A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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sexta-feira, 10 de setembro de 2010
1810 – 2010 : 2º CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALEXANDRE HERCULANO
DA MEMÓRIA… JOSÉ LANÇA-COELHO
1810 – 2010 : 2º CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE ALEXANDRE HERCULANO
“ Não tem título honorífico, condecoração ou distinção alguma e espera em Deus que nunca as terá.” – Alexandre Herculano, in jornal A Nação de 22 de Setembro de 1877.
“ [Um homem que] tinha o egoísmo da sua honestidade, da sua virtude.” – Ariosto da Silva.
“ (…) algumas leiras próprias, umas botas grosseiras e um chapéu de Braga [ é tudo o que preciso para ser feliz).” – Alexandre Herculano em confissão ao seu amigo Almeida Garrett.
Se quiséssemos definir Alexandre Herculano, cujo segundo centenário do nascimento se comemora no presente ano de 2010, as frases transcritas acima, cumpririam bem essa finalidade, pois nelas se encontra tudo o que o Homem, de quem iremos de seguida traçar o perfil, desejava para si.
O cidadão Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nasceu em Lisboa, no Pátio do Gil, Rua de S. Bento, a 28 de Março de 1810, filho de Maria do Carmo de São Boaventura e de Teodoro Cândido de Araújo, recebedor da Junta dos Juros.
Estuda Humanidades nas aulas dos padres dos oratorianos dos Congregados de São Filipe Néri preparando-se para ingressar na Universidade, o que não sucede devido a cegueira contraída pelo pai, facto que empurra este último para a aposentação no ano de 1827.
Alexandre Herculano vê-se então forçado a seguir um curso prático de Comércio, onde estuda Diplomática (Paleografia) na Torre do Tombo e línguas, francês, inglês e alemão.
Entre 1827-1828 manifesta-se já a sua vocação literária, lendo autores românticos, nomeadamente, os alemães Schiller (1759-1805), Burger e Klopstock (1724-1803), e os franceses Lamennais (1782-1854), Casimir Delavigne (1793-1843), Chateaubriand (1768-1848), Lamartine (1790-1869) e Vigny (1797-1863), escrevendo poesia, travando conhecimento com poetas da estatura dum António Feliciano de Castilho (1800-1875) cuja tertúlia frequenta, bem como a Marquesa de Alorna (1750-1839), que homenageará, em 1844, num artigo publicado em O Panorama, onde a consagra como a «Madame de Stael (1766-1817) portuguesa».
As suas convicções liberais obrigam-no, no ano de 1831, a exilar-se, devido a ter participado na conspiração de 21 de Agosto, - revolta do regimento de Cavalaria 4, em Lisboa -, contra o regime absolutista de D. Miguel (1802-1866). O seu périplo começa por Inglaterra, primeiro em Plymouth, depois em cidades de província como, Stone House e Devonport, deslocando-se depois para França, Normandia (Granville), Bretanha (Rennes, cuja biblioteca Herculano frequenta de manhã à noite).
No ano seguinte, 1832, vamos encontrá-lo na ilha Terceira, Açores, onde se junta, como soldado raso, ao contingente liberal organizado por D. Pedro (1798-1834) que vem desembarcar no Mindelo, cercando o Porto, em cuja biblioteca pública trabalha, primeiro, sem descurar as suas obrigações militares, e, depois, em 1833, como segundo-bibliotecário, para além de colaborar no Repositório Literário (1834-1835).
1836 é o ano da Revolução de Setembro, que leva à abolição da «Carta Constitucional», jurada por Herculano, e a consequente reposição da «Constituição de 1822», o que determina que o escritor, fazendo alarde da dignidade que sempre caracterizou a sua existência, se demita do seu cargo e rume a Lisboa, onde publica com extremo êxito A Voz do Profeta (1ª série, 1836; 2ª série, 1837), onde se nota a influência de Lamennais (1782-1854), e que adquire o estatuto de um panfleto político contra a «Revolução Setembrista».
Actuando como jornalista, funda a revista literária O Panorama (1837), órgão de difusão do primeiro romantismo português e de divulgação dos diversos romantismos europeus, ao mesmo tempo que, dirige o Diário do Governo.
Dois anos depois, 1839, o segundo marido da rainha portuguesa D. Maria II (1819-1853), D. Fernando de Saxe-Coburgo Gotha (1816-1885), nomeia Herculano bibliotecário-mor das Bibliotecas Reais da Ajuda e das Necessidades. Influenciado por historiadores como Guizot (1787-1874) e Thierry dedica-se a uma exaustiva pesquisa documental que culminará, em 1842, na publicação das Cartas sobre a História de Portugal na Revista Universal Lisbonense. Este primeiro ensaio originará o volume inicial da sua História de Portugal 1846, que provocará uma violenta polémica com as autoridades clericais, ao negar o aparecimento de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques (1109-1185), antes da batalha de Ourique, além da negação de outras lendas de cariz religioso, e que determinará a produção dos famosos opúsculos Eu e o Clero, e, Solemnia Verba, ambos de 1850.
A sua História de Portugal publicada entre 1846 e 1853, abrange o período compreendido entre a fundação da nacionalidade e a representação dos municípios nas Cortes, no reinado de D. Afonso III (1210-1279).
Não nos adiantemos, e voltemos a 1840, para registar a eleição de Herculano como deputado pelo Partido Cartista, cargo que apenas exercerá durante um ano, pois abandona o Parlamento desiludido com a não implementação do seu projecto sobre ensino popular.
Em 1846, Herculano é eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, instituição de que chegará a ser vice-presidente em 1855. O prestígio do historiador português não cessa de crescer e, assim, tornar-se-á membro da Academia de Turim (1850) e da Academia de História de Madrid (1851).
Em 1850, opondo-se à ditadura de Costa Cabral (1803-1889), Alexandre Herculano assina um documento em que denuncia a “lei da rolha” no respeitante à liberdade de imprensa. No ano seguinte, dá-se a queda de Cabral, com a consequente Regeneração do marechal Saldanha (1790-1876), e Herculano funda o jornal O País. Dois anos depois, é a vez do aparecimento de um outro órgão de comunicação, também fundado por Herculano, O Português, onde se opõe às ideias do governo de Fontes Pereira de Melo (1819-1887) e Rodrigo da Fonseca Magalhães (1787-1858).
Meia dúzia de anos depois, 1856, Herculano e outros apaniguados políticos fundam o Partido Progressista Histórico e, no ano seguinte, o historiador ataca com violência a Concordata com a Santa Sé. Entre 1860 e 1865 participa na redacção do 1º Código Civil Português, e propõe o casamento civil ao religioso, provocando nova acesa polémica com o clero, que se encontra coligida na obra de 1866, Estudos sobre o Casamento Civil.
Fatigado com estas polémicas e desiludido com a vida política, no ano seguinte, retira-se para uma quinta em Vale de Lobos, Azóia, concelho de Santarém, comprada com o dinheiro recebido com a venda dos seus livros. Após o casamento com o grande amor da sua vida, Maria Hermínia Meira, ambos vão viver para o meio da Natureza. Desde cedo, Herculano que, adorava fazer jardinagem, dedica-se então, com grande satisfação à agricultura, em especial à produção de azeite, o melhor do país de acordo com testemunho da época que, comercializa, com a marca «Herculano».
No seu amado retiro, Herculano não abandona a investigação histórica – continuando a trabalhar nos Portugalie Monumenta Histórica, publica o 1º volume dos Opúsculos (1872) –, nem as polémicas em que é ‘obrigado’ a intervir – a famigerada proibição das «Conferências do Casino» -, bem como a correspondência com os vultos literários e políticos seus contemporâneos.
Relativamente à obra literária de Alexandre Herculano, comecemos por analisar a sua poesia, género que foi também o primeiro a que se dedicou, limitada ao período da sua juventude, ao contrário do seu amigo Almeida Garrett (1799-1854), exprimindo um nacionalismo que fundamenta o seu conceito de realismo. Aliás, já que falámos em Garrett, este é o momento ideal para afirmar, sem qualquer dúvida, que, Herculano e Garrett são os introdutores do Romantismo em Portugal.
A narrativa dramática caracteriza quase toda a obra poética de Alexandre Herculano, o que o empurra para a grandiloquência a que são alheios o conteúdo conceptual bem como a originalidade de imagens.
Outra importante característica da poética de Herculano é a oposição entre o campo e a cidade, merecendo-lhe o primeiro, os maiores elogios e, o segundo, as críticas mais negativas. Esta dualidade de carácter moralista encontramo-la, também, na prosa, embora aqui, ela surja com uma notável originalidade no respeitante à adjectivação, como se pode constatar na obra, Eurico, o Presbítero, 1844, com a qual Herculano funda o romance histórico português, seguindo as pegadas do escocês Walter Scott (1771-1832), a que se seguirão dentro do mesmo género literário, O Monge de Cister, 1848; Lendas e Narrativas, 1851; o Bobo, 1843.
Para além da enorme e rigorosa pesquisa histórica, Herculano denota uma consciência romântica, que terá em Antero de Quental o seu expoente máximo.
São as seguintes, as obras principais de Alexandre Herculano:
POESIA:
A Voz do Profeta, 1836; A Harpa do Crente, 1838; Poesias, 1850.
FICÇÃO:
Eurico, o Presbítero, romance, 1844; O Monge de Cister, romance, 1848; Lendas e Narrativas, 1851; O Bobo, romance, 1878; O Pároco da Aldeia, O Galego, novelas, 1973.
HISTÓRIA:
História de Portugal, 1846-1853; História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, 1854-1859.
TEXTOS DIVERSOS:
Estudos sobre o Casamento Civil, 1866; Opúsculos, 1873-1876.
CORRESPONDÊNCIA:
Cartas, 1911-1914; Cartas Inéditas de Alexandre Herculano, 1944; Cartas de Vale de Lobos, 1980-1981.