A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Texto que nos chegou...

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Afonso Rocha

NO CENTENÁRIO DE A ÁGUIA:
QUE PORTUGAL O DA NOVA ÁGUIA?

Ainda hoje, quer o facto de Sampaio (Bruno) não ter pertencido à A Águia e à «Renascença Portuguesa», quer o facto de Raul Proença, Fernando Pessoa, António Sérgio e outros... se terem afastado de tal projecto, não poderá deixar de fazer pensar...
E, a meu ver, quer a atitude de um, quer a atitude de outros, deverá ser tida em tanto mais atenção quanto é possível constatar que a divergência ou afastamento do projecto em apreço não só não foi impeditivo da continuação dum certo relacionamento posterior entre uma parte e outra, como não tolheu que, posteriormente, a generalidade dos que divergiram se servisse uma ou outra vez d’A Águia para escrever um ou outro artigo .
E, porque, como outros, sou dos que valorizam as razões que terão estado na base do procedimento destes homens, também, naturalmente, não foi sem uma certa hesitação que anuí ao convite-pedido que me foi dirigido pela direcção da Nova Águia, para que colaborasse com um artigo neste seu número, de comemoração do centenário d’A Águia.
Obviamente que, ao aceitar o pedido de uma tão honrosa colaboração, também desde logo se apossou de mim a percepção de que, para um esforço de abordagem justa, se imporia entrar em linha de consideração, quer com os aspectos de divergência, quer com os aspectos de convergência, já que, hoje como ontem, sempre foi inquestionável que, entre os dois lados, nunca deixou de se dar uma essencial e comum preocupação... Isto, obviamente, para além duma postura que significasse de forma inequívoca o reconhecimento do mérito das pessoas que corporizam o tão importante projecto da Nova Águia...
Assim sendo, haverá que ter antes de mais em boa nota duas coisas: em primeiro lugar, que todos, quer os que integraram o projecto d’A Águia e da «Renascença Portuguesa», quer os que dissentiram dele ou nem mesmo lhe chegaram a pertencer, foram adeptos da República; em segundo lugar, que todos quiseram a República, mas com a «renascença» de Portugal, ou seja, com um Portugal que, «renascendo» para a sua «alma» e para a sua história, rompesse com a sua situação de país «desnacionalizado» e «estrangeirado».
Só que, sob o aspecto duma posição completamente idêntica, sucedia que, enquanto o projecto d’A Águia e da «Renascença Portuguesa» liderado por Pascoaes significava a expressão dum país que, «para crear uma nova vida» e/ou para fazer «renascer» Portugal para a sua «alma», subsumia que os portugueses teriam que «regressar às fontes originárias» e/ou à «Saudade revelada» , Bruno, Proença, Pessoa, Sérgio e outros... subsumiam que o «renascimento» de Portugal, no âmbito duma inequívoca «renascença» ou recuperação da «alma portuguesa», deveria consistir num projecto pautado por parâmetros de universalismo e de abertura ao exterior, por conseguinte um «renascimento» baseado no universalismo indispensavelmente situado, que tanto guardasse e desenvolvesse a memória histórica do Portugal de Quinhentos como integrasse na actual identidade de Portugal o exterior, o estrangeiro, a Europa e o Mundo.
E o certo é que, enquanto A Águia e/ou a «Renascença Portuguesa», conforme Pascoaes o faz supor no seu projecto de manifesto sobre a «Renascença Portuguesa» e no texto que publica sob o título «Renascença» no número de Janeiro de 1912 (2.ª série) , declaram que a perdição da «alma portuguesa» e/ou a «confusão cahotica» do país se deve às «más influências literárias, politicas e religiosas vindas do estrangeiro [Europa]», de sorte que Portugal, para «poder cumprir o destino que por natureza, nascimento e sangue lhe pertence», não tem outra solução que não seja a de fazer com que «todos os portugueses» «regressem» à sua «realidade essencial» e/ou às «fontes originárias» da «Saudade revelada», em contrapartida, Bruno, Pessoa, Proença, Sérgio e outros..., sem prejuízo de defenderem também um Portugal de identidade «nacional» (na história, no pensamento e na cultura), não deixarão, no entanto, de afirmar com ênfase o carácter imperscriptivelmente aberto, cosmopolita e universal do «Portugal novo» a construir .
De uma tal perspectiva da «Renascença» e do «renascimento» de Portugal, serão por antonomásia expressões, quer Sampaio (Bruno), quer Fernando Pessoa: o primeiro, porque, contestando de forma categórica o carácter histórico, material e pessoal do messianismo português, do messianismo judaico e do messianismo do Quinto Império do padre António Vieira, se apresenta como um defensor inquebrantável do carácter ontologicamente espiritual, impessoal do messianismo e/ou da perspectiva aberta, cosmopolita e universal do Portugal do futuro; o segundo, porque, fazendo supor o questionamento quer do «espírito» «lusitanista» e «saudosista» do messianismo de Pascoaes , quer do carácter histórico-milenarista do messianismo do Quinto Império do padre António Vieira, se apresenta como alguém que, por um lado, concebe e afirma o messianismo do Quinto Império de Portugal em termos substantivamente mítico-simbólicos, e como alguém que, por outro lado, concebe e afirma o messianismo do Quinto Império em termos de um misticismo gnóstico-cristão-pagão, de natureza tão «espiritual» e «universal» como «racional» e «anti-católica», de cuja concepção não só resulta ser impossível subsumir o messianismo do Quinto Império de Pessoa em termos de um «Império» histórico e «português», como até só resulta ser possível subsumir o Quinto Império de Portugal em termos de Quinto Império do Mundo, o mesmo é dizer, como um «imperialismo» místico-messiânico de essência «espiritual», «racional», «anti-católica» e «universal».
Bom, mas se a «renascença» d’A Águia e da «Renascença Portuguesa» hegemonizada por Pascoaes labora nos aludidos pressupostos, então, também não deixará de ser oportuno que se formulem as seguintes questões: primeira, por que razão, quando se escreve ou quando se fala d’A Águia e da «Renascença Portuguesa», se assiste a que, com frequência, mesmo no âmbito da Nova Águia, se refira Bruno, Pascoaes, Leonardo, Cortesão, Proença, Pessoa, Sérgio e outros... como se todos tivessem pertencido, ou todos tivessem pertencido do mesmo modo, à A Águia e à «Renascença Portuguesa»? Segunda, por que razão pretender afirmar que a concepção do Portugal d’A Águia e/ou da «Renascença Portuguesa» é, por exemplo, segundo a interpretação de António Cândido Franco , é a de um país «geo-estrategicamente» europeu e universal, análoga ou mesmo idêntica à de Bruno, Pascoaes, Leonardo, Cortesão, Proença, Pessoa, Sérgio e outros..., como se o ideal destes últimos quanto à «renascença» de Portugal, nomeadamente de Bruno e Pessoa, fosse no essencial o mesmo que A Águia e o movimento da «Renascença Portuguesa», mormente de Pascoaes, consagram?
De resto, se porventura esta segunda questão for considerada como susceptível de suscitar estranheza, nada, a nosso ver, como, sem que entretanto se percam de vista nomeadamente os textos de Pascoaes já mencionados, ter em atenção os quatro primeiros números da Nova Águia, e muito designadamente o último, com o qual, apesar do esforço empreendido para demonstrar o teor europeu da geo-estratégia de Pascoaes e d’A Águia, se não logra evitar a ideia de que A Águia e a «Renascença Portuguesa» terão efectivamente consistido num projecto de cariz fechado e de sabor nacionalista...
Aliás, no tocante a esta questão, independentemente de não se excluir de todo a possibilidade de alguma imprecisão no âmbito do afirmado, não deixa de se nos configurar como indispensável o aparecimento de um estudo monográfico (ou estudos), devidamente objectivo e fundamentado (coisa que, no nosso ponto de vista, ainda não existe), sobre o pensamento filosófico, político-messiânico e místico-religioso de Pascoaes, através do qual se torne possível esclarecer e avaliar de forma adequada e justa as questões em apreço.
Contudo, não obstante tudo, não somos dos que consideram descabido que a Nova Águia tenha surgido e exista. De modo algum!
Bem ao contrário, somos dos que pensam que hoje, comparativamente com os tempos d’A Águia e da «Nova Renascença», existem mesmo razões acrescidas, para que os portugueses se interroguem de forma especial sobre o problema da sua identidade e futuro como povo e país. E isto, porque, se, nos tempos d’A Águia e da «Renascença Portuguesa», a ideia que existia sobre a identidade de Portugal e o seu futuro era a de um Portugal-Império, hoje, tal ideia de Portugal já não tem qualquer adesão à realidade, porque nós já não somos um Império, mas sim um país e um povo integrado a corpo inteiro na Europa, de tal decorrendo em consequência que a Europa não possa deixar de constituir o fundamento natural e primacial da nossa actual ideia de Portugal e do seu futuro, ainda que sem nunca incorrermos no erro de enjeitar, quer a memória histórica materializada sobretudo na época de Quinhentos e que tem a ver com o carácter aberto, cosmopolita e universal que nos caracteriza, e que Pessoa identificou com a idiossincrasia do «ser tudo, de todas as maneiras» , quer o relacionamento privilegiado de Portugal com o Mundo lusófono, embora sempre a partir da Europa e com a Europa.
Bom, mas, porque toda esta reflexão e reformulação continua praticamente por fazer, então, um projecto como o da Nova Águia não só terá que ser considerado como oportuno e justificado, como deverá ser considerado em termos de um projecto que é não só urgente como mesmo mais complexo do que o que ontem mobilizou os homens d’A Águia e/ou da «Renascença Portuguesa».
Só que, nesta medida, para que logre cumprir com a missão que a nova situação orgânica e geo-estratégica confronta o país, a Nova Águia não poderá limitar-se a assumir e a reafirmar os problemas e as perspectivas d’Águia de Pascoaes como se a questão da identidade de Portugal continuasse a poder ser equacionada essencialmente à luz dum país e dum povo que ainda sejam, respectivamente, um Império sob o ponto de vista orgânico e um Povo «estrangeirado» e «desnacionalizado» sob o ponto de vista político-cultural, mas ela deverá, sim, olhar para a nova situação orgânica e/ou geo-estratégica de Portugal e adoptá-la como fundamento e parâmetro de equacionação do problema da identidade e do futuro do país, passando, por conseguinte, não só a afirmar Portugal como um país e um povo europeu, mas também como uma entidade que deverá continuar a dar provas de um povo e de um país por excelência aberto, cosmopolita e universal, muito designadamente em relação ao Mundo da lusofonia, porém, agora, a partir da Europa e com a Europa.
E, então, sim, a Nova Águia, projecto essencial do Portugal que está para cá da descolonização e da sua integração na União Europeia, fazendo prova de ser capaz de integrar os Brunos, os Pascoaes, os Leonardos, os Proenças, os Pessoas, os Sérgios e todos os demais..., não só se revelará um projecto à altura de contribuir para que o Portugal de hoje se cumpra em coerência com o enquadramento orgânico e geo-estratégico que o define actualmente, como se revelará mesmo um projecto com condições para corresponder à ânsia da maioria dos portugueses que, porventura sem o verbalizarem, estarão querendo um Portugal bem diferente do que lhes estão dando...