Li, no DN, interessante posição do Dr. Malaca Casteleiro, em defesa de uma ortografia unificada: torna-se absolutamente necessária às organizações internacionais, onde o português é língua de trabalho, aos estabelecimentos de ensino estrangeiros onde se cultiva o nosso idioma, à difusão e promoção do livro em português nos domínios inter-lusófonos e internacional. (http://dn.sapo.pt/2008/03/15/opiniao/um_novo_acordo_ortografico.html)
Sábias palavras.
E das palavras o emérito linguista já está a trabalhar para o futuro, mau grado os resistentes à homologação do Novo (?) Acordo que, absurdamente, perdida a guerra a que se entregaram, pedem seis anos (e até houve quem pedisse dez) para a adaptação ao dito. Seis anos para varrer a parte úmida da língua, para termos fins de semana sem hífens, ou passarmos a batizar os nossos filhos sem o p, etc. À velocidade de jacto dos nossos tempos, quer-se impor o andamento da carroça. Mas também há que quem julgue mais razoável, pedir três anos. Dezoito não chegaram? Depois de aprovado na Assembleia da República e mandado publicar por Sua Excelência, o Presidente da República, é preciso esperar porquê e por que razões? Três anos a fazer o quê? Há quem não espere nem mais um minuto e, nesse sentido, esteja a trabalhar já na operacionalização do Acordo, criando os materiais didácticos seguintes apresentados a 14 de Março de 2008: um guia sobre o Acordo Ortográfico e dois dicionários que adoptam a nova grafia. Nestas três publicações, as primeiras obras lexicográficas elaboradas em Portugal segundo a nova forma de escrever, colaboram os linguistas João Malaca Casteleiro <https://outlook.umontreal.ca/exchweb/bin/redir.asp?URL=http://www.acad-ciencias.pt/academicos/jmcasteleiro.html> e Pedro Dinis Correia.
Eu cá não vou esperar seis anos, nem três. E, se neste momento, escrevo à moda antiga é por respeito pelos meus interlocutores e por falta de prática. Mas, nas aulas, em vez de perder tempo com as incomodativas explicações das variantes ortográficas entre PE e PA, ensino de acordo com o novo acordo ortográfico, o que me evita, pelo menos na escrita, perder tempo a pôr e a tirar c e p e explicar as tramas de tremas absurdos. Claro que o acordo não resolve tudo, nem mesmo em relação à ortografia. Quanto aos aspectos lexicais, sintácticos, semânticos e fonológicos, claro que o acordo não resolve nada (e, nesses aspectos, ainda bem!). Aí sim é um prazer explicar essas diferenças que se manifestam nos linguajares dos vários países lusófonos que têm em comum essa língua vadia que é a língua portuguesa> Diferenças que não constituem empecilho mas antes uma rica diversidade linguística que enriquece a língua de Camões, Pepetela, Machado de Assis, etc.
O resto são as discussões do costume e as sempiternas malhas que o Império tece . Repare-se no que dizia um dos conservadores e, supostamente, guardião da língua face às alterações propostas em 1911, quando se deslocava o eixo da etimologia para a eufonia (transformação do ph para F: Imaginem esta palavra phase, escripta assim: fase. Não nos parece uma palavra, parece-nos um esqueleto (...) Affligimo-nos extraordinariamente, quando pensamos que haveriamos de ser obrigados a escrever assim! (Alexandre Fontes, A Questão Orthographica, Lisboa, 1910, p. 9E, afinal, sobrevivemos sem a aflição anunciada pelo erudito de então. O que nos aflige, é que, se o tivéssemos escutado estaríamos a escrever dessa maneira. Ainda hoje estafam-se os mesmos argumentos de antanho por alguns eruditos de hoje, sempre os mesmos velhos do Restelo.Ainda que eu pense que o acordo de 1990 seja um mau acordo (falha o principal objectivo, o de total unificação ortográfica), o pior de tudo é não haver acordo algum.Desnecessário se torna afirmar que esta questão não é só linguística, é também política. Mas isso é uma outra conversa.
Luís Aguilar
Professeur invité et Docente do Instituto Camões
Faculté des Arts et des sciences
Mineur en Langue portugaise et cultures lusophones
Département de Littératures et de langues modernes
Direction de l'enseignement des langues et de cultures étrangères
Université de Montréal
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