Dizem por aí que somos pequeninos, atrasados e subdesenvolvidos. Nós, os portugueses do ponto de visto de património, temos um legado de monumentos que ao longo de 850 anos não conseguiu ombrear com o dos nossos vizinhos, nomeadamente a Espanha, a França…
Bem, Portugal foi desde a sua fundação um projecto de porto avançado do Cavaleiro Templário para o mundo, o porto do Graal… do Espírito Santo.
As suas gentes, imbuídas numa mística animista ancestral, nunca necessitaram de grandes faustos, luxos, avanços tecnológicos inúteis ou riquezas mundanas, dado a sua prerrogativa ser tão só o Espírito de Missão, que se tornou naturalmente na disseminação do Graal pelas sete partidas do mundo. Também não necessitavam de ostentar riqueza, porque a satisfação própria de quem empreende é interior, e é interior porque perdura, ao contrário do exterior cuja durabilidade é efémera.
Os Lusitanos, descendentes dos construtores atlantes dos dólmenes e dos menires, e que se situavam circunscritos no extremo da península Ibérica, entre o Douro e o Tejo tinham exactamente o mesmo princípio de missão. Esse espírito levou-os a agigantarem-se aos romanos, aos castelhanos, e a empreender empresas que lhes estavam aparentemente muito acima das suas possibilidades naturais… mas o que é certo é que cumpriu como povo muitas dessas missões impossíveis, perdurando ainda hoje esse espírito num dos países mais antigos da velha Europa. Mas repito, o espírito nunca foi, como nos tempos actuais orientado ao lucro e à ostentação que nos são de certo modo estrangeiros e próprios de uma pobreza de espírito, o espírito luso foi sim de missão!
Quanto ao património do qual somos herdeiros, a sua aparente insignificância em dimensão e riqueza comparativamente aos nossos vizinhos europeus mais novos como a Espanha, a França, a Inglaterra e a Alemanha, tem a ver com aquilo que já referi sobre o espírito luso, mas também com duas razões bem materiais e quer lhes são concomitantes.
A primeira tem a ver com a dispersão pelo mundo da actividade edificadora complementar ao espírito de missão, que impediu a sua concentração no território berço. Foi um sentimento de devir e de serviço que motivou interiormente o desapego a coisas mundanas.
A segunda poderá ficar-se a dever, em ligação ao argumento base, com o facto da raiz dos nossos reis e nobres, na sua maioria descendentes da região entre o Douro e o Tejo, ou seja, as terras da Lusitânia, terem seguido a sua cultura de austeridade e de contenção nos gastos supérfluos. Ainda hoje o homem das beiras é um indivíduo, austero e contido na despesa, fruto da sua educação familiar, que lhe tem transmitido desde tempos imemoriais essa linha de conduta. Provavelmente fruto da necessidade, dada a escassez de recursos naturais dessa região, a contenção nos gastos era sinónimo de sobrevivência por exemplo ao inverno que é especialmente duro nesta região: “quem não poupa a água e a lenha não poupa nada que tenha!” Pode-se constatar que o autóctone beirão foi e é ainda um ser orgulhoso, de princípios, senhor de si, austero de trato, poupado ao extremo mas de bom coração.
Partindo destas características, os monarcas portugueses, tinham de certo modo esta maneira de ser e de estar. Estes princípios indocrinados no seu âmago mais profundo, levava-os, na sua quase maioria, e durante o tempo em que Portugal liderou os destinos do mundo ocidental, a reprimir os gastos pessoais em função do auto-sacrifício. Por esse motivo é que os palácios reais e os castelos portugueses, ou são de reduzidas dimensões numa perspectiva utilitária simples, ou foram sendo construídos muito lentamente atravessando por vezes épocas distintas e por isso ou ficaram inacabados (ver palácio da Ajuda e mesmo o de Vila Viçosa) ou apresentam no mesmo edifício fases construtivas cujos estilos são marcadamente muito dispares (ver castelo de Tomar e o palácio da Pena), e que são devidos às ampliações segundo os modelos de épocas muito distintas, efectuadas à medida que se libertavam fundos.
Mais, os edifícios mais onerosos do ponto de vista estético e artístico não foram os palácios e os castelos, mas os conventos, e as catedrais, seguindo a linha dos povos dolménicos atlantes e dos seus filhos, os egípcios. Estes apresentam elementos votivos de uma espiritualidade própria do homem luso, o misticismo da epopeia que transforma o homem e o mundo… eram os livros de pedra, que pelo simples facto de serem catalisadores dessa libertação, tornava estas construções tão importantes como as caravelas da iniciação dos argonautas... As catedrais e os conventos eram os descendentes das antas e dos cromeleques. Os pelourinhos e os padrões dos descobrimentos os filhos do menir e do obelisco…
Em suma, o português dispendia mais recursos na missão, que era um propósito de certa libertação, do que na sua casa, que considerava tão só o local de repouso e a prisão dos seus ideais desmedidos. Considero que este espírito de valoração da epopeia em detrimento do valor material, um paradigma luso, o dinamismo do Argonauta em contraponto ao imobilismo do Velho do Restelo, um estado de alma que o tornava maior, porque em perfeita harmonia com as leis naturais terrenas procurava sempre e mais além alcançar as estrelas!
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