A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Texto de Miguel Real, sobre a NOVA ÁGUIA...


APRESENTAÇÃO “NOVA ÁGUIA” – 19 – 5 – 2008 – PORTO

Caros Companheiros, Caros Amigos, Senhoras e Senhores,

É excessivamente raro na nossa vida darmo-nos conta de que estamos a viver um momento e um acontecimento histórico.
A História, embora inconsútil, é feita de um tecido muito rarificado e é mestra em pregar-nos partidas. É absolutamente necessário ter a perspicácia de separar a espuma dos dias daqueles acontecimentos que, ainda que simples, são de facto grandes. A ressurreição da Águia de Teixeira de Pascoaes, apoiada num projecto consistente e coerente para Portugal, de que o MIL – Movimento Internacional Lusófono é já expressão, é, de facto, um momento e um acontecimento históricos.
E é um momento e um acontecimento históricos por várias razões:

– Porque os seus dirigentes – Paulo Borges, Renato Epifânio e Celeste Natário – já evidenciaram, em outros momentos, que têm o sentido e a consciência da História, mormente na direcção da Associação Agostinho da Silva, realizando aquela que foi a melhor e a maior das comemorações do centésimo aniversário do nascimento que um filósofo português teve até hoje. Ao entusiasmo das comemorações do aniversário de Agostinho da Silva juntaram um tacto de organização como não estávamos até então habituados em Portugal;
– Porque os organizadores não se centraram em si próprios e nos seus amigos, mas abriram-se aos desconhecidos, com tudo o que isso significa de conflitos, polémicas, dissenções, mas também de solidificação e de união caldeada na prática; e aos desconhecidos não só portugueses, mas também dos países lusófonos e de inúmeras nacionalidades, evidenciando um espírito de abertura na diferença e no debate, que está longe de constituir tradição no espiritualismo português;
– Assim, a Nova Águia, firmada no passado, ressuscitando um caloroso debate sobre a Pátria e a Identidade Nacional, encontra-se indubitavelmente virada para o futuro, como se evidencia pelas suas tomadas de posição relativamente a Timor e ao Acordo Ortográfico. Isto é, a Nova Águia não tem medo de sujar as mãos, como dizia Oliveira Martins, ou “descer para a arena”, como confessava Antero de Quental.

Com efeito, trata-se de um espírito novo por que a Nova Águia nos vem iluminar, um espírito já do século XXI. Se bem repararmos, Nova Águia é a resposta de uma nova geração – a geração dos seus promotores – a três acontecimentos históricos que marcaram o Portugal da segunda metade do século XX, forçando-o a mudar de rumo – a instauração da democracia, em 1974, a perda do Império em 1975 e a assumpção do destinou europeu de Portugal em, 1980/86. De facto, a entrada de Portugal na Europa gerou um clima favorável às modas racionalistas, cujo espírito científico e técnico dominante consiste, em essência, numa visão pós-moderna da mentalidade positivista e cousista combatida por Teixeira de Pascoaes e Leonardo Coimbra. O neo-racionalismo actual incorporou cientificamente os conceitos de caos, de contingência, de acaso, de descontinuidade, abandonando filosoficamente, após a II Guerra Mundia e a crise do petróleo de 1973, a categoria de progresso ilimitado. Ideologicamente, o neo-racionalismo da sociedade global do final do século XX, impulsionado pelos avanços tecnológicos da sociedade da informação, transformou a arte da política – arte que aborda os sentimentos e as necessidades das pessoas – na actual sociedade do espectáculoistória é feita de um tecido muito rarificadoHi, que substitui a realidade vivida e sofrida das pessoas pela manipulação da imagem, do som, da cor, do brilho, da forma.
Neste sentido, a luta contra o neo-racionalismo europeu e americano é a luta contra a nova versão do positivismo de Comte e Littré. Hoje, o neo-racionalismo tem dois nomes: na América, chama-se Pragmatismo e, na Europa, Perspectivismo. Ambos penetraram profundamente na história da filosofia ocidental através de uma mistura espúria de Leibniz, de Kant e Nietzsche lidos por Heidegger, cruzados com os estudos do neo-positivismo lógico, a linguística de Saussure e os restos da dialéctica retórica grega e medieval, ressuscitados por Perelman e Meyer. Na América, Richard Rorty, na Europa Habermas, são as actuais duas cabeças do neo-racionalismo.
São, também, os dois grandes adversários da Nova Águia. Primeiro, o pragmatismo, que hipoteca o pensamento a objectivos, prazos e protocolos, matando-lhe o real e espontâneo poder poético criativo; e o perspectivismo, saboroso irmão-gémeo do relativismo e do cepticismo, vasto caldeirão intelectual diluidor da constância na defesa dos princípios.
Se quiséssemos resumir o que tem sido o novo pensamento português desde a entrada de Portugal na Europa, podíamos sintetizá-lo neste dois títulos – pragmatismo e perspectivismo, ambos animados popularmente pela mentalidade retórica e dialéctica dos meios de comunicação.
Neste sentido, nada de original nasceu em Portugal nos últimos trinta anos que se evidenciasse como sendo o seu contributo para a cultura europeia – na poesia somos europeus; no romance, somo europeus; na ciência, somos europeus; na técnica, somos europeus; na religião, somos europeus; na filosofia, pragmáticos e perspectivísticos, somos europeus. Trinta anos depois, os portugueses sentem essa impotência de não sermos outra coisa que os seus amigos e vizinhos são, sentem um vazio ontológico, um cogito negro que pensa por eles, um fogo e um gelo que queima as entranhas de Portugal, limitando-o. Os políticos portugueses e muitos intelectuais, já plenamente europeus, desprezam este sentimento popular de impotência, mas têm dele vaga intuição. Por isso, recusam submeter o Tratado de Lisboa a referendo popular.
A verdade é que a mentalidade europeia encontrou fracas resistências para se impor em Portugal nos últimos trinta anos, tal era o desejo popular de superar a pobreza e o analfabetismo a que Portugal parecia historicamente condenado. A Europa era vista, não como o armazém de secos e molhados, segundo Agostinho da Silva, mas como um hipermercado de luxo, riqueza, abundância, individualismo e ostentação. Com uma guerra de 13 anos às costas, um Império anacrónico e uma política autoritária cinquenta anos, sentíamo-nos mal com o nosso próprio corpo. A Europa constitui a materialização do sonho adolescente de Portugal. Virámos as costas ao Império e oferecemo-nos a uma jovem democracia, acreditando na riqueza material como panaceia da felicidade. Povo rural e comerciante, quisemo-nos, mais do que industrializados, informatizados; povo pré-moderno, quisemos pós-modernos; povo comunitário, acolhemos sorridentes o individualismo, o narcisismo e o egoísmo como fins de vida; povo solidário, vimos instalar-se entre nós uma abissal diferença entre pobres e ricos; povo que era conhecido na Europa pelos bigodes das concièrges parisienses, passámos a ser conhecidos pelo povo de um miúdo da Madeira de pés tão cheios de malabarismo quando de mente vazia e de um treinado tão megalómano que a si próprio se intitula Special One.
Trinta anos demorámos a perceber que o sonho da Europa não passa disso mesmo, um sonho que estava em nós e não na Europa. Nós víamos a Europa que sonhámos para Portugal. A Europa da riqueza, a Terra sem Mal e do Rio de Amêndoas e Mel esfuma-se todos os dias na farsa bailada entre políticos janotas como Berlusconi, Sarkozy e Sócrates, que da organização do viver colectivo possuem apenas um senso económico. Hoje, já percebemos que o sonho europeu foi um falso sonho:
- Em 25 de Abril de 1974, éramos o país menos industrializado da Europa, hoje continuamo-lo a ser;
- Éramos um dos países mais iletrado da Europa, hoje continuamo-lo a ser – menor índice de frequência de espectáculos, de consumo de jornais, de compra de livros…
- Em contrapartida, éramos dos países com maiores estádios da Europa, hoje continuamo-lo a ser;
- Éramos dos países mais pobres da Europa, hoje continuamo-lo a ser;
- Éramos dos países com maior nível diferencial de salários, hoje continuamo-lo a ser;
Etc, etc.

Não há dúvida – a culpa não é da Europa, que nos forçou a sermos democratas e a aceitar a tolerância e os direitos humanos como vector ético e existencial de vida. Culpadas são, sem dúvida, as elites portuguesas, que nos últimos trinta anos promoveram uma autêntica razia dos valores tradicionais portugueses: a solidariedade substituída pelo individualismo; a cooperação substituída pela competição como valor económico absoluto; os valores da honestidade, da amizade, da lealdade, substituídos pela omnipotência do dinheiro; os valores espirituais substituídos pelos valores económicos; a pessoa humana igualada à peça de uma máquina:
O saldo europeu hoje, se bem medido, para além do valor da democracia e da tolerância, já interiorizados pelas novas gerações, mede-se menos em sabedoria, humanismo, conhecimento e felicidade, e mais em betão, alcatrão e cimento. Porém, até a expansão acelerado do consumo, santo-e-senha da mentalidade europeia, se está esfumando aos primeiros sinais de uma crise económica internacional.

Ao mesmo tempo que, de um ponto de vista manifesto, a mentalidade europeia submergia todas as nossas iniciativas, inconscientemente íamos fazendo um penoso trabalho de luto – luto pela perda do Império; luto pela perda de um Portugal rural, lento, sereno, humilde, honesto na palavra, religioso ao ponto de supersticioso, um Portugal dos valores absolutos, dos imperativos éticos, um Portugal aberto à totalidade do mundo, o Portugal solidário do interior das famílias, o Portugal da palavra dada aos amigos, do dar a camisa aos amigos, o Portugal permanente de Teixeira de Pascoaes e de Agostinho da Silva.

Espiritualmente, o que significa a publicação da Nova Águia no ano de 2008?
Significa, em primeiro lugar, que o sonho ingénuo europeu acabou e que estamos lentamente deixando de nos procurar na Europa. Percebemos que, sem desculpa, só nos podemos encontrar em nós próprios, retomando as nossas tradições, não sentindo vergonha por nada que no passado tivéssemos feito. Se é verdade que o sonho europeu se está esfumando, ele ainda não se apagou, já que constitui o sentido político do Estado português, mas, finalmente, existe hoje, em Portugal, um alternativa à Europa sem que desta se tenha necessariamente de sair. É isto que a Nova Águia representa: uma alternativa de futuro aos actuais valores europeus (que, verdadeiramente, são já mais os valores americanos do que europeus) sem o corte radical com a Europa;
Em segundo lugar, que existe uma nova geração que, sem complexos neo-colonialistas, assume a existência passada do Império, projectando-o no futuro da língua comum. O que tem esta nova geração para dar? Nada, a não ser a vontade e o entusiasmo de transformar o passado em comum num futuro comum assente numa língua unificante num espírito harmónico. Que esta nova geração não tenha medo, não sinta medo, ouse lutar para ousar vencer, abrindo um novo horizonte a Portugal, o primeiro grande horizonte ético aberto a Portugal no século XXI.

2 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Nem todo o Portugal é o Porto, nem todo o filósofo pensa - mas há muito Porto que ainda não esqueceu Portugal, há muito Portugal que desperta e quem está por nós vale muitas hostes de sonâmbulos!

Um Republicano que admiro, um dos que condenou sem pruridos ideológicos o Regicídio. Um Português.

andorinha disse...

Excelente artigo!

"Culpadas são, sem dúvida, as elites portuguesas, que nos últimos trinta anos promoveram uma autêntica razia dos valores tradicionais portugueses: a solidariedade substituída pelo individualismo; a cooperação substituída pela competição como valor económico absoluto (...)
A pessoa humana igualada à peça de uma máquina."


Brilhante análise do que nos tem rodeado nos últimos trinta anos.
As peças devem estar sempre bem oleadas para que a engrenagem funcione na perfeição...as pessoas há muito que deixaram de existir.
Constata-se isso diariamente.

Quando se luta pode-se ganhar ou perder; quando não se luta, perde-se sempre.

Obrigada por este valioso contributo para a luta.

Klatuu,
Sempre em cima do acontecimento:)
Obrigada pelo link.