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I
Todos sabem que sempre fui desapegado ao passado
Mas como hei de esquecer minha Pátria?
Oh! Pátria amada!
Berço para tantas culturas.
Oh! Bravo povo português!
Braços da verdadeira revolução diária.
Mestres dos mares! Senhores das terras!
Eu, o fingidor que não sentia saudades da infância
O fingidor futurista!
Eu... O qual o progresso eufórico dessa nação pulsava nas veias...
Onde foi essa euforia?
Onde foram os eufóricos que a mantinham viva?
II
Oh... Sinto saudades dos que se foram...
Mamãe... “Teça”... Tia Anica...
Bebé... Ah! Bebezinho do teu e sempre teu discípulo do mestre!
Eles mentiram quando escrevi “o amor passou”...
Eles mentiram...
Oh... Sinto saudades da minha infância...
Quando na Rua de São Marçal
Firmei os primeiros passos rumo à passividade e os sonhos
Ali, Chevalier de Pas, sem platéia alguma
Bradou as primeiras mentiras artísticas
E uma loucura verteu em espírito
Num obscuro monólogo de coletivos
Eu fingidamente sorria, sem saber que sorria...
Desde o princípio...
III
Nem os ares de Durban
Permitiram que a vida saudável e natural
Adentrasse em meus frágeis pulmões.
Vivia, assim por dizer
Acorrentado nos corredores do liceu
Transpirando as doces aventuras de Pickwick.
Algumas vezes...
Várias vezes...
Inúmeras vezes...
E se alguém por mim tivesse alguma preocupação
Eu disfarçava a evidente saudade da minha terra
E por mim, fingidamente sorriam, sem saber a quem sorriam...
Mesmo no esperado regresso
Um solitário na proa do Herzog
Tecia novas mentiras artísticas
Em um coletivo de mestres dos mares
Até então senhores das terras
Aos quais restavam conquistar os céus.
IV
Quando caminhava perturbado
Para a Baixa nas horas de costume
Caminhava fingidamente só e desconfiado
Eu nunca consegui confiar em alguém
Eles talvez, mas eu nunca...
(Oh Shelley! Eu realmente te compreendo)
Não posso negar
Que sempre tive uma amorável e meiga alma
Eternamente solitária...
Perdão Bebezinho!
É tão verdadeira quanto a beleza do pôr-do-sol de nossa pátria
Mas como já escrevi em outros tempos
Isso se deve às “circunstâncias internas”
Nada pude fazer Bebé...
Sou um mero discípulo...
Perdão!
V
Eu presenciei, perto da forte adrenalina das barricadas
A consubstanciada e frágil monarquia
Ruir desgovernadamente sob os efeitos de sua própria “politiquice de caciques”
Oh! Aquelas barricadas transpirando patriotismo!
Onde foi esse patriotismo?
Onde foram os revolucionários que o encenavam?
Nós sim, éramos homens patriotas e fingidos
Em longas tardes de verdadeiro êxtase no Café Martinho
E entre esboços de definições ainda desconhecidas
Resmunguei confiante aos goles apressados:
“O Grande Poeta, ao qual superará Camões, há de sair dessas entrelinhas”
Registrei essa convicção na primeira Águia
Aquela que Sá-Carneiro definiu estar “bêbada de luz”
Ah! Sá-Carneiro!
O mestre de si mesmo!
Não suportou a tentação de ser dono da própria vida...
Sua amizade fez das discussões particulares um movimento
Do movimento a uma mistura de sentimentos coloridos
De um solitário perambulando pela Rua Augusta
Vomitando mais (e ainda mais profundas) mentiras artísticas
Em um quarteto de mestre e discípulos
Até então mestres somenos da terra e mar...
Aos quais agora, livres no céu, “bêbados de luz”...
VI
Em pé perante a costumeira escrivaninha
Surge um tanto ingênuo
Aquele que o mal do século lhe soube trapacear
Que dia triunfal!
Versos escritos ao pôr-do-sol e recitados nos dias de vento e chuva
Sendo cada palavra esfomeadamente devorada
Pelo rebanho que por toda a encosta era feliz.
Aparecera em mim o meu mestre!
E logo em seguida, num gesto de inexistência
O discípulo retorna pela chuva que ciranda na vidraça
Já não tem um cajado nas mãos
Já não é feliz na encosta
Já não aplaude aqueles que o leem
Apenas escuta aquele que para si recita.
VII
Entre dias santos e santos dias era esculpido
O qual não compareceu à última ceia
O pagão de vestes brancas!
Embebido ao meio ‘operário’ da nação lusa
Na construção da amada “República irmã”.
Seu oposto, de esquadro no bolso e cálculos na ponta dos dedos
Surgiu-me como um metal pesado
Circulando pelos canais de máquinas desgastadas
Movendo engrenagens de humanos que já se foram
Sentados ofegantes em fábricas de matéria alguma
Quanto barulho ao ranger das engrenagens mal engraxadas!
Quanta matéria a preencher o espaço incolor!
Ainda assim, a muitos como eu, de mãos desocupadas
Ficando febril o discípulo carnal
Entorpecido a cada escocês de nome inglês
A cada expirar da fumaça das vidas tragadas
Malditos vícios orientais!
(Hoje tão insignificantes se comparados aos ocidentais)
VIII
Compreendo toda a angústia do Fausto inacabado
A dor que deveras sentia, é chaga viva
Assim como a saudade deles, os de “Orpheu”
(Já não consigo apenas fingi-la)
O tempo passa...
As pessoas se vão...
Mas deixam seus rastros no chão de sua pátria
E mesmo 100 anos depois
A Águia paira nos céus, “bêbada de luz”, em busca desses rastros,
Mantendo a igualdade viva perante as diferenças.
Quem diria que seria eu o Infante que “era a Princesa que dormia”?
Quem diria que seria eu o “Grande Poeta”?
Hoje sou eu o homem célebre
Hoje são eles que por mim
Sentem toda a tristeza da celebridade...
Bons tempos aqueles
Quando eu era apenas um desconhecido discípulo
Em meu próprio mundo de versos e rascunhos...
Norbert Heinz
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
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Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
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segunda-feira, 17 de agosto de 2009
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1 comentário:
Poema que nos chegou ontem do Brasil...
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