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A Vida e a Arte de Coubert
Em face de uma arte que andava perdida pelas nuvens, que se comprazia no histórico ou na pura fantasia, que se desinteressava da sorte dos homens que vivem e morrem numa terra bem real e bem dura, erguia-se a doutrina de que é preciso representar a vida tal como ela é, não se deixando de pôr na tela e no romance tudo o que constitui a existência, sobretudo nos pontos menos belos para o fino esteta, mas que não são por isso os menos importantes para a maioria dos homens; havia aqui, evidentemente, um ponto fraco em metafísica e outro no próprio considerar da vida: ninguém pode representar a existência tal como ela é, mas apenas como a vê, o que significava que se substituía à visão pessoal de que se acusavam os românticos outra visão pessoal que nada garantia mais sólida; por outro lado, é difícil de defender que uma rainha seja menos real do que um britador, de que um baile seja menos vivo do que um enterro: mas se a concepção, como pensamento, era bastante fraca, havia nela uma generosidade, um desejo de progresso, uma revolta contra os cânones estabelecidos, uma garantia de futuro que não podia deixar de trazer à sua defesa todos os espíritos que a ordem social não satisfazia e ao ataque todos os que de algum modo prosperavam à custa do trabalho dos homens que ainda por cima desprezavam; o que se combatia com inteira razão, era a fuga perante a vida quotidiana no que ela contém de tortura, de desespero, de aniquilamento do corpo e do espírito para os que o acaso não lançou às altas esferas sociais; e havia em todo o movimento um anseio de considerar o universo em conjunto, de não separar as actividades humanas, de não pôr para um lado a vida e para outro a arte que era decerto muito mais amplo e mais digno de homens do que o falso aristocratismo de fidalgos degenerados ou de burgueses enriquecidos.
Em face de uma arte que andava perdida pelas nuvens, que se comprazia no histórico ou na pura fantasia, que se desinteressava da sorte dos homens que vivem e morrem numa terra bem real e bem dura, erguia-se a doutrina de que é preciso representar a vida tal como ela é, não se deixando de pôr na tela e no romance tudo o que constitui a existência, sobretudo nos pontos menos belos para o fino esteta, mas que não são por isso os menos importantes para a maioria dos homens; havia aqui, evidentemente, um ponto fraco em metafísica e outro no próprio considerar da vida: ninguém pode representar a existência tal como ela é, mas apenas como a vê, o que significava que se substituía à visão pessoal de que se acusavam os românticos outra visão pessoal que nada garantia mais sólida; por outro lado, é difícil de defender que uma rainha seja menos real do que um britador, de que um baile seja menos vivo do que um enterro: mas se a concepção, como pensamento, era bastante fraca, havia nela uma generosidade, um desejo de progresso, uma revolta contra os cânones estabelecidos, uma garantia de futuro que não podia deixar de trazer à sua defesa todos os espíritos que a ordem social não satisfazia e ao ataque todos os que de algum modo prosperavam à custa do trabalho dos homens que ainda por cima desprezavam; o que se combatia com inteira razão, era a fuga perante a vida quotidiana no que ela contém de tortura, de desespero, de aniquilamento do corpo e do espírito para os que o acaso não lançou às altas esferas sociais; e havia em todo o movimento um anseio de considerar o universo em conjunto, de não separar as actividades humanas, de não pôr para um lado a vida e para outro a arte que era decerto muito mais amplo e mais digno de homens do que o falso aristocratismo de fidalgos degenerados ou de burgueses enriquecidos.
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