A UM CADÁVER
Assim, meu pobre mármore transido,
há não sei quê no teu olhar tão baço,
que me fascina e deixa sucumbido
mais do que a luz chorando pelo espaço.
Mais que as asas, as nuvens e as velas,
a tua rigidez me faz cismar
no que serás ao sol e às estrelas
quando o teu corpo em pó for emigrar…
A tua dor, teu sonho, o que serão?
o que será meu pobre irmão, na morte,
teu ódio, teu amor, teu coração?...
Que será agora a vida que eu vivi?
Quem me dera saber qual foi a sorte
de tudo o que eu chorei e do que eu ri…
SPLEEN
No meu cachimbo de urze, fumo, fumo:
o fumo ondeia como eu, sem rumo…
Nada sei, nada sei: nada me importa…
(És noiva doutro, amante doutro ou morta?)
Nem arte, nem amor, nem santidade;
nem heroísmo ou sonho: nem saudade…
A chuva cai: um corvo no jardim…
E nada, nada, nada dentro de mim.
Assim esterilmente me consumo:
no meu cachimbo de urze, fumo, fumo…
Não tem sentido a vida: é este lodo apenas
com estrelas ao longe em música de avenas.
Tudo virá igual e friamente,
eternidade além… Rastejar de serpente.
É o éternel retour de Zaratustra,
ideia de terror que tudo gela e frustra.
E a alma que tem sede de divino
é uma bússola louca, é um leme sem tino.
Assim esterilmente me consumo:
no meu cachimbo de urze, fumo, fumo.
JARDIM DE FADAS
Uma ronda de elfos farandola
em torno de Oberon adormecido:
e Titânia, os pés numa corola,
parece o seu perfume encorpecido…
Nas musselinas de alva, Puck corta
uma veste mais leve e transparente,
e sopra à alma duma folha morta
que voa perto dele subtilmente…
Penumbra gris em que se esfolha a lua.
Ao fundo do jardim, o Mar do Norte
desfez-se em nuvem, como que flutua…
Titânia toca as árvores veladas…
e abrem-se os troncos todos de tal sorte
que saem deles turbilhões de fadas…
António Patrício
7 comentários:
Este gajo era gótico, nada fez por este País e deve ser degredado para Pequim!... :)
Huahhshahahahah...não devia ter lido teu comentário. Me fizeste rir com gosto, agora não consigo comentar mais nada.
Beijinho.
LISBOA - PORTUGAL
Olá!
Cheguei a este blogue através de outros que costumo visitar e neles postar comentários. Cheguei, vi e… gostei. Está bem feito, está comunicativo, está agradável, está bonito – e está bem escrito. Esta é uma deformação profissional de um jornalista e dizem que escritor a caminho dos 67…, mas que continua bem-disposto, alegre, piadista, gozão, e – vivo.
Só uma anotaçãozinha: Durante 16 anos trabalhei no Diário de Notícias, o mais importante de Portugal, onde cheguei a Chefe da Redacção – sem motivo justificativo… E acabo de publicar – vejam lá para o que me deu a «provecta» idade… - o me(a)u primeiro livro de ficção «Morte na Picada», contos da guerra colonial em Angola (1966/68) em que bem contra vontade, infelizmente participei como oficial miliciano (obrigatório, porque vindo da Universidade).
Muito prazer me darás se quiseres visitar o meu blogue e nele deixar comentários. E enviar-me colaboração. Basta um imeile / imilio (criações minhas e preciosas…) e já está. E se o quiseres divulgar a Amiga(o)s, ainda melhor. Tanto o blogue, como o imeile, tá? Muito obrigado
www.travessadoferreira.blogspot.com
ferreihenrique@gmail.com
E venho pedir-te o teu telemóvel (celular) bem como o teu imeile / imilio («preciosas» criações cá do je...) para poder contactar-te mais facilmente, a fim de implementar e desenvolver o projecto que tenho para o meu www.travessadoferreira.blogspot.com e que, como já sabem, é conferir ao meu/vosso/NOSSO blogue a característica de PONTO DE ENCONTRO entre os nossos dois Países fraternalmente ligados. No que estou, pela minha parte, a desenvolver todas as diligências que, naturalmente, me forem possíveis.
E, naturalmente também, para poder enviar-te «coisas» que ache interessantes. Se, porém, não as quiseres, diz-me eu paro logo. Sou muito bem-mandado (a minha mulher que o diga…) e muito obediente (cf. parênteses anterior).
Não te quero fazer concorrência - o que seria, no mínimo, deselegante - mas também estúpido... Proectos destes podem perfeitamente compginr-se, conviver e ser actores da mesma ideia que preside ao que ecrevo: «Da minha Língua vê-se o mar», Virgilio Ferreira.
Já solicitei a colaboração da Embaixada de Portugal em Brasília, que tem à frente dela um diplomata fora de série, o meu querido Amigo, Dr. Francisco Seixas da Costa e na qual se integram mis dois bons Amigos de longos nos: o Adriano Jordão e o Carlos Fino. Seixas da Costa criou um blogue magnífico Embaixada de Portugal no Brasil, www.embaixada-portugal-brasil.blogspot.com, que vos recomendo vivamente visitar. Tem tudo sobre as relações entre as duas Nações. Espero fazer o mesmo com a do Brasil em Lisboa.
Este é um desejo que já ultrapassa a simples intenção. Ambiciosamente, neste momento possui muitos comparticipantes – como desejo que seja o teu caso. Mas, com o empenhamento, a ajuda, o entusiasmo e a alegria que tenho encontrado – iremos longe. A internet (apesar dos aspectos negativos que ainda apresenta) tem uma força incomensurável e desenvolvimento tecnológico que se actualiza dia a dia.
Abrações e queijinhos, convenientemente repartidos e distribuídos
PS – Quando navegarmos em velocidade de cruzeiro, quero alargar o Travessa aos outros PALOP. Que achas?
Muito belos, os poemas.
PS: E muito trengo, o menino :P
Belos poemas de um poeta que "conheci" aqui.
Beijinho.
P.S. Por mim até podia ser um extra-terrestre:)))
Gente que escreve assim...
Meu caro senhor Antunes Ferreira, presumo que se estará a dirigir à Direcção e não à minha pessoa... como tal, não sou eu, em meu nome, a pessoa indicada para lhe poder responder.
Os melhores cumprimentos.
P. S. De futuro, use o e-mail novaaguia@gmail.com para assuntos deste teor; acredito ser mais adequado.
Obrigado a todos, por terem comentado. O António também agradece... ;)
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