A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 14 de setembro de 2008

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)


HERÓDOTO

As datas da vida de Heródoto não estão seguramente estabelecidas; deve ter nascido em Halicarnasso, colónia que os dórios tinham fundado e que estava submetida aos persas, por volta de 480 antes de Cristo; apesar das circunstâncias da fundação da cidade e de ela estar incluída no império dos persas, foi a civilização jónia a que mais influência exerceu sobre Heródoto, até na língua que mais tarde utilizou como escritor; cerca dos vinte anos, devido a lutas políticas, abandonou a cidade e refugiou-se em Samos, tendo estado também em Atenas, o que deve ter contribuído bastante para equili­brar no seu espírito e as fundir num todo a corrente dória e jónia que nele coexistiam; deve ter em seguida partido para algumas viagens, talvez de pouca duração, e voltado a Atenas onde travou relações com Péricles e Só­focles; não se sabe se é por esta altura ou mais tarde que se deve colocar o episódio da leitura pública de um trecho da sua obra; por 444 antes de Cristo, fixou-se na cidade de Túrio, na Itália meridional, onde se tinham estabelecido colonos gregos de várias origens, mas a estadia não foi, segundo parece, muito duradoura; entre 431 e 421 empreendeu mais viagens, vindo a morrer, segundo todas as probabilidades, por 425. As viagens de Heródoto, conforme o que se depreende do que escreve e de uma ou outra vaga infor­mação que nos deixaram outros autores, foram pela costa da Ásia Menor, pelo Mar Negro, muito frequentado pelos gregos, até à embocadura do Dnieper, por toda a península grega, pela Trácia e Macedónia, pela Sicília e pelo Sul da Itália, e, também, a Babilónia e Tiro; era, com excepção de algumas regiões do Mediterrâneo ocidental, do norte da Africa e dos territórios para além do Danúbio, tudo quanto conheciam os gregos. Heródoto aparece-nos assim como um dos grandes viajantes da antiguidade; leva-o o espírito de curiosidade, o desejo de conhecer regiões novas, de comparar os costumes diversos dos homens, de se documentar para escrever o trabalho que empreendera; a guerra entre persas e gregos, que durara de 500 a 449 antes de Cristo, e de que ainda vira a última parte, impressionara-o como um dos maiores acontecimentos humanos, parecendo, no entanto, que não compreendeu, o que era natural, tratar-se de uma «esquina da história»; por outro lado, a guerra parecia o quadro ideal para contar o que soubera dos vários países envolvidos na luta e dos homens que o habitavam. Na sua forma actual, a História de Heródoto, que se chama simplesmente «Exposi­ção das suas investigações», está dividida em nove livros, cada um com o nome de uma das Musas; trata-se de um trabalho de eruditos alexandrinos: Heródoto escreveu a sua obra como uma narração contínua; começa por contar como se originou e desenvolveu o império persa, com a história de medos e persas, fala depois de Cambises, o que dá oportunidade para a des­crição do Egipto, em seguida de Dário, com descrição dos scitas; no livro V narra a revolta das colónias da Ásia Menor, causa próxima da guerra cuja narrativa, até à tomada de Sartes pelos atenienses (479), ocupa o resto da obra. Embora bastante crédulo — mal sabemos de resto onde se situa em Heródoto a fronteira entre a credulidade e a ironia—, bastante impreciso e até, em certos pontos, mal informado, Heródoto é sincero, imparcial e dá um bom quadro de conjunto da guerra e das nações que nela entraram; como escritor, a simplicidade do seu estilo, a ausência de retórica, mesmo perante os acontecimentos mais grandiosos, contribuem para acentuar a impressão de verdade e para revelar através de toda a prosa um espírito que deve ter sido bom, um tanto ingénuo, quase infantil em muitas das suas manifes­tações.

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