Ah, Portugal, me perdoa
pelas oliveiras que plantei
ao contrário
(raízes sacolejando
ao vento).
Me perdoa, Portugal
pelos portos que construí
no deserto
(afundei tuas naus
entre meus delírios).
Me perdoa, me perdoa
pelos fados que corrompi
em cuícas e cavaquinhos
(inventei danças e
renomeei tuas ruas).
Me perdoa
pelos Pessoas analfabetos
que deposito em pampas
e sertões;
pelos Agostinhos reacionários
da Avenida Paulista
e por todos os Saramagos
que mantenho em meus
sanatórios.
Me perdoa, Portugal
por escravizar tua língua
e taquigrafar poemas velhos
e esquálidos.
Me perdoa pelos monstros
com que te cerquei
no Atlântico
(eram falsos todos aqueles
Santos e Vascos da Gama).
Sei que incendiei teus lares
e ofendi tuas crenças;
sei que traí teus amores
(vejo pelas lágrimas que chegam
à Baía de Guanabara).
Por isso te peço perdão, Portugal,
e bebo teu vinho com cachaça
e Coca-Cola.
Fabrício Fortes [fabricio.fortes@hotmail.com]
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
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1 comentário:
...é isso Fabricio, mais uma bela poesia sem medo de misturar...
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