"Quando se fala da ditadura em Portugal, a ditadura que houve em Portugal foi uma revolução também. Porque a primeira República era um regime em que não se procurava fazer avançar o país, pôr-se em dia com o país, não havia maneira. Então houve uma revolução, foi uma revolução conservadora, digamos, foi uma revolução de direita, mas foi uma revolução, porque a primeira República não preparou as coisas para não haver a revolução. Os políticos estavam na sua comodidade e não naquilo que havia a fazer no país. Ou temos pelo lado da Rússia ou do lado de outros países que tiveram revoluções digamos de esquerda, revoluções comunistas, a mesma coisa. Também o regime anterior não preparava para o futuro, então a explosão deu-se. Mas em Portugal, depois, a revolução conservadora durou quase cinquenta anos, meu caro Amigo, e não foi brincadeira. Muito menos violenta, claro, que outras ditaduras que tinha havido noutros lugares, menos violenta, mas houve violência e houve dureza nessa revolução. Simplesmente, foi uma revolução que montou uma situação que não tinha grande futuro, acabou por se desfazer por si e não estava inserida no tempo histórico geral. Conservou o problema das colónias, poderia ter-se resolvido já na República, não se resolveu. Não é abandonar esses países como no fim se abandonaram, deixando-os em situações extremamente difíceis, mas era ir fazendo com que esses países, rapidamente, o mais rapidamente possivel, aprendessem a viver como nações independentes. Não havia razão nenhuma para Angola ser inteiramente independente ou para Portugal ser inteiramente independente de Angola."
Agostinho da Silva, inédito
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