A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 11 de outubro de 2009

Leite


Hércules e a Hidra, Pollaiuolo


O desespero é apenas uma vibração exótica do tédio,
Tu segues o teu caminho com sonhos tão altos que ninguém vê,
Tu caminhas de pés descalços onde a estrela prateada te guia,
À boca do dragão do desconhecido.
Salvé, Ó Campeão do Labirinto de Minos,
Salvé, Ó Destruidor dos Sete Templos de Hera,
Salvé, Ó Herói mergulhado no Lago da Imortalidade.
Salvé, Ó Diónisos, e
Salvé a Hora abençoada da Vossa Morte.

Babalith


O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra.
Conhecer-se é errar, e o oráculo que disse «Conhece-te» propôs uma tarefa maior que as de Hércules e um enigma mais negro que o da Esfinge. Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho. E desconhecer-se conscienciosamente é o emprego activo da ironia. Nem conheço coisa maior, nem mais própria do homem que é deveras grande, que a análise paciente e expressiva dos modos de nos desconhecermos, o registo consciente da inconsciência das nossas consciências, a metafísica das sombras autónomas, a poesia do crepúsculo da desilusão.
Mas sempre qualquer coisa nos ilude, sempre qualquer análise se nos embota, sempre a verdade, ainda que falsa, está além da outra esquina. E é isto que cansa mais que a vida, quando ela cansa, e que o conhecimento e meditação dela, que nunca deixam de cansar.

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

4 comentários:

antiquíssima disse...

O grande cansaço é julgar que somos algo e que temos algo a fazer, incluindo duvidar disso.

Rasputine disse...

Salvé a Hora abençoada da Nossa Morte!

Babalith disse...

antiquissima, assim será. Mas hipócrita daquele que dessa sua condição não admitir consciência. Assim que o ser humano compreende o conceito de "propósito", passa o propósito a ser a chave mestra do seu intelecto e a sua "regra de ouro". E é por isso que mesmo o niilismo se torna "heróico".

Ruela disse...

Excelente post, gosto muito desta imagem...

Abraço.