LICHNOWSKY
Félix de Lichnowsky, filho de Eduardo Maria de Lichnowsky, nasceu a 5 de Abril de 1814; depois dos estudos elementares, serviu no exército prussiano, tendo abandonado o seu regimento para militar em Espanha, nas fileiras do príncipe D. Carlos, em 1838; chegou a desempenhar o cargo de ajudante do príncipe, mas em 1840 regressou à Alemanha; conhecia já nesta altura uma grande parte da Península, mas a sua curiosidade das paisagens, dos costumes, da organização social, levou-o, dois anos depois, a empreender uma viagem pelo nosso pais, finda a qual fixou residência numa sua propriedade da Silésia. Em 1847 fez parte do Parlamento de Francfort e as suas tendências políticas levaram-no a tomar lugar entre os membros conservadores da assembleia; a sua contínua oposição, acentuada por vezes pela ironia, levantou as cóleras do partido adverso, cujos elementos mais exaltados esperavam apenas uma ocasião de se vingar; chegou ela quando foi anunciado que se firmara um armistício com a Dinamarca: houve tumultos nas ruas e num deles foi assassinado Lichnowsky, a 18 de Setembro de 1848. O seu livro sobre Portugal foi logo traduzido para a nossa língua, alcançando segunda edição no ano de 1845; foi desta edição portuguesa, a que o tradutor juntou notas que esclareciam ou corrigiam certas informações, que se extraía o presente caderno. O livro principia pela descrição da viagem desde Mogúncia a Lisboa, com escala por Rotterdam, Londres, Southampton, Falmouth e Vigo; fala da miséria da Espanha, com veneração pelas qualidades do povo e censura pela incapacidade dos dirigentes; depois, a partir da embocadura do Minho, descreve a costa de Portugal, fazendo, a propósito do Mindelo, algumas considerações sobre a guerra entre liberais e miguelistas. A chegada a Lisboa dá ocasião a que se pinte a vista da cidade e se faça um primeiro contacto com os costumes portugueses — o arranjo da hospedaria, a ementa do jantar, o teatro, os hábitos da rua; segue-se uma visita ao duque da Terceira, com quem trava relações mais apertadas e que põe, com o duque de Palmela e Costa Cabral, no primeiro plano das personalidades do país. Vêm depois notas sobre Sintra, Queluz, Benfica, o aqueduto das Aguas Livres, o Palácio das Necessidades, entremeadas com observações sobre a política, o exército e um resumo do estado das relações entre o Estado e a Igreja (Cap. II). No III Capítulo, escreve Lichnowsky sobre os partidos políticos, com grande imparcialidade, e salientando sempre a falta de educação cívica dos portugueses, a vivacidade dos seus ódios políticos, o gosto da retórica, a incompetência quase geral dos chefes; juntamente com uma descrição da visita a igrejas e edifícios notáveis de Lisboa, dá-nos algumas páginas sobre as corridas de touros, Alhandra e Sobralinho. No Capítulo seguinte começam as digressões pelo país, com excursões pelo Vale de Zebro, Palmela, Setúbal, Arrábida, Sintra, a que sucedem viagens à Figueira, a Coimbra, a Aveiro, ao Porto, a Braga e Guimarães, ao Buçaco, a Leiria, Alcobaça e Batalha, o que dá ao autor bastante oportunidade para descrição, para reflexões sobre o estado económico do país, ao mesmo tempo que vai fornecendo várias notícias históricas. O Capítulo VI e último do livro é dedicado à saída de Portugal, com viagem por Cádis, Sevilha, Gibraltar e outras cidades de Espanha, e o episódio da prisão do autor em Barcelona, como carlista. A obra de Lichnowsky, embora com os erros e observações superficiais que eram quase inevitáveis, marca bem certos aspectos do Portugal da época e até, através dos acontecimentos de momento, algumas características mais fundas da nação: a intolerância politica, a incapacidade de organizar, o desleixo material, a ignorância, o gosto da ostentação, tudo isto ligado a excelentes qualidades de imaginação, compreensão viva e rápida, e, no povo, de trabalho persistente e honesto.
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