A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)


ARRIANO, MANUAL DE EPICTETO (V)

Nas coisas que tocam à Religião dos Deuses, a principal coisa é sentir bem deles, que creias que os há e que governam bem e justamente todas as coisas, que estás obrigado a obedecer-lhes e ter por bem o que se faz por eles e isso seguir de boa-vontade, como coisas ordenadas por tão alto Saber. Assim, nem os acusarás nunca, nem te queixarás que não fazem caso de ti. Ainda que isto nunca o poderás fazer, se não deixas primeiro as coisas que não estão em nossa mão pões o bem e o mal nas que estão em nosso poder; porque, se imaginas que naquelas coisas está o bem ou mal, forçosamente, quando não alcançares as que pretendes ou caíres nas de que fugias, te hão-de queixar aborrecer os autores delas. Coisa é natural a todo o animal fugir e aborrecer todas as coisas que lhe são danosas e as causas delas; e, pelo contrário, buscar e amar as que lhe são proveitosas e suas causas. Nem há ninguém no mundo que folgue com aquilo que cuida que lhe é mau, porque ninguém se alegra e folga com seu mal próprio e daqui nasce que o filho diz mal do pai, se não parte com ele largamente de sua fazen­da; e daqui teve princípio a guerra e discórdia entre Etéocles e Polinices
[1], porque tinham para si que era boa coisa reinar. Também por esta causa blasfema o lavrador de Deus, por ela o marinheiro, o mercador e os que perdem os filhos ou as mulheres, porque o interesse é a religião de cada um. Portanto, o que procura de aborrecer e desejar as coisas como deve ser, Este tal guarda bem o que é pio e religioso. Os sacrifícios, ofertas e primícias sejam, segundo o costume da Pátria, casta e puramente oferecidas, não com negli­gência e miséria, nem mais do que tua faculdade e substância permitem.

Quando fores consultar o que adivinha, lembra-te que não sabes o que vais perguntar e que para isso vais a saber; e se fores sábio e filósofo, antes que saíras de tua casa o puderas saber. Porque, se é das coisas que não estão em nossa mão, sabido está que não há bem nem mal nelas. Portanto, não há que perguntar ao que adivinha o que hás-de fugir ou o que hás-de procurar; doutra maneira irás tremendo quando fores. E assim, isto hás-de ter por firme pres­suposto que nem um acontecimento bom ou mau qual­quer que seja te toca a ti nem te há-de mover um ponto, pois podes usar dele bem e convertê-lo em teu proveito sem que ninguém to possa impedir. Aconse­lha-te com Deus com muita confiança; e do que te aconselhar tem memória e lembra-te que, se não segui­res seu conselho, que desprezarás a autoridade de tão grande conselheiro. Quando finalmente fores ao Orá­culo, seja como Sócrates ia, que era tratar só das coisas de que com nenhuma razão nem arte se pode dar nelas, por totalmente se não saber quais são, senão pelo sucesso que depois se vê. Para socorrer ao amigo que está em necessidade ou à Pátria, não há para que con­sultar o que adivinha se nos poremos a perigo por isso. E, quando disser que os sinais nos sacrifícios que fez não são propícios, sabido está que, quando muito, podem ameaçar morte ou perda de algum mem­bro ou desterro; mas, por outra parte, também a razão diz que pelo amigo e pela Pátria vos haveis de pôr a perigo. E senão, olha o que fez o grande Oráculo de Apoio que mandou deitar do templo a um que, vendo matar um seu amigo, não o socorreu como estava obrigado.

Põe-te a ti mesmo alguma regra e lei que guar­des contigo mesmo e com todos aqueles com que tratas.

Pela maior parte, cala sempre e diz só as coisas necessárias e essas com poucas palavras. Poucas vezes, ainda que se ofereça ocasião, saiamos a falar e, quando o fizermos, não seja de qualquer coisa, nem tratemos dos esgrímidores, nem do que aconteceu nos jogos, nem de comer ou beber, que são tudo coisas muito ordinárias. E, mais que tudo, nos guardemos de quando se fala de algumas pessoas, que nem as louve­mos muito, nem comparemos com outras.

Quando boamente puderes com os que tens fa­miliaridade encaminhar a prática a que se trate do que convém, procura-o e, se estiveres com gente com que não tens conversação, cala-te.

O riso não seja muito, nem de qualquer coisa, nem de maneira que te descomponhas.

O jurar escusarás de todo ponto, podendo ser, ou, ao menos, quanto puderes.

Foge os banquetes de gente vulgar e fora da tua conversação. Mas se alguma hora for necessário, tem muita conta em que não te derrames, acomodando-te aos costumes vulgares. Porque, quando o companheiro não andar limpo, sabe que o que muito se ajunta com ele, por mais limpo que esteja, por força se há-de sujar.

Das coisas que servem ao corpo não se há-de to­mar mais de quanto convenha para o ânimo, como de comer, beber, vestido, casa e serviço; o que não serve senão de vaidade ou de delícias, deita-o de ti.

Quando te disserem que alguém diz mal de ti, não te desculpes, mas responde: — «Não sabe ele todas as minhas faltas, pois não diz mais que essas ».

Quando fores falar com algum senhor, cuida pri­meiro que não o acharás em casa, ou que estará reti­rado, ou que te darão com as portas no rosto, ou que não fará caso de ti. E se, com tudo isto, te convém ir, sofre o que suceder e não digas: — «Não cuideí que me sucedesse isto», porque é de homem vulgar queixar-se das coisas que estão fora dele.

Nas familiares conversações guarda-te de contar tuas façanhas e os perigos que passaste, ponderando aquilo prolixamente, porque não gostam tanto os ou­tros de ouvir os trabalhos que passaste, como tu de os passar pela memória e contar.

Se a imaginação te representar algum deleite, tem mão em ti e não te movas logo a segui-lo; mas cuida bem no que é e toma tempo para deliberar. Depois disto, te hás-de lembrar de dois tempos: dum, em que hás-de gozar daquele deleite; e outro, em que te hás-de arrepender de o haver gozado. E te hás-de repreender e conferir uma coisa com a outra, que, se te refreares, que te alegrarás depois e te louvarás. Mas se, contudo, te determinares de admitir aquele deleite, olha bem que te não vençam os afagos, suavidades e os mimos. E a tudo isto opõe, quanto mais excelente coisa é, de­pois de haver vitória, uma boa consciência.

Quando fizeres alguma coisa que te convém fa­zer, não te pese que te vejam, ainda que o vulgo haja de julgar aquilo por mal; porque, se a coisa é má, não a faças e, se é boa, que te dá dos que repreendem sem razão?

Se quiseres representar nesta vida alguma figura que excede as tuas forças e capacidade, farás duas coisas: isto que não podes, fá-lo-ás mal e indecentemente, e deixarás o que puderas fazer bem e com louvor.

Como, quando andas, vais com tento, não metas algum prego pelo pé ou o desconcertes e torças, assim no discurso da vida tem tento que a razão governa­dora de tuas acções não receba dano ou se descompo­nha. E, se tivéssemos este advertimento no princípio, com mais consideração cometeríamos as coisas.

A medida da riqueza deve de ser para cada um sua pessoa, como a do sapato é o pé. E, se nisto te pões com determinação, não excederás o modo; não o guardando, irás com ímpeto, como quem se despenha de um monte; como, se pretendes mais que andar cal­çado, logo quererás que seja o sapato dourado ou pes­pontado e de púrpura, porque, como se passa o modo que é a necessidade, tudo o outro não tem termo.

É sinal de engenho grosseiro gastar muito tempo nas coisas que pertencem ao corpo, como gastar muito tempo em comer ou beber, ou em muito exercitar-se, ou noutras coisas que, ainda que sejam necessárias, hão-de fazer-se como de passagem e o cuidado todo empregá-lo nas coisas de alma.


[1] Eram ambos filhos de Édipo, lendário rei de Tebas; é a luta entre os dois irmãos que serve de fundo à tragédia Antígona de Sófocles

3 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

«Coisa é natural a todo o animal fugir e aborrecer todas as coisas que lhe são danosas e as causas delas;» [11ª linha]

Este «Coisa é natural» resulta estranho... Está assim no Caderno?
Não será: «É natural...»?

Renato Epifânio disse...

É mesmo assim que está. Ainda que a conjugação mais legível fosse: Coisa natural é...

Klatuu o embuçado disse...

Ficaria melhor: «Coisa natural é...»; podes sempre alterar, colocando uma nota.

P. S. Estás a cotejar a tradução de Fr. António de Sousa? Pode ser lapso do Agostinho.