A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 20 de maio de 2008

o incrível bate-papo de César, Conselheiro, Cabral e Viriato

Nota prévia:
Esta é uma tentativa de abordagem à
historieta de cordel, uma velha tradição popular que, tal como, em determinada época, os capítulos da história trágico-marítima, produzia textos que tocavam e excitavam a imaginação popular, sendo vendidas "a tostão" nas feiras portuguesas. Esta tradição sobrevive ainda nos sertões brasileiros e, entre outras, na meritória actividade editorial da Tupynanquim Editora (Ceará - Brasil). E eis como, confrontados com a sua "descoberta" num mercado de rua em Fortaleza e animados pelo exemplo do grande Pessoa que não se eximiu de experimentar os difíceis caminhos das "quadras ao gosto popular", aventurámo-nos também no género antigo e castiço da "literatura de cordel". Lido com a entoação e sotaque sertanejo, o texto surgirá mais próximo do modo como o concebemos.


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Num botequim perdido

Lá no meio do sertão

Faz tempo que foi ouvido

Diálogo ou assombração

Que muito mexeu comigo.

E pra não ficar esquecido

Escrevo prá multidão


Sentados à mesma mesa

Quatro ilustres personagens

Carácteres de grande nobreza

Descansando das viagens

Conversavam com franqueza.

Que imagem, que beleza!

Naquelas estranhas roupagens...


Conselheiro, o anfitrião,

Saudava seus companheiros:

-Minha casa é o sertão

sede bem-vindos, romeiros.

Grande, imensa mansão,

Um povo de bom coração

Escravo de fazendeiros…












Viriato lhe responde:

- Sei do que falas, bom homem.

Eu venho da serra onde

Nem águias nem lobos dormem

E cada penedo esconde

Mais penedos, morte e monte…

Filhos a gemer de fome.











O do “veni, vidi, vici”

César, Júlio, ele mesmo

Tomou a palavra e disse:

- Conquistei terra e torresmo

Sem derrota que se visse

E os maiores “lobos” que vi

Foi na cidade mesmo…









Cabral estava sorrindo

Achou que devia falar:

- Amigos, que estou ouvindo?

Tanta amargura e penar…

Quem não quer viver fugindo

De lobos, no mar infindo

Tem comigo seu lugar!








Irmãos da mesma irmandade,

da seita dos viajantes,

alguém falou da amizade

natural de homens errantes,

amantes da Liberdade

profetas da sociedade,

Tanto hoje como dantes.


Vai daí, alguém propõe:

- Cada um por sua vez

Conte a história que compõe

Sua vida - o que fez.

Termina, ninguém se opõe.

Democracia se impõe

Sobre o silêncio dos três


“Quis libertar minha gente

do poder da tirania.

Em Canudos nós “fez” frente

A muita capitania

com multidão valente,

jagunço, pobre, indigente

pela vida não temia...”


Assim Conselheiro Antônio,

Começou a sua história

(que faz medo ao demônio)

de grandeza e memória!

«Mandaram major Febrônio,

Um militar idôneo,

Mas o “escol” perdeu prá “escória”...


A seguir vem coronel

Roubar-nos a Liberdade.

Deu-nos guerra sem quartel

Nome César foi vaidade

De imperador sem anel

Perde a sua no tropel

O “corta-cabeça” de alarde!»


«Alto lá, que esse nome

Tem sido muito abusado.

“César” já é renome

Que eu deixei registrado

Na história... até sobrenome!

E quando a fama é enorme

Um ou outro sai furado...»


«Ô César, esquenta não.

Conselheiro foi inócuo

prá teu nome, pois então.

Mas agora que me foco

em teu nariz vermelhão

(Cabral não me chamarão)

é Cleópatra ou... Pinóquio?!


Da Itália ao Egito,

Diz a história que tem

Um cara que andou aflito

Mas tempos depois, porém,

Resolvido o conflito,

Foi o bom e o bonito

E se deu lá muito bem...»


Começa a fanfarronada:

«Amigos, não é segredo

O poder que tem a farda

Nos homens inspira medo,

Na mulher faz com que arda

Uma paixão danada

Que as leva... ao “toledo”.


Sabeis vós e toda a gente

Que em terras de faraós

Tive grande ascendente.

Marco Antônio, após,

Foi menos inteligente

Prá Cleo foi menos quente...

(queixa dela, aqui pra nós)»


Viriato, a rir, desfere:

«Ô César, não fale tanto

De conquistas de mulher.

Tenho água pelo manto

E lembro-me de aprender

Que o último a saber...

E mais não adianto...»


César sente uma tontura:

«-Viriato tem cuidado,

A serra é pouco segura.

Pra quem me tem provocado

A risota pouco dura.

O que eu disse nessa altura

Ficou mal interpretado.


Uma ocasião nefasta

Eu disse que à mulher

De César, de mim, não basta

Fiel e honesta ser

Tem também de parecer casta!

Como a mulher que afasta

Qualquer que a quer... conhecer.»


Cabral, num jeito gozado:

«É, coisa doce de ouvir

mas César está ferrado

À Lusitânia quis vir...

Nem viu nem venceu, coitado.

No Egito é consolado...

Mas sente a testa florir...»


Antônio: «Paz no redil!

Tenham calma, europeus,

Nós estamos no Brasil.

Novo mundo, amigos meus!

Para cada um tem mil

Garotas de bunda e pernil

De enlouquecer um deus...


Nesta terra que eu piso

Não precisa ser estribado

Pra chegar no paraíso

Que a mulher tem guardado

Para o homem sem juízo.

Basta entender meu aviso,

Será muito... bem-amado!


Escutem com muita atenção:

Nas Terras de Vera Cruz,

Outra civilização,

A alma humana reluz.

No bater do coração

Bate um sambinha-canção

E toda a vida seduz!»


Viriato, o mais velho

A César estende a mão:

-Vamos caçar coelho?

Deixemos de discussão

Já sinto dor no joelho

E comichão no artelho

De estar nesta posição


Cabral, abraçando os dois

E Conselheiro ali perto:

«- Ao Alto, os corações!

Na cidade ou campo aberto

Desentendendo-se os bois

Sobra pra nós depois...

Ser amigo é que está certo!»


L.Mano

12/1/2005, Fortaleza – CE, Brasil

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Caio Júlio César, Roma 12-7-100 a.C. - Março 44 a.c.

Antônio Conselheiro, Quixeramobim, 1830 – Canudos, 1897

Pedro Álvares Cabral, Belmonte, 1467 – Santarém, 1520

Viriato , Loriga 186 AC - 139 AC

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei. A criatividade popular é incrível!

Jay Dee disse...

A voz do povo =)