meu povo é doce
malandro sensual
é um povo gostoso
dançarino musical
meu povo é mestiço
linguarudo fofoqueiro
é um povo inteligente,
ignorante e condoreiro
(...)
Estes fragmentos da poesia de Glauber Rocha (cineasta, ator e escritor) retratam bem o povo brasileiro. É um povo com características peculiares de cada região, todas ricas em folclores e tradições. Em cada brasileiro, o linguajar é melodioso e característico. Povo surgido de diferentes matizes e matrizes, onde muitos são sábios iletrados.
Darcy Ribeiro, em seu livro O Povo Brasileiro, descreve-o como um povo novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiças, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais oriundos.
Nesta reconstituição, ele enfatiza a confluência, ou seja, fala da união ocorrida entre portugueses, índios e negros, matrizes étnicas do Brasileiro. Ainda uma esclarecedora visão de Darcy Ribeiro, de um brasileiro para brasileiros :
"Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos atenham a qualquer servidão, desafiado a florescer, finalmente, como uma civilização nova, autônoma e melhor. Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo do brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e se fixou nas áreas, onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma o Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e de Luanda.."
"Também, porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. E, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímel alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove todos os brasileiros." (O Povo Brasileiro, Darcy Ribeiro).
Através da música e da literatura, podemos traçar um perfil deste povo moreno, caboclo, com variados tipos – do rural ao urbano – que caracterizam os " Brasis" (Crioulo, caboclo, sertanejo, caipira, e os Brasis sulinos: gaúchos, matutos e gringos).
Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato eternizou-se no linguajar designativo e pejorativo do roceiro. O Operário em Construção, de Vinicius de Moraes, retrata o tipo urbano pobre. O malandro, tipo bem brasileiro, a personificação de Bezerra da Silva e tão bem retratado nas músicas de Chico Buarque. Além de inúmeras figuras como João Francisco dos Santos, o Madame Satã, transformista brasileiro. Ainda na música Zé do Caroço de Leci Brandão , retrato bem atual de mais um tipo brasileiro.
Não deixo aqui o registro apenas das tipificações masculinas. As mulheres brasileiras, a sua força e bravura tiveram grande influência neste meu Brasil. De Amélia (música de Mário Lago) que exalta a mulher cordata, servil, companheira e passiva a inúmeras outras mulheres que infrigiram normas sociais e culturais como Chiquinha Gonzaga, que revolucionou a nossa música e hábitos, com o toque sensual e brejeiro da mulher brasileira.
Não poderia de registrar aqui a fortaleza, a garra da mulher nordestina, As paraibanas, chamadas mulher-macho, em nada incorpora a mulher masculinizada, mas a sua garra e fortaleza.
Belezas mulatas e índias são retratadas na literatura, música e pelos pincéis de Di Cavalcanti e Candido Portinari.
Finalizo, com uma pequena estrofe da poesia de Gilberto Freyre, "O Outro Brasil Que Vem
Eu ouço as vozes
(...)
1 comentário:
Bem-vinda a esta Casa comum, Sam, e obrigado pelo excelente contributo.
Aqui deixo dois links, para quem queira conhecer melhor Darcy Ribeiro e a obra referida:
Link 1;
Link 2.
P. S. E se tiver escassez de genro aí por Terras de Vera Cruz, me avisa, tá? ;)
Beijinho.
Enviar um comentário