A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Donde vimos, para onde vamos...

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sábado, 12 de setembro de 2009

Da viabilidade de Portugal como país independente

Portugal tem a ímpar qualidade de possuir um Futuro que em lugar de ser uma concretização egoísta de um qualquer objectivo nacional, como sucede com a maioria dos países europeus, é a promessa do cumprimento de um destino universal e pan-nacional.

Este é verdadeiramente a razão pela qual Portugal não para de se afundar, sem encontrar uma boia onde se possa agarrar. Portugal está sem rumo, porque falta encontrar um Destino para Portugal, porque os nossos políticos estão desprovidos daquela qualidade que tínhamos em Quinhentos e que se chama de "Imaginação Criadora", uma qualidade que é particularmente rara nos norte europeus que são mais felizes na expressão prática de uma imaginação que radica na potência física dos germanos e na criatividade financeira dos Judeus que encontraram a Norte refúgio das perseguições católicas.

Mas em que difere Portugal e a Alma Portuguesa do resto da Europa? Em primeiro lugar há que distinguir na Europa os países que têm um coração messiânico daqueles que o não têm e é precisamente aqui que radica a grande diferença entre os países que são independentes por direito daqueles que o são por essência.

Nem todos os países europeus têm a mesma concepção de Independência e alguns deles apenas são actualmente independentes por acaso da História. A maioria dos pequenos países do norte e centro da Europa, como a Bélgica, o Luxemburgo, a Dinamarca, a Holanda e a divisão anómala dos países escandinavos.

Alguns países europeus têm contudo aquela partícula indefinível e essencial que é a "alma". Por alma pretendo representar aquilo que os distingue dos seus vizinhos. Nesse sentido, "alma" é um conceito negativo, porque exprime apenas diferença e oposição. Mas existe um outro sentido, mais positivo, do conceito de Alma: a "Alma" é também a força emocional que um colectivo é capaz de exprimir em momentos de grande tensão.

A "alma" de um país resulta da conjugação concorrente de um conjunto de vectores de diversa natureza e que enunciaremos de uma forma muito breve nas linhas seguintes:
a) uma religião comum:
b) uma língua comum:
c) uma única etnia ou uma etnia mesclada uniforme:

Uma vez reunidos estes três elementos estamos perante as condições mínimas para assistir à erupção de uma nacionalidade. Mas a erupçâo de um "estado nacional" é mais difícil e complexa. Nesta última o "acaso" e o "destino providencial" assumem um papel vital e esse Estado incipiente só se consolida depois de um ou vários episódios violentos.

A Guerra de "libertação" ou de "independência" é determinante e indispensável para a eclosão de um Estado Nacional. Na verdade, quanto mais violento e sangrento for a "guerra fundadora" mais perene e viável será esse Estado, e quanto menos bélica for a "guerra fundadora" mais instável e autodestrutivo será esse Estado.

É como se a paixão das armas e o sofrimento que estas provocam fossem necessários para cimentar um aglomerado de gentes e ideiais reunidos por incidentes fortuitos e pelos insondáveis designios da Mãe Natureza no mesmo local geográfico.

Quando actualmente se assiste a expressões de reserva quanto à viabilidade de Portugal como país independente isso corresponde a um dos maiores absurdos que pode exalar uma boca humana. De todos os países europeus, Portugal é exactamente pelo contrário um dos Estados mais viáveis: com excepção do infeliz exemplo de Olivença as fronteiras nacionais estão consolidadas desde há mais de seiscentos anos. O território nacional forma um rectângulo quase perfeito que coincide por um lado com esse elemento formativo que é o Oceano Atlântico e por outro com a gigantesca e opressiva "Espanha"/"Ibéria". Portugal tem também uma única etnia e língua e está assim isento dos problemas estruturais de espanhóis, britânicos e belgas, entre outros. Do ponto de vista religioso, as raízes profundas da religiosidade portuguesa estão bem assentes num pano religioso pré-cristão, de matriz tripla, celta, sudibérica ou cónia e judaico-fenícia. Sobre esta matriz tripla foi deitado o vaso de azeite quente que foi o cristianismo que os portugueses beberam com tanta avidez, tanto que hoje por ele sentem fastio. Embora o cristianismo tenha permitido consolidar pela Fé o ardor combativo dos primeiros tempos da nacionalidade e da Expansão, levado ao extremo por mão de fanáticos arrastou o país até ao estado miserabundo onde hoje se encontra. Portugal teve igualmente a imensa sorte que foi a de ter mesmo a seu lado, um Império Castelhano falsamente designado de "Espanha" e que na sua voracidade ibérica tentou várias vezes engolir esta "Espanha". Como escreveu Agostinho da Silva, o grande milagre de Portugal foi o de ter conseguido manter-se independente numa Península Ibérica em que Castela anexou todas as outras nacionalidades.

Portugal é assim um país viável, e até mais do que isso. Um país cuja viabilidade transcende o seu próprio solo nacional, tamanha é a missão que o Mundo espera que ele venha a cumprir.

10 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

Bestial!
Eh, pá! Gostei bué e buereré: ainda que não saiba bem porquê...

Talvez por aquele começo "triunfal" (como a vitória do abstencismo, será?) de dizer que "Portugal tem a ímpar qualidade de possuir um Futuro".
Ímpar? E a par? Fica em casa?

Que ingénuo eu sou! Imaginei que todos os países o teriam, fosse ele o de não terem futuro nenhum, ou ainda quando fosse tão-só o de poderem até estar em vias de desaparecerem...

Tens tanto que aprender, Damien!
Desaprende, rapaz, para ver se aprendes alguma coisinha!
Olha para os mestres!
"Amestra-te"!

Vê se te tornas viável, e independente, homem!
Como o Portugal dos lusofoninhos!

Renato Epifânio disse...

Portugal é um país viável na medida em que, mesmo no quadro da União Europeia, reforçar a sua integração no espaço lusófono (falarei um pouco sobre isso no meu próximo post).

Quanto ao comentário acima, sem comentários...

Clarissa disse...

Realmente este foi o pior dos fakes de pele reptiliana, parece um débil mental que embebedaram...:)

Luiz Pires dos Reys disse...

O "sem comentários" foi comentário bastante, Renato Epifânio.
Apercebe-se disso?

Rui Martins disse...

pergunta:
quantos alter-egos pode um homem ter, sem perder a razão?

Rasputine disse...

A grande missão de Portugal é deixar de pensar que a tem.

Clarissa disse...

E a dos pobres que sofrem de alzheimer.

Paulo Borges disse...

Que Portugal é um país viável comprova-o a sua existência até hoje. Resta saber se é um país viável enquanto lugar onde as consciências possam desenvolver-se e as pessoas serem felizes. O que não parece evidente e é já missão que baste.

Mais do que isso arrisca-se a ser o ressurgimento do delírio de grandeza de que padecemos desde os Descobrimentos. É aos homens que compete ser grandes, pela renúncia à própria ideia de "grandeza", não às nações, que não são entidades nem têm "almas".

Duvido, aliás, que alguém as tenha. O que é uma "alma"?

Rasputine disse...

A missão que o Mundo espera? Quem sabe o que o Mundo espera? E quem é o Mundo para esperar alguma coisa? O que esperaria o "Mundo"?

Renato Epifânio disse...

Sobre o que é a alma, nomeadamente a "alma ibérica", haverá uma surpresa no próximo número da NOVA ÁGUIA...