Le Regard Oblique, Paris, Robert Doisneau, 1948
Eram tempos difíceis os que vivias quando pela primeira vez te apresentaste, pedindo-me conselho, luz, dizias. Dei-te o que pedias. Deverias saber que o daria, sempre; a ti ou a qualquer outro que viesse mendigar o mesmo. Nunca se pode negar luz a quem a vem buscar. Ouviste-me, atento, humilde, quase servil; de uma humildade e servilismo que não te convinham nem a mim. Nessa época, falei-te do futuro. Falei-te da coragem e da força, da audácia e da conquista, da ousadia e da glória. Falei-te, enfim, da vitória. Os teus olhos brilharam perdidos nos meus, na verdade que neles lias, ou querias ler. Chamaste-me sábia e eu sorri. Não por fora porque eu nunca sorrio. Sorri por dentro, para mim mesma. Não te disse tudo, sabes? Longe disso. Podia tê-lo feito – cada coisa tem o seu tempo. O tempo ainda não chegou. Tarda ainda. Mas virá. Quando vier sei que virás ajoelhar-te novamente aos meus pés, como já fizeste. Nesse dia, não te falarei das mesmas coisas. O tempo tudo se encarrega de transformar, até as almas. Quando voltares, falar-te-ei de despotismo e injustiça, de ódio e de vingança. Falar-te-ei, enfim, de morte. Tu chamar-me-ás louca e partirás, com medo de voltar a olhar os meus olhos cada vez mais encovados, perdidos nas faces enrugadas, macilentas, e de neles encontrar a mesma verdade que viste outrora.
Eram tempos difíceis os que vivias quando pela primeira vez te apresentaste, pedindo-me conselho, luz, dizias. Dei-te o que pedias. Deverias saber que o daria, sempre; a ti ou a qualquer outro que viesse mendigar o mesmo. Nunca se pode negar luz a quem a vem buscar. Ouviste-me, atento, humilde, quase servil; de uma humildade e servilismo que não te convinham nem a mim. Nessa época, falei-te do futuro. Falei-te da coragem e da força, da audácia e da conquista, da ousadia e da glória. Falei-te, enfim, da vitória. Os teus olhos brilharam perdidos nos meus, na verdade que neles lias, ou querias ler. Chamaste-me sábia e eu sorri. Não por fora porque eu nunca sorrio. Sorri por dentro, para mim mesma. Não te disse tudo, sabes? Longe disso. Podia tê-lo feito – cada coisa tem o seu tempo. O tempo ainda não chegou. Tarda ainda. Mas virá. Quando vier sei que virás ajoelhar-te novamente aos meus pés, como já fizeste. Nesse dia, não te falarei das mesmas coisas. O tempo tudo se encarrega de transformar, até as almas. Quando voltares, falar-te-ei de despotismo e injustiça, de ódio e de vingança. Falar-te-ei, enfim, de morte. Tu chamar-me-ás louca e partirás, com medo de voltar a olhar os meus olhos cada vez mais encovados, perdidos nas faces enrugadas, macilentas, e de neles encontrar a mesma verdade que viste outrora.
14 comentários:
Tu és uma gó do Norte, só escreves sub-literatura e devias ser corrida deste blogue! JAJAJAJAJA!!!
P. S. A menina é uma pessoa muito bonita, com palácios altos e grutas de água fresca por dentro. O sangue ou se ergue forte, ou tudo nos mata.
«Wodan deu-me um coração duro.»
Nietzsche
:p
Não me digas que a Frankie é mais uma a vir banida para o Japão...
Frankie:
O tempo tudo se encarrega de transformar, até as almas.
Ou pelo menos a forma como as almas sentem...
Muito bonita a tua narrativa.
Beijo*
Abyssus abyssum invocat. .
JAJAJAJAJAJAJAJAJAJA!
Sorry, não resisti!
Beijos.
No fundo, quase todos nós - eu disse QUASE-, estamos a buscar a luz até quando já a temos o suficiente. Quanto mais luz mais clareza se tem para lidar a injustiça, o ódio, o despotismo, a vingança e até a morte.
Beijos.
gostei. e vou vasculhar a arca à procura de mais de Ti.
abç
Gostei imenso, :). Entendo melhor o k disseste, sabes, este texto faz-me pensar k é a conversa entre o destino e a pessoa k lhe k pediu algo, é um texto mt interessante e bastante diferente. Mas é acima de tudo uma lição. Percebes o k keio dizer? desc ser um comentario pobre.
Bjinho gande
Gostei muito, piquinita.
Posso dizer "piquinita" aqui?:)
A coragem, a força, a ousadia, o ódio, a vingança, a morte...tudo isso faz parte da vida e pode conviver numa só alma ao mesmo tempo.
Não creio que o tempo transforme necessariamente as almas, ou não sempre no sentido que apontas, pelo menos.
Também existe o sentido inverso.
Deixa lá...hoje deu-me para filosofar...:)
Beijinhos
É, Lord, já tinha ouvido dizer isso! AHAHAHAH
PS: Dentro de mim só um abismo. E, se palácios houver, sabes que um está reservado ao menino japonês :)
...pudesse ele sê-lo ainda um pouco mais...
Obrigada, Mariazinha.
Beijo*
Essa vai ficar pra história, Bia!
Acho que nunca me ri tanto falando com ninguém no msn!
"Tu és gótico?!"
AHAHAHAH
Beijo, bichinha*
Carlos:
Obrigada pela visita e pelas palavras.
Não sei se, ao vasculhar esta arca, encontrará algo meu que seja digno de registo mas conceterza encontrará, à medida que o fizer, muitos e belos textos de tantos outros que connosco partilham este espaço.
Night Angel:
Não peças desculpa; compreendi-te perfeitamente.
Um beijo*
Mummy, podes chamar-me o que quiseres -aqui ou em qualquer lugar-.
Quanto ao texto em si...
Há almas grandes e puras.
Essas, creio, são imutáveis.
E, quando mudanças há, nem sempre se dão no sentido que apontei nestas linhas.
-felizmente-
Um beijinho enorme*
http://paradoxosfilho.blogs.sapo.pt/27481.html
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