A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Do "afecto português e imoderado amor e zelo da Pátria" como desvio do "último fim"


“Recebi esta de Vª Sª, de 21 de Setembro, estando em exercícios. […] sendo o intento de Santo Inácio, nos mesmos exercícios, propor a todos os meios eficazes de compor e moderar as paixões que nos desviam do último fim, eu, considerando nas minhas, e na predominante contra a qual deve ser o maior combate, achei que era o afecto português e imoderado amor e zelo da Pátria; e contra este tão forte inimigo me tinha armado, convencendo-o com tantas razões quantas em mim concorrem mais que em outros. Mas ainda que o tenho muitas vezes convencido, não acabo de o ver vencido”

- Carta a Duarte Ribeiro de Macedo [1673], Cartas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1971, II, p. 646.


O Padre António Vieira fala aqui da sua prática, segundo as instruções dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, do que noutro post, que causou tanta incompreensão, chamei de "introspecção meditativa". Creio que a tensão e o "maior combate" de que esta carta nos dá conta terminou com a vitória sobre o patriotismo imoderado, a julgar pela quase completa ausência do nome de Portugal (ocupa duas ou três páginas, no contexto da referência ao papel evangelizador dos povos ibéricos) no grande tratado que deixou inconcluído, a Clavis Prophetarum, sobre a consumação do Reino de Deus na terra ou Quinto Império. São mais de setecentas páginas em latim, das quais ainda só foi traduzido e publicado o livro III. Vieira considerava este livro a sua "catedral", considerando os Sermões meras "choupanas", que o estavam a desviar do essencial. A edição que utilizei e possuo fotocopiada é a do manuscrito 359 da Biblioteca Gregoriana de Roma.


Sobre este assunto publiquei o livro A Plenificação da História em Padre Vieira. Estudo sobre a ideia de Quinto Império na "Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício", Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1995. Sairá em breve um outro sobre a mesma questão.

8 comentários:

Rui Martins disse...

Sobre isto, eis o que penso:
Portugal não é um estado-nação como a França, a Alemanha ou a Dinarmarca.
Portugal é um conceito de vida em comum, de "vida conversável" no melhor sentido agostiniano.
Em dado momento histórico, essa vida, possível na nossa plena medievalidade, deixou de ser possível no continente europeu, por mercê das influência maquiavélicas (Dom João III) e centralistas. Daí o exôdo do verdadeiro Portugal para o Brasil.
Daí, também, a necessidade de re-fundar Portugal, ABOLINDO-O e recentrando a portugalidade numa União Lusófona em que Portugal e o Brasil (como propulsores) findam e formam uma nova entidade estatal, intensamente descentralizada nos municopios, transnacional e transcontinental.

Será pela adesão apaixonada a este ideia renovada de "Portugal", que ela se poderá concretizar no mundo e brotar a União Lusófona, um verdadeiro percursor das "Ilhas dos Amores" que depois irão florescer pelo mundo fora, noutras culturas e gentes.

Será este pensamento anti-patriótico?
Sem dúvida.
Se por Pátria tivermos a leitura nacionalista do termo.
Se não formos tão portugueses como eram os portugueses da época de Dom Dinis.

Paulo Borges disse...

Caro Clavis, concordo plenamente com o que escreves e foi isso que designei como patriotismo trans-patriótico e universalista. Mas a compreensão disto implica uma mutação radical da atitude mental do patriotismo comum e, ao mesmo tempo, e isto creio ser um acrescento ao que dizes, o reconhecimento de que Portugal passa a ser uma metáfora, uma "ideia a difundir pelo mundo", como o diz Agostinho na "Reflexão", que pode assumir e assume outros nomes noutras culturas e noutros povos. Ou seja, os portugueses, os brasileiros e os lusófonos não são os únicos nem os principais a deter esta ideia de um mundo diferente, a que na nossa tradição se chama "Quinto Império", e muitos outros homens, noutros horizontes geográficos e mentais, já desde sempre a desenvolvem e promovem. Por isso defendo que um português e um lusófono culto é aquele que cultivar a sabedoria universal, sem deixar nada de fora. É isso que está na vocação quinto-imperial do "sermos tudo" de Pessoa e que se consagra na Declaração de Princípios e Objectivos do MIL.

Rui Martins disse...

Exato.
O própriop Agostinho sonhava com um mundo re-unido-se por fases, em que a primeira seria a "união lusófona", seguida da "união ibérica" (de todos os povos de línguas ibéricas), uma "união latina" (de todos os povos de falas latinas) seguida, depois de uma união mundial, centrada sempre na libertade dos municipios, formando "federações livres" no local de cada "Estado-Nação" extinto e agregado a esta entidade pluricontinental.

O problema está em que nestas ideias caminhamos contra décadas de ensino patriótico e nacionalista, ainda muito forte nos nossos manuais escolares e na "cultura letrada" que enformam ainda os nossos "opinion makers".

Daí toda a oposição que estas ideias (sem dúvida revolucionárias), criam...

Paulo Borges disse...

A questão é que isto é uma bela visão no plano das ideias, mas, para se incarnar, tem de começar por nós próprios, pela transformação profunda da nossa maneira de pensar, sentir e agir. Sobretudo por nos libertarmos da ideia de uma separação e oposição irredutível entre nós e os outros, entre nós e o mundo. Senão defenderemos intelectualmente e por palavras uma coisa e praticaremos na vida outra. É para isso que considero fundamental a introspecção meditativa que referi: olhar para dentro, podar as ervas daninhas e cultivar e regar a planta que queremos ver crescer. Nada mais: não é um acto religioso, não supõe qualquer tipo de crença, sendo por isso conciliável com qualquer uma ou com a sua ausência.

Anónimo disse...

Em definitivo, prefiro a ginástica sueca praticada pelo Fernando Pessoa. Mas satisfaz-me ter ficado esclarecido das condições prévias exigidas em segredo elitista para um «verdadeiro militante» do MIL. Não as reúno, mas estarei presente em todas as assembleias para usar o meu direito de votar contra tudo o que me desagrada.

Casimiro Ceivães disse...

Paulo Borges e Clavis, ao ler-vos ocorre-me o seguinte: (é longo mas não soube resumi-lo):

1) Na Clavis Prophetarum - na sua "atenuação", digamos assim, do papel de Portugal - percebe-se em Vieira o desenvolver da ideia de que a consumação do Reino era afinal uma tarefa comum da cristandade; (digo isto tendo presente que, na espiritualidade cristã, a consumação do Reino é sempre, em última análise, uma tarefa divina - isto é, não se trata de um projecto "titânico", "mágico" ou "voluntarista" - tal como já o não tinha sido a vinda do Messias: o que não quer dizer que não fosse importante "aguardá-lo guardando-o no coração".
[NOTA: Não li a C.P.! Especulo a partir do que disse aqui o Paulo]

2) Se for assim como digo, isso seria um "regresso" à ideia comummente aceite pela cristandade, a de todos os cristãos ou homens de boa vontade serem por igual chamados: quero dizer com isto, se posso brincar um pouco, que o Francisco I de França não teria afinal que se queixar - além da queixa que formulou, face a Tordesilhas, de ter sido "excluido do Testamento de Adão" - de ter sido reservado ao seu reino o papel de figurante destinado a absorver-se passivamente em Portugal...

3) Mas assim sendo, então em rigor nada nos fica dito quanto ao papel das diversas Nações neste período intermédio da História de preparação para o Advento... De modo que temos que reanalisar esse problema sem nos deixar entusiasmar, por assim dizer, pela exaltação "quinto-imperial" portuguesa.

4) A ideia de que as Nações têm um diferente papel meta-histórico - e que, sempre na tradição judaico-cristã, assenta creio eu naquela referência bíblica à luta entre o "anjo de Israel" e o "anjo da Pérsia" foi por exemplo muito forte em França em diferentes épocas, "fille ainée de l'Église" (também em principio tudo isso reforçado pelo caso extraordinário de Joana d'Arc);

5) Neste ponto, poderemos ir buscar a ideia do "Portugal, gente conversável" do Agostinho, mas permanece o problema de saber se se trata de jogo e predestinação de uma qualquer Providência, ou se é só um acaso, um pouco à semelhança daqueles suiços do Borges que "tomaram a estranha decisão de ser racionais".

6) Ainda que não haja essa predestinação ou papel meta-histórico português (se a houver é irrelevante que lhe dicutamos o fim) parece-me possivel nesta fase do raciocínio chegar a uma espécie de bifurcação: por um caminho, defender que a valia histórica de Portugal (o simples facto de ser nação lhe não traz nenhuma, à semelhança da pobre Dinamarca) consistiu em ter sido visivel para nós, que nos habituámos a ver a História como a História das Nações, a possibilidade prática da conversabilidade: não é uma utopia de filósofos, mas uma coisa que aconteceu aqui neste lugar do mapa e neste ponto da seta do tempo. Se aconteceu uma vez, diz-nos o bom senso que pode voltar a acontecer: em princípio, não há milagres. MAs então Portugal cumpriu-se, de facto, e falta já não faz nenhuma (falta faz a "conversabilidade", ela mesma). Como a antiga Grécia, que ainda hoje nos inspira já não existindo.
[NOTA: estou ciente de que o pressuposto explicito no Manifesto da N.A. é o da "não-entificação"]

7) Mas por outro caminho dir-se-á que a constatação da "vida conversável" em Portugal mostra a importância da manutenção de uma Nação - a conversa começa geralmente a dois, ou a poucos, embora depois, como aqui, progressivamente se vá alargando. Por este caminho dir-se-á que não é a Nação o obstáculo, mas o "maquiavelismo" (e agora, infelizmente, mais um conjunto de problemas com que D. João III nem sonhava); e poder-se-á continuar defendendo que a libertação das ilusões do "mundo moderno" é mais eficaz quando realizada num quadro comunitário, ou nacional.

8) Aqui voltamos ao "patriotismo" e às paixões imoderadas do Vieira. Eu lembro-me, por exemplo, de ler numa crónica dos Descobrimentos a história de um D. Manuel de Lima que, para intimidar com os seus navios o capitão turco
de uma fortaleza, mandou encher os mastros de cadáveres de gente que foi passando a fio de espada à medida que cruzava as aldeias vizinhas dessa fortaleza; parece que aterrorizou de tal modo os turcos que se renderam de imediato; mas não pode, obviamente, justificar a sua acção com o "patriotismo" que talvez sentisse. Obviamente, não queremos mais gente desta.

9) Não me parece evidente, neste caso, a vantagem de uma "união luso-brasileira" que não seja PRECEDIDA por um retomar de consciência "local". Posto de outra forma, reconhecendo vantagem no diálogo das línguas, não vejo que o Esperanto seja salvífico: e por isso hesito diante do "refundar Portugal, abolindo-o" como hesitaria diante do "refundar a língua portuguesa, adoptando o Esperanto". O inglês está aí pronto a servir em todo o planeta.

Cordiais cumprimentos,

Casimiro Ceivães disse...

Reli o que escrevi, e queria salientar que embora partindo do texto do post refiro-me mais, interpelativamente, ao diálogo que antecede o meu comentário.

Paulo Borges disse...

Caro Casimiro, respondo à pressa, sem tempo nenhum, só para dizer que vou pensar melhor sobre o que escreve, mas estou de acordo que o fundamental para já é um retomar de consciência local, neste caso portuguesa, das nossas possibilidades de nos auto-elegermos (era a ideia do Agostinho da Silva, que ele substituía à da eleição mítica e providencial de Portugal por Cristo em Ourique) para essa tarefa de globalizar a "vida conversável", em alternativa à actual mundialização de um paradigma completamente oposto. Aquilo que já encontro em Agostinho e no qual insisto é na dimensão interior e pessoal disso. E também gosto de insistir na necesidade de reconhecermos que o mesmo já está em curso noutros povos e culturas.
Não se trata de refundar Portugal abolindo-o, mas sim de o refundar numa ideia e num serviço do diálogo, da paz e do bem universal, o que não foi nem tem sido o seu primeiro e maior imperativo. Mas devo acrescentar: tanto quanto é possível a uma nação, que é constitutivamente limitada no que respeita a fins últimos, que são sobretudo de cada homem. Não tenhamos a ingenuidade de esperar de Portugal aquilo que nem cada um de nós quer ou consegue realizar!