A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sábado, 22 de agosto de 2009

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos): entre Cristo e Buda

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"se se considerar religioso o que falar em Deus ou mostrar veneração por um lugar de ritos, certamente que Jesus tem de ser contado entre os religiosos; se, porém, se tomar como atitude religiosa a de uma forte consciência moral em face de todos os problemas universais, a de quem procura uma solução do problema essencial da existência, isto é, do problema do bem e do mal, com todas as suas implicações, procurando ir até aos limites da questão e não recuando perante o que aparece como resultado, o que fez, por exemplo, um Buda, então Cristo não pode apontar-se como um grande mestre religioso; nem uma única vez ele põe a dificuldade e toda a sua força espiritual parece empregar-se no sentido de que se organize a terra de modo que a vida material aos homens não pese sobre eles e as almas possam dedicar-se ao que é verdadeiramente humano; Buda fala dos problemas que existiriam, mesmo para o homem que tivesse toda a parte material da sua existência perfeita­mente resolvida: ele próprio é um príncipe que tem tudo quanto quer e que tudo abandona porque sente o trágico da vida, de uma vida que é trágica exactamente porque é vida; a acção, por conse­quência, aparece como um mal para o Buda; o que encontramos em Cristo é bem diferente: Jesus vem dos pobres, é um deles, e interes­sam-no pouco as questões metafísicas, como o interessam pouco as questões morais que não signifiquem uma ajuda para o estabeleci­mento do Reino; a piedade, o amor do próximo, são em Buda uma consequência da vanidade e da dor de viver: deve-se ser bom para tudo o que existe, porque tudo sofre de existir; a piedade de Jesus, o amor que ele reclama são uma força revolucionária, neste sentido de que hão-de apressar a vinda do mundo divinizado: se o rico amasse o seu irmão, pensa Jesus, as riquezas igualmente distribuídas dariam para todos e o mundo seria feliz; mas Buda, ao abandonar a riqueza, não o faz por amor aos outros: sendo pobre sofre menos, porque vive com menos intensidade. Exactamente porque não anseia por ne­nhum modelo do mundo, mas quer abolir o mundo, exactamente porque não tem de apontar aos homens um padrão de existência e uma esperança de protecção, mas o Nada, Buda não precisa de Deus; em Jesus ele aparece continuamente e tão presente em tudo, nos céus, na terra, nas plantas e nos meninos, que quase poderíamos falar num panteísmo, se, por outro lado, Jesus não mantivesse firme a ideia de um mundo absolutamente distinto de Deus; o que é certo, no entanto, é que o Deus de Cristo não aparece definido com clare­za; a ele, que vem pregar uma transformação social, basta-lhe a ideia de um Pai, Senhor do mundo, Criador dos homens, extremamente bondoso e extremamente justo, que ajudará seus filhos a possuírem o Reino e castigará os que se opuserem à vitória dos pobres; quanto ao resto, Deus é a um tempo pessoal e impessoal, transcendente e imanente, e ficam por resolver, até, nalguns casos, por tocar, proble­mas ligados ao de Deus e tão importantes como o das relações entre o homem e o espírito divino, o do bem e do mal, o do livre arbítrio e do fatalismo, o da conciliação de uma suprema bondade com uma suprema justiça."

In O Cristianismo, Lisboa, Edição do Autor, 1942, pp. 14-15.

9 comentários:

Paulo Borges disse...

Cerca de dois anos mais tarde, em "Conversação com Diotima", já Agostinho procura abolir também o mundo, aquilo de que critica aqui, a meu ver erroneamente, o budismo... E mais tarde toda este dualidade se esbate sob o signo de uma convergência no Espírito Santo.

Renato Epifânio disse...

"Abolir o mundo"?! Respeitando a tua opinião, não me parece que Agostinho alguma vez tenha procurado abolir o mundo. Ao invés, o que vejo nele é (entre muitas outras coisas) uma grande paixão pelo mundo, pela existência...

Paulo Borges disse...

Lê com atenção "Conversação com Diotima", "A Comédia Latina" e vários outros textos do Agostinho de maturidade. O erro é pensar-se que a abolição mística do mundo, que na verdade não é senão a abolição da percepção dualista do mundo como uma realidade objectiva exterior, é incompatível com uma grande paixão, não pelo mundo ilusório, mas pelo que ele na verdade manifesta ser a uma mente livre de ilusões dualistas: o próprio esplendor da Realidade última! A questão é que, sem a des-ilusão da dualidade própria da consciência mundana, nada disto se percebe. Fica-se na experiência "horizontal" da realidade, própria do homem activo, que tem de integrar a experiência "vertical" do contemplativo para dar lugar à visão desperta e total, do contemplativo-activo, que sabe que o mundo da percepção comum na verdade não existe, mas por isso mesmo tudo faz para, por compaixão, nele agir para libertar as consciências de todos os seres e, até lá, transformá-lo na melhor ilusão possível. É o programa entre nós estabelecido por Antero de Quental e plenamente assumido por Agostinho.

Renato Epifânio disse...

Agora vou dar um mergulho no mar. Nada como um mergulho no mar para sentir a realidade...

Paulo Borges disse...

Claro. Isso é mais fácil.

Renato Epifânio disse...

Mais fácil e esclarecedor...

Paulo Borges disse...

Nunca te vi aprofundar um debate ou uma questão. Foges sempre das dificuldades...

Renato Epifânio disse...

Andas a ficar muito intolerante para quem não concorda contigo...

Paulo Borges disse...

Eu? Eu gosto sobretudo de quem não concorda comigo. Mas que diga porquê, não que fuja quando não tem argumentos ou não se quer dar ao trabalho e incómodo de problematizar as suas posições. Dia-logar supõe saber ocupar o lugar do interlocutor e suspender, que mais não seja temporariamente, as suas convicções, para ver a questão noutra perspectiva, mais ampla que a tese e antítese em confronto. Mas isso é para quem busca compreender as coisas e pensa filo-soficamente.