Namutu viu os grandes pássaros de asas abertas passarem o cabo que abrigava a baía. Como no sonho de Manikava, o sábio, que via o futuro nas labaredas do fogo e nos intestinos do cabrito.
E Manikava tinha contado, num sonho que ele viu mesmo, iam chegar grandes pássaros de asas brancas e dentro deles saía gente estranha, como filhos-formigas brotando de ave morta. Contou no chefe, depois contou no povo reunido na praça da aldeia. O chefe perguntou, isso é um bom sinal dos antepassados? Manikava disse que não sabia, mas o peito estava apertado, coração a bater com força. Talvez os antepassados estavam a mandar aviso, cuidado, muito cuidado. Foi na outra lua, Namutu recordou logo.
Agora via os pássaros passarem o cabo, voando por cima da água do mar, como no sonho acordado de Manikava. Pensou em Luimbi, seu único filho, ido com Samutu, o pai, apanhar mel. Correu para junto deles, mas já não estavam no sítio onde tinham ficado. A mulher não daria importância em tempo normal, mas deixara de ser tempo normal. Os pássaros voando em cima da água, tão monstruosos, não podiam ser aves como as que conheciam, podiam trazer perigo a Luimbi, seu único filho. E desconseguia ter outros filhos depois da doença, Manikava lhe dissera ao consultar os búzios. Procurou nas pequenas matas do mel, depois voltou à aldeia, saber se Samutu já tinha voltado com Luimbi.
Início do conto Estranhos Pássaros de Asas Abertas de Pepetela introdução ao Canto V de Os Lusíadas (editado pelo Expresso em 2003).
1 comentário:
uma visita dos antepassados com fogo nos olhos e palavras de dor.
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