A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

NO 102º ANIVERSÁRIO DE MIGUEL TORGA

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TEIXEIRA DE PASCOAIS NO DIÁRIO DE TORGA

JOSÉ LANÇA-COELHO

No vasto Diário de Miguel Torga composto por 16 volumes existem apenas quatro referências a Pascoais, três no VIº volume, e uma no XIIº.
Comecemos então por ver o que escreveu o poeta de S. Martinho de Anta acerca do seu émulo de Amarante.
A primeira referência data de 25 de Agosto de 1952, e foi escrita nas termas de Caldelas, onde Torga passava períodos regulares, em que não deixava de fazer as suas apreciadas digressões pelo solo Ibérico. Assim, depois de referir a sua visita às localidades de Ribeira de Pena, Cerva e Mondim, diz o seguinte do rio Tâmega, onde destaca os escritores Camilo Castelo Branco e Teixeira de Pascoais, como margens:
“Um Tâmega de vinho verde, ora físico ora metafísico, indeciso entre a prosa de Camilo e a poesia de Pascoais, e a Senhora da Graça, no alto dum parafuso de macadame, com ricas vistas redondas.” (1)
A segunda e a terceira datam de 15 de Dezembro de 1952, foram escritas em Coimbra, e relacionam-se com a morte de Pascoais.
Torga começa por recordar uma homenagem feita a este poeta, dizendo que a mesma foi a mais bonita que a cidade dos doutores fez a todos que já celebrou.
“ (…) fez-me bem a lembrança da recente e festiva tarde primaveril em que ajudei a coroá-lo de flores, na mais bela homenagem que Coimbra prestou jamais a alguém.” (2)
Em seguida, o autor de A Criação do Mundo faz uma afirmação desfavorável à poesia de Pascoais, dizendo que, o poeta de O Grito que Deus Ouve é uma “(…) nova glória ambígua [que] surge no Olimpo doméstico da nossa poesia.”(3)
Esta ambiguidade emerge do facto de o nome de Pascoais se ir colocar ao lado de outros dois ou três que, não se podem deixar de referir, sempre que se procede a uma sentida homenagem, mas onde o autor de Elegias “ficará sempre esfumado e contingente”(4) devido, a não ter sido capaz de uma renovação dos temas que tratou.
De seguida, Torga especifica essa temática do seguinte modo:
1º no que respeita à vivência do amor em relação à do autor de Os Lusíadas:
“ e eu penso na sua vivência do amor, tão banal ao lado da de Camões” (5)
2º numa representação da morte ainda exterior, quando os autores que abordavam este tema já o representavam com uma decisiva interioridade:
“ na sua representação da morte, ainda de foice à nossa espera ao canto da rua, quando outros no-la mostravam já dentro de nós”(6)
Em suma, o autor de o Diário conclui que, por um lado, “O pseudo-pensamento, a metafísica de caixa alta, as sínteses-arbitrárias e o resto, são escuridões que só geniais relâmpagos de intuição e de autêntica beleza, marcadamente seus, conseguem iluminar.” (7); e, por outro, “A ascese que redimiu a poesia, e é por certo a maior conquista que se fez ultimamente no campo do espírito, não a pôde entender o autor de Marânus.”(8)
Esta crítica negativa que Miguel Torga expressa relativamente ao autor de Arte de ser Português acentua-se, quando o primeiro escreve: “faltou a Pascoais a compreensão de que o abandono emotivo passara a ser fiscalizado implacavelmente, para que nenhum elemento impuro viesse toldar a claridade sucinta do poema. Criança no mais rigoroso e temporal sentido, o Poeta não conseguiu a ordenação adulta dos grandes criadores.”(9)
Porém, ao terminar esta página do Diário, Torga redime a obra de Pascoais, ao afirmar que o grande interesse da mesma radica na eterna infância do autor e na ingenuidade a ela subjacente: “E é talvez nessa infância que durou uma vida, na perplexa visão dum mundo informe, e na ingénua maneira de o testemunhar, que reside o interesse e o problema da sua personalidade e da sua obra.”(10)
Finalmente, a derradeira referência a Pascoais, adquire um carácter extremamente positivo, uma vez que o autor de São Paulo ombreia com os maiores vultos da poesia nacional, e surge no Diário XII, tendo sido escrita em Bruxelas, a 6 de Junho de 1977, e consta de uma comunicação que Torga foi fazer à capital belga integrada na bienal «Knocke» como diz nesta sua página diarística, acerca da poesia portuguesa. Assim, escreve: “ Nela cantaram e cantam grandes vultos inspirados, de Camões a Fernando Pessoa, de Bernardim Ribeiro a Teixeira de Pascoais.”(11)

Notas:
(1) Miguel Torga, Diário VI, 3ª ed., Coimbra, 1978, p. 119.
(2) Idem, idem, p. 142.
(3) Id., id., p. 142.
(4) Id., id., p. 142.
(5) Id., id., p. 142.
(6) Id., id., p. 142.
(7) Id., id., p. 142.
(8) Id., id., p. 143.
(9) Id., id., p. 143.
(10)Id., id., p. 143.
(11) Miguel Torga, Diário XII, Coimbra, 1995, p. 1242.

1 comentário:

Rogério Maciel disse...

Torga , maravilhoso Torga , de terra e pedra feito , Verbo de fogo , forja de Poesia , Simples e profunda.
Voz da terra , bela , ancestral , da beleza de Portugal .
Como amo ouvir-te declamando a tua alma telúrica ,uma voz que vem do fundo do Tempo , ensinar - nos as coisas simples e profundas da Vida , a secura e a humidade duma serra quente , duma casa-lura , dum pomar de limões, das carquejas e das torgas das encostas , uma gaita de foles a ecoar pelas altas fragas no silêncio deserto e amplo do seu reino encantado de Trás os Montes ...