Na sequência dos encontros “Mente e Vida”, realizados anualmente, desde 1985, entre o actual Dalai Lama e um grupo de cientistas ocidentais, foram feitas experiências recentes, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), com um grupo de praticantes experientes de meditação no budismo tibetano, com 15 a 40 anos de prática, e um grupo de controlo de estudantes voluntários, praticantes apenas durante uma semana. Foram escolhidos quatro tipos de meditação: 1 – o amor e a compaixão universais e imparciais; 2 – a atenção focada num único objecto, de forma clara, calma e estável, sem torpor ou agitação mental; 3 – a presença aberta, em que a mente está consciente e atenta, mas sem se focar em nenhum objecto particular; 4 – a visualização de imagens mentais. Enquanto alternavam repetidas vezes períodos neutrais de trinta segundos com períodos de noventa segundos em cada um desses estados meditativos, os praticantes foram submetidos a electro-encefalogramas, que permitem captar alterações na actividade cerebral em milésimos de segundos, e a imagens de ressonância magnética funcional, que dão uma localização rigorosa da actividade cerebral.
Os resultados mostraram espectaculares diferenças entre os praticantes experientes e os noviços, que provam a plasticidade do cérebro e a possibilidade de transformar e desenvolver o seu funcionamento mediante a prática regular da meditação. Por exemplo, na meditação sobre o amor e a compaixão, houve um aumento da actividade cerebral de alta-frequência, as chamadas “ondas gama”, “de um tipo nunca antes relatado na literatura científica”, nas palavras de Richard Davidson, coordenador da experiência. A actividade cerebral concentrou-se também no córtex pré-frontal esquerdo, a sede de emoções positivas, indutoras de bem-estar, como alegria, entusiasmo e altruísmo. Outras constatações, nos praticantes experientes, foram a capacidade de regular voluntariamente a sua actividade mental, concentrando-se exclusivamente numa tarefa, sem distracções; a identificação de emoções universais em rostos que aparecem num ecrã durante um quinto de segundo, mostrando um superior poder de empatia; e a inédita e espantosa neutralização do reflexo do susto, mesmo perante o disparo de uma arma: uma vez que esse reflexo depende da predisposição para o medo, a raiva e a repugnância, os resultados sugerem "um nível de serenidade emocional impressionante”.
Perante este quadro, não admira que o Dalai Lama tenha aberto, em 2005, os trabalhos do Neuroscience, o mais prestigiado congresso de neurocientistas do mundo, em Washington. E que se fale hoje da meditação budista como alternativa ao Prozac. Segundo declarações recentes do biólogo Eric Lander, membro do Projeto Genoma Humano, numa conferência no MIT: "Não é inconcebível que, dentro de 20 anos, as autoridades americanas de saúde recomendem 60 minutos de exercício mental cinco vezes por semana".
Bibliografia: Daniel Goleman, Emoções Destrutivas e como dominá-las. Um diálogo científico com o Dalai Lama, Lisboa, Temas e Debates, 2005; Paulo Borges / Carlos João Correia / Matthieu Ricard, O Budismo e a Natureza da Mente, Lisboa, Mundos Paralelos, 2005.
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
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