
Louis Pasteur (1822-1895) foi um célebre cientista francês, cujas descobertas assumiram uma importância primacial na História da Química e da Medicina. Na sua Biografia, Agostinho da Silva destaca também, contudo, outras facetas suas, como, nomeadamente, a de professor: “O excelente professor que havia em Pasteur depressa atraiu dezenas de alunos; admiravam-lhe o saber, a elegante sobriedade da palavra, a escolha e a segurança das experiências, toda a corrente de vida que fazia passar através da química, interessando-os pelos fenómenos e ligando-os às preocupações e necessidades imediatas do meio em que viviam; todos os industriais mandaram os filhos ou foram eles próprios ouvir as lições de Pasteur e trabalhar nos laboratórios; lembrado dos malefícios da química e da física aprendidas de cor, o novo mestre abria os laboratórios aos alunos para as experiências de curso e, guiados por ele, para quaisquer outras que quisessem tentar; sabia muito bem que o aspecto árido de um tratado de química pode afastar as vocações, mas que a vista de um laboratório e o trabalho de umas horas pode despertar as que andavam ocultas e lançá-las no caminho das grandes descobertas; frequentemente, sacrificando horas de estudo ou de repouso, levava-os a excursões, visitando minas e fábricas francesas e belgas, no desejo de que tomassem seguro contacto com a realidade ambiente.”.
Tal em todas as outras Biografias, salienta também nesta Agostinho da Silva os obstáculos que se puseram a Pasteur, para assim melhor poder retratar o seu carácter, a sua têmpera: “De uma coisa poderiam estar certos, de que o não desanimavam; sentia-se impelido por uma energia que não alcançariam vencer e que o levava sem cansaço de uma experiência a uma discussão, depois a uma nota para a Academia ou a resposta ao artigo de um polemista; seria ilógico refugiar-se no laboratório como numa cela: tinha de ser simultaneamente o sábio que descobria o remédio e o homem de acção que o impunha; um momento de fraqueza da sua parte e a miséria se prolongaria por mais uns anos para todos os desgraçados cujos sofrimentos o tinham impressionado; por bem ou mal, não havia no seu temperamento, claramente o sentia, a impassibilidade filosófica de muitos dos seus colegas; era um rijo combatente com que tinham de haver-se e que replicava a todas as calúnias e a todas as deformações das suas ideias, restabelecendo a verdade, apontando incansavelmente o resultado das suas criações, preconizando o emprego do microscópio para reconhecer a existência dos corpúsculos; objectavam que era muito difícil, e respondeu ensinando a manejá-lo crianças de 10 anos; mas o primeiro aplauso veio do estrangeiro, muito antes que em França se resolvessem a segui-lo.”.
Eis, em suma, o retrato de alma que Agostinho faz de Pasteur: o de alguém que nunca desistiu[1].
[1] Reiterado em inúmeras passagens, como, por exemplo, nesta: E era sempre o mesmo; de cada vez que lançava uma ideia nova, de cada vez que vinha fornecer um outro elemento para o progresso da Humanidade, chocava com a imensa barreira da incompreensão, da miséria intelectual e da miséria moral; a falta de receptividade para o que era diferente do que até então se julgara revelava-se mais perfeita de dia para dia; adaptavam-se lentamente e quem ia oferecer um benefício era recebido com a severidade que haveria para um criminoso; uns reagiam pelo cepticismo, outros pelo silêncio que habilmente organizavam à volta de Pasteur; mas, através do véu de hostilidade, sentia que se formava a grande massa poderosa que por completo o havia de romper; acreditava que nenhum esforço é inútil no mundo e que cedo ou tarde receberão a sua recompensa os que trabalham pelo bem.”.
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