A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 12 de julho de 2009

Originalidade...



Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho às palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce à rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.

|José Carlos Ary dos Santos

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A originalidade…


A proximidade à Origem é o mais difícil, hoje, no agora desta época na qual nos vemos como contemporâneos, mas num agora distante do Instante que não dista, nem espaço nem tempo, em relação ao que não tem uma abertura outra (época deriva de epochê) que não o ser de tudo – essa suspensão do absoluto que jorra ênfases do nada…


E no entanto, este nosso momento epocal é marcado por uma superabundância discursiva sem precedentes. E estamos longe de podermos compreender os efeitos desta dilatação do dizer na Língua e nos territórios por ela mapeados. Mas mesmo aqui, na era dos GPSs, caímos na tentação da desvirtuação (desvirtualização) dos mapas – hoje, com um clique, os mapas convertem-se em representações minuciosas dos locais (Jean Baudrillard, por exemplo, tem uma fecunda reflexão em relação a este tema), sem espaço para a desorientação e a exuberância dos rumos.


Houve, portanto, uma regressão em relação aos mapas medievais que fundiam numa mesma representação, assumidamente dilatória, dos diversos territórios abertos à exploração humana, porque o ser humano, para se assumir em verdade, é um ser de pluriverso, de real e de imaginário, de sagrado e de profano, de profundo e de superficial. E aí os mapas estavam abertos à percuciência dos olhares: cada homem, cada leitor, cada buscador, procura apenas aquilo de que precisa, aquilo em que acredita, aquilo que pode ver ou o que pode viver, e só isso, e apenas isso, encontra.


Neste sentido, a abolição do mapa, através da aplicação da mais recente tecnologia na orientação dos que querem ir dum local a outro, corresponde à tentativa de impossibilitar a Perdição. E sem a possibilidade de nos vermos perdidos no mundo falhamos a oportunidade do mais decisivo encontro: a diacosmese (Eudoro de Souza) do Amor na Soltura.


Já sem um aqui e um agora que limitem a obscuridade para lá da luz que dá a ver o concreto e o consistente com as nossas crenças amestradas.


A esta luz a poesia adentra-se no labirinto do Íntimo, recusando a fascinação do dito: a poesia é uma apropriação na carne do inapropriável do mundo: a patência, em viva expectação, da dor do mundo, a dor de haver mundo, a dor-alegria, a dor-prazer, a dor-sofrimento, o ardor, a ardência dos infernos que nos dão chão. Caminhar como poeta sobre a terra, sob o influxo astral do Impossível, é caminhar sobre um braseiro. É viver a utopia de não ter um lugar de chegada, um burgo que albergue um lar, um espaço que dê guarida ao fogo da continuação, o fogo que passa de pais para filhos e que, uma vez aceso, convoca os vivos e os mortos para a comunhão e a confecção do quotidiano familiar. O poeta vive a ruptura da filiação, consuma o fim do mundo tal como o conhecemos quando o olhamos a partir do sossego dum aqui e dum agora com margens fixadas por crenças inamovíveis.


O Poeta recusa-se a ser herdeiro, à casa do Pai traz sempre, ou a preocupação da fuga, ou a alegria do regresso do filho pródigo, a alegria que acende a inveja dos irmãos incapazes de partir, aqueles para quem toda a partida é uma fuga. É ao que vive como poeta que se dirige a bela morena do Cântico dos Cânticos, ela própria apropriada pela Poesia:


“Não repareis na minha tez morena, pois fui queimada pelo sol. Os filhos de minha mãe irritaram-se contra mim; puseram-me a guardar as vinhas, mas não guardei a minha própria vinha.”(I,6).


A vinha, a Perdição dionisíaca no Feminino exalado a partir do interior da Terra, do coração da Noite imperscrutável. A simplicidade da entrega, a impossibilidade da remissão. Com todos os laços cortados com o mundo, com as veias da alma em flor, sangue de dentro-sangue-do-mundo, o sacrifício da mesmidade no mergulho na imensidade dos que se libertam das convenções e das contristuras de ter que ter autorização para ser isto ou aquilo. É esta libertação que permite o autêntico encontro:


“És toda bela, ó minha amiga, e não há mancha em ti.”(4,7).


É esta suspensão na beleza, esta (co-)presença na absolução do sem-termo, que dá à Palavra, na Poesia, a sacralidade do não-dito, a majestade do interdito ao dizer enfermiço dos homens sob a égide do ego, os que se querem senhores de si no confronto com os outros servos da neurose egótica, fantasmas errantes, incapazes de Errância e Perdição. Porque:


“O amor é forte como a morte, a paixão é violenta como o cheol. Suas centelhas são centelhas de fogo, uma chama divina.”(8,6).


O “Fogo que arde sem se ver” a altitude a que se elevam os que tudo perdem, perdendo-se de tudo.

2 comentários:

Paulo Borges disse...

Paulo, o teu texto é, como sempre, de elevado e fundo nível, mas aparece cortado...

Paulo Feitais disse...

É do tipo de letra, não é suportado pelo blogger. Vou ter que alterá-lo.
:)