A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 25 de junho de 2010

EU E SARAMAGO

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DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO



O título deste escrito parece pretensioso, porém, não é essa a minha intenção, mas sim, contar os diversos episódios que constituem a relação estabelecida entre mim e o grande escritor agora desaparecido.
Comecei a ler a obra de Saramago (1922-2010) pelo Memorial do Convento (1982) e, apesar, de não estar habituado àquela escrita sem vírgulas, entrei no tipo inovador da narrativa do escritor. Pouco depois, li Levantado do Chão (1980), livro passado no Alentejo anterior ao 25 de Abril de 1974, e este livro agarrou-me extraordinariamente, uma vez que, muitos dos detalhes descritos acerca da luta dos assalariados rurais por um pouco mais de pão, coincidiam com as verídicas histórias bejenses contadas pelo meu pai, natural da capital do Baixo Alentejo, sobre o sofrimento do povo que, encostado à parede, como escravo medieval, esperava ser escolhido para trabalhar de sol a sol, durante as épocas da sementeira e colheita dos cereais, nas herdades dos poderosos, que o afrontava do alto dos seus possantes garanhões.
Seguiram-se outros livros que li com muito agrado como, Deste Mundo e do Outro (1971) – que contém a inesquecível e, talvez a mais bonita crónica da Literatura sobre o amor maternal, quando um menino na escola explica à professora que, no seu desenho, tanto as nuvens como os flocos de neve eram negros, porque tinham sido desenhados no dia em que lhe morrera a mãe -, O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) – sempre o imortal génio de Fernando Pessoa, desta vez retratado num dos mais conhecidos dos seus setenta e sete heterónimos-, A Jangada de Pedra (1986) – a Península Ibérica separou-se da Europa e procura um caminho comum para os dois países que a constituem, Portugal e Espanha -, História do Cerco de Lisboa (1989) – onde um revisor tipográfico, ao rever um livro com o mesmo título, troca um sim por um não, concedendo uma dimensão histórica e social completamente diversa ao livro que tratava -, O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) – um homem, o próprio Jesus Cristo, que, como todos os seus semelhantes, tinha uma vida sexual com a sua mulher Maria Madalena, e que levará Saramago a exilar-se em Lazarote por, hipocritamente, o Secretário de Estado da Cultura da época não autorizar este livro a concorrer a um prémio internacional, por, na opinião de Sua Excelência, o político, ele ofender a tradição católica do povo português (uma polémica com os mesmos contornos como a que se registou o ano passado quando da saída do derradeiro livro de Saramago, Caim (2009).
Deixem-me agora falar um pouco de mim, para se ver como me relaciono com Saramago. Em 1998, publiquei o meu sétimo livro a que chamei 366 Dias da Vida da Humanidade e que tinha como principal objectivo, comemorar diariamente, na minha aula de Português, (e noutras), uma efeméride relativa a um vulto da História humana, escritor, pintor, músico, etc., o seu nascimento, morte, atribuição dum prémio ou outra circunstância, que aumentasse a débil cultura geral dos alunos. Assim, no dia 8 de Outubro de 1998, ao entrar em casa, depois de uma extenuante manhã de aulas, a minha mulher anunciou-me que, Saramago acabava de ganhar o Prémio Nobel da Literatura atribuído anualmente pela Academia Sueca. Fiquei extremamente satisfeito, tanto como português, como homem de Letras, e fui imediatamente à tipografia, onde o livro citado acima estava em provas, substituir o escritor que homenageava neste dia, por o nome do segundo português que ganhava tão importante prémio (o primeiro fora, como se sabe, Egas Moniz que, em 1949, ganhara o Nobel da Medicina, e que tivera a censura do salazarismo por não ser uma ‘persona grata’ ao Estado Novo, tanto mais que fora embaixador e defensor da Iª República).
Mas, a minha relação com Saramago não fica por aqui. Nos anos seguintes, continuei a ler os seus livros mais importantes como, dois volumes dos cinco diários que constituem os Cadernos de Lazarote (1994), Ensaio sobre a Cegueira (1996), Todos os Nomes (1997), O Conto da Ilha Desconhecida (1997) – livro oferecido por um aluno, a quem consegui transmitir o bichinho da leitura -, A Caverna (2000). Até que, em 2001, escrevi uma biografia de José Saramago, para que os alunos conhecessem a vida do escritor, a que chamei O Caso do Estranho Náufrago, jogando com o facto de Saramago se ter exilado na ilha de Lazarote. Meses depois do livro sair, aconselhado por um amigo, Miguel Real, que, também já escrevera um livro sobre a obra de Saramago, acabei por mandar o meu livro para Lazarote, para a morada do nobelizado, que me foi dada pela colega de escrita e de magistério, Ana Maria Magalhães. Passaram-se quatro meses, e quando eu já pensava que não haveria resposta à minha missiva, ela chegou, dactilografada, e assinada pela mão do escritor. Saramago agradecia-me o livro e, como o meu endereço é Carnaxide, confessava que anos atrás, quando os prédios altos ainda não se tinham expandido, andara muito por aqui, e também em Linda-a-Velha, em bailes populares. Claro que guardo esta carta entre os mais preciosos documentos do meu espólio! À alegria de receber a carta, juntei meses depois, a felicidade de ver o meu livro, via Net, entre os títulos que constituem a biblioteca da Fundação José Saramago no núcleo de Lazarote.
Em 2004, saiu Ensaio sobre a Lucidez, critica política às democracias, onde, todos os eleitores votam em branco, quando chamados às urnas. Saramago lançou este livro na antiga Feira das Indústrias à Junqueira, local onde me desloquei para o ouvir e (veleidade de um idealista) para falar com ele. Compareceram milhares de pessoas e, as minhas intenções goraram-se. Porém, meses depois, Saramago, que fez uma enorme campanha de lançamento do livro, deslocou-se à biblioteca de Beja, que tem o seu nome. Disse para mim mesmo, “na cidade de nascimento do meu pai, é que vou falar com ele!”. Quando o escritor entrou, já eu lá estava, sentado na primeira fila, e como a palestra ainda demorava, levantei-me, dirigi-me a ele de carta na mão e perguntei-lhe, “Conhece isto?”. Saramago agarrou-a, passou-lhe os olhos e, laconicamente, respondeu-me, “Sim”. Como não me disse mais nada, refugiando-se num mutismo com que era costume defender-se, fiquei completamente desarmado e apenas tive voz para dizer: “Sou a pessoa que escrevi o livro. Muito prazer”. Ele respondeu, “Muito prazer.” Não dizendo mais nada. E ficou por aqui, a minha relação com o escritor agora desaparecido.