A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
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Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)


TOLSTOI, A TERRA DE QUE PRECISA UM HOMEM (VI e VII)

VI
Enquanto os Bashkirs discutiam, entrou um ho­mem com um barrete de pele de raposa; todos se levan­taram em silêncio e o intérprete disse:
— É o chefe!
Pahóm foi logo buscar o melhor vestuário e cinco libras de chá e ofereceu tudo ao chefe; o chefe acei­tou, sentou-se no lugar de honra e os Bashkirs come­çaram a contar-lhe qualquer coisa; o chefe escutou, depois fez um sinal com a cabeça para que se calassem e, dirigindo-se a Pahóm, disse-lhe em russo:
— Está bem. Escolhe a terra que queres; há bas­tante por aí.
— «A que eu quiser? — pensou Pahóm — Como é isso possível? Tenho que fazer uma escritura para que não voltem com a palavra atrás.» Depois disse alto:
— Muito obrigado pelas suas boas palavras; os se­nhores têm muita terra, e eu só quero uma parte; mas que seja bem minha; podiam talvez medi-la e entre­gá-la. Há morrer e viver... Os senhores, que são bons, dão-ma, mas os seus filhos poderiam querer tirar-ma.
— Tens razão — disse o chefe —; vamos doar-te a terra.
— Soube que esteve cá um negociante — continuou Pahóm — e que os senhores lhe deram umas terras, com uns papéis assinados... Era assim que eu gos­tava.
O chefe compreendeu:
— Bem, isso é fácil; temos aí um escrivão e pode­mos ir à cidade para ficar tudo em ordem.
— E o preço? — perguntou Pahóm.
— O nosso preço é sempre o mesmo: mil rublos por dia.
— Por dia? Que medida é essa? Quantos desia­tines?
— Não sabemos; vendemos terra a dia; fica a pertencer-te toda a terra a que puderes dar volta, a pé, num dia; e são mil rublos por dia.
Pahóm ficou surpreendido.
— Mas num dia pode-se andar muito!... O chefe riu-se:
— Pois será toda tua! Com uma condição: se não voltares no mesmo dia ao ponto donde partiste perdes o dinheiro.
— Mas como hei-de eu marcar o caminho?
— Vamos ao sítio que te agradar e ali ficamos. Tu começas a andar com uma pá; onde achares neces­sário fazes um sinal; a cada volta cavas um buraco e empilhas os torrões; depois nós vamos com um arado de buraco a buraco. Podes dar a volta que quiseres, mas antes do sol pasto tens que voltar; toda a terra que rodeares será tua.
Pahóm ficou contentíssimo e decidiu-se partir na manhã seguinte; falaram ainda um bocado, depois beberam mais kumiss, comeram mais carneiro, to­maram mais chá; em seguida, caiu a noite; deram a Pahóm uma cama de penas e os Bashkirs dispersa­ram-se, depois de terem combinado reunir-se ao rom­per da madrugada e cavalgar antes que o sol nas­cesse.

VII
Pahóm estava deitado, mas não podia dormir, a pensar na terra.
«Que bom bocado vou marcar! — pensava ele. — Faço bem dez léguas por dia; os dias são compridos e, dentro de dez léguas, quanta terra! Vendo a pior ou arrendo-a a camponeses e faço uma herdade na me­lhor; compro duas juntas e arranjo dois jornaleiros; ponho aí sessenta desiatines a campo, o resto a pas­tagens.
Ficou acordado toda a noite e só dormitou pela madrugada; mal fechava os olhos, teve um sonho; sonhou que estava deitado na tenda e que ouvia fora uma espécie de cacarejo; pôs-se a pensar o que seria e resolveu sair: viu então o chefe dos Bashkirs a rir-se como um doido, de mãos na barriga; Pahóm aproxi­mou-se e perguntou: «De que se está a rir?» Mas viu que já não era o chefe: era o negociante que tinha ido a sua casa e lhe falara da terra. Ia Pahóm a perguntar-lhe: «Está aqui há muito?» quando viu que já não era o negociante: era o camponês que regres­sava do Volga; nem era o camponês, era o próprio diabo, com cascos e cornos, sentado, a cacarejar: diante dele estava um homem descalço, deitado no chão, só com umas calças e uma camisa; e Pahóm sonhou que olhava mais atentamente, para ver que homem era aquele ali deitado e via que estava morto e que era ele próprio; acordou cheio de horror. «Que coisas a gente vai sonhar — pensou ele.
Olhou em volta e viu, pela abertura da tenda, que a manhã rompia. «É tempo de os ir acordar; já de­víamos estar de abalada». Levantou-se, acordou o criado, que estava a dormir no carro, e mandou-o apa­relhar; depois foi chamar os Bashkirs:
— Vamos para a estepe medir a terra.
Os Bashkirs levantaram-se, juntaram-se e o chefe apareceu também; depois, beberam kumiss e ofere­ceram chá a Pahóm, mas ele não quis esperar mais:
— Se querem ir, vamos; já é tempo.

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