente, Luz Almeida é metido quase à força, pelos seus amigos, dentro de um carro que o conduzirá a Paris.
Voltando a Portugal, já depois do 5 de Outubro de 1910, continua a trabalhar na biblioteca da Rua do Saco, sendo eleito deputado no ano seguinte. Porém, não aceita esse cargo, preferindo rumar ao Norte, com o objectivo de combater as incursões monárquicas.
Em 1913, com o progressivo desagregamento e, consequente desaparecimento da Carbonária, Luz de Almeida dedica-se ao seu novo cargo, o de inspector das bibliotecas populares e móveis, no entanto, não abandona em definitivo a sua luta, sendo inclusivamente preso no governo liderado por Sidónio Pais.
De novo em liberdade, tenta a fundação de nova organização secreta, porém, sem qualquer êxito. Perseguido, passa mais uma vez à clandestinidade, até que morre em Lisboa, no ano de 1939.