A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

"VIDAS DE HOMENS CÉLEBRES" (III)

III - FRANCISCO DE ASSIS

Tendo nascido por volta de 1182, falecido a 3 de Outubro de 1226 e canonizado logo dois anos depois, Francisco de Assis ficou conhecido não apenas por ter sido o fundador da "Ordem dos Frades Menores" mas, sobretudo, pela sua perspectiva integradora da natureza em geral na salvação cósmica.
Na sua Biografia, Agostinho da Silva reconstitui os principais passos da emergência desta vocação eminentemente religiosa. Desde logo, a sua tendência para o isolamento – “Via claramente que só o homem solitário encontra os caminhos do futuro, que só na meditação recolhida, no silencioso iso­lamento se vão apurando os rijos aços que abrem depois, irresistíveis, as selvas encobertas.” –, que nem mesmo um amigo de maior confiança partilhava[1].
Nesses momentos de isolamento, sentia Francisco de Assis de forma acentuada toda a dor do mundo e a necessidade da sua redenção: “Francisco lastimava as pobres vidas que se desenrolam nas trevas, e, na solidão da gruta, as lágrimas corriam pela desgraça dos homens; queria salvá-los, mas não sabia o que fazer, não encon­trava o meio poderoso de os guiar, os trazer ao esplêndido caminho”.
Dúvida tanto maior porquanto esse era um caminho para todos: “Havia (…) que alargar a sua acção; o mundo não se resumia a Assis, vastas regiões esperavam, para além das linhas de cumeada, que lhes levassem a palavra de Deus e ensinassem os homens a serem cari­dosos, desinteressados, cumpridores dos mandados da sua consciência. Pregar em Assis, entre o carinho, o bom acolhimento de todos, era empresa fácil em que adormeciam e, finalmente, se apagariam as for­ças, se abateria a alta chama do zelo; tinham de ir pela Itália inteira, mais tarde pelo mundo, a incitar a uma vida cristã.”.
Ainda nas palavras de Agostinho, o que desde logo caracteriza esse caminho de pregação é a sua simplicidade: “As pregações de Francisco eram modestas e simples; acostumados à retórica complicada, aos efeitos de palavras, ao saber pesado dos oradores habituais, todos seguiam, a princípio com espanto, depois domi­nados pelo tom fraterno, as falas de Francisco; tinham diante de si um amigo que vivamente conversava, lhes penetrava na alma, lhes sorria como a velhos companheiros, os ia levando, afectuosamente, cheio de ternura e de perdão”.
Mais do que de palavras, tratava-se, de resto, de dar o exemplo: “Percebia, além de tudo, e não se cansava de o repetir aos seus fra­des, que a grande pregação é o exemplo; bem dizia o Evangelho que os médicos se devem curar a si próprios antes de tentarem a cura dos res­tantes; só o exemplo é eficaz perante os que, justamente, desconfiam do vão ruído das palavras; ser bom gera a bondade, ser paciente gera em volta a paciência, como nunca o poderão fazer os discursos mais cui­dados, as frases mais perfeitas; ninguém segue o homem que se limita a mandar e não cumpre ele mesmo o preceito estabelecido; sobretudo lhe falta o calor de verdade que funde todos os gelos, o acento essencial que produz as músicas futuras (…).
Eis, em suma, a perspectiva de Agostinho sobre o trajecto e o legado de Francisco de Assis.

[1] “Só um amigo de maior confiança o acompanhava nalguns dias; esse mesmo não penetrava nas grutas escuras e húmidas da montanha onde Francisco se sumia; paciente, esperava que o companheiro saísse e entre­tinha-se a olhar os voos ritmados e dourados das pombas, os carreiros que passavam pela estrada do vale; quando Francisco lhe surgia, nem ousava perguntar o que estivera fazendo; grande mistério devia ser e a sua discrição impedia-o de o querer penetrar; vagamente adivinhava que a ocupação era complexa e estranha; havia no rosto do amigo, quan­do aparecia à entrada da cova, uma expressão mista de alegria, de confiança, de reflexão e de angústia; os olhos perdiam-se numa contem­plação que os fazia resplandecer de juventude interior, mas a testa se vincava, dolorosa, como na busca de alguém que se furtava ou num pen­samento que o pungia; não havia, porém, uma palavra de abandono e confidência.”.

2 comentários:

António José Borges disse...

... à semelhança de António Vieira.

Abraço físico,
António.

Renato Epifânio disse...

E sobretudo do próprio Agostinho. Estes retratos são, sobretudo, auto-retratos...

Abraço MIL