
Abraham Lincoln (1809-1865), décimo-sexto presidente dos Estados Unidos da América (o primeiro a ser eleito pelo Partido Republicado) teve um papel fundamental na manutenção da unidade do país na Guerra da Secessão e na Abolição da Escravatura.
Na sua Biografia, Agostinho da Silva reconstitui todo o seu trajecto, salientado, desde logo, a sua origem social, pouco dada, à partida, aos ambientes da intriga política: “a argúcia, a bonomia, a manha camponesa, o sentido do humor, o repto eloquente desapareciam por completo no ambiente das salas; a gente fina assustava-o; o seu lugar era junto do povo”.
Essa era, contudo, a marca da sua grandeza, que os mais argutos adivinhavam: “os mais argutos adivinhavam nele o grande homem; a fronte ampla e rasgada, de heróico talhe, o jeito decidido dos lábios, a luz que lhe brilhava nos olhos, feita de toda a concentração de pensador e de toda a firmeza de político, não enganavam os previdentes”.
Para além disso, “a honestidade inquebrantável ganhava-lhe a simpatia de todos”. Menos, claro está, como refere Agostinho, de alguns dos seus “eleitores”: “Certos eleitores começavam a achá-lo um deputado pouco cómodo; às razões públicas juntavam-se as particulares: não se esforçava por arranjar empregos para os amigos, nem pactuava com os intrigantes; viera ao Congresso para tratar de interesses da União, para manter em toda a actividade política uma linha moral sem quebras”.
Foi essa linha que seguiu, em particular, na Guerra da Secessão, que podia ter destruído, para sempre, a unidade do país, mesmo que isso tivesse implicado, por vezes, afrontar a opinião pública: “A coragem em afrontar a opinião pública, a firmeza em defender o que se lhe afigurava de justiça, o denodo em manter intacta a sua personalidade, ganhavam-lhe, quando passavam os primeiros sintomas de reacção violenta, as simpatias gerais; podiam não concordar, mas tinham-lhe respeito”.
Por tudo isso, foi-se tornando, mais do que um presidente, uma autoridade moral para o seu povo – e mesmo para a imprensa: “grande parte da imprensa viera em apoio de Lincoln, elogiava-lhe as palavras, sobretudo punha em relevo a sua vida de contínuo trabalho, a honestidade inquebrantável, a bonomia, o interesse pelos negócios públicos; ao passo que os homens sem carácter que tinham ido ao encontro dos desejos da multidão, que tinham flutuado ao sabor das assembleias de comício, se afundavam um a um, Lincoln, que não cedera, que se opusera, sólido, às correntes, era agora, para todos, a figura mais notável dos Estados Unidos”.
Tudo isto sem procurar “conservar a todo o custo a popularidade”: “Não procurava, no entanto, conservar a todo o custo a popularidade; quando era preciso levar a efeito alguma medida que lhe poderia trazer uma perda de prestígio não tinha hesitação em o fazer.”. Eis, de igual modo, o que sucedeu a respeito de uma outra grande causa sua: a Abolição da Escravatura. Por ela lutou toda a sua vida e ainda em vida pôde dar também esta causa como, em grande parte, pelo menos, realizada[1]. Também por isso Agostinho lhe presta a sua Homenagem.
[1] “Estava realizada a obra por que lutara toda a vida; os mercados de Nova Orleães, as algemas e as vergastadas acabavam para sempre; a poder de sacrifícios, de horas trágicas, de tenacidade e rectidão, uma grande mancha desaparecia da terra; milhares de almas renasciam, numa esperança imensa para todos os que sofrem e para todos os que lutam pela sua liberdade; o caminho ficava traçado para o futuro: pela íntima união da energia e da bondade, será possível restituir à sua dignidade de homens todos os que as circunstâncias lançaram na miséria e numa vida de animais; nenhuma empresa se revelava impossível a quem nela pusesse a vontade que nada quebra, o seguro conhecimento dos meios de que se tem de servir e o ideal que ampara e conduz através de todos os desvios e obstáculos; o movimento continuaria e mais cedo ou mais tarde lhe haviam de sentir os efeitos os obscuros trabalhadores que, de todo o mundo, o tinham acompanhado na faina.”.
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