A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sábado, 24 de novembro de 2007

Porque não deve haver (por agora) um referendo à Europa?

Um dos assuntos da actualidade é o eventual referendo ao chamado “Tratado de Lisboa”.
Não irei aqui abordar esse assunto para denunciar a hipocrisia dos partidos que, tendo prometido realizar esse referendo, vacilam agora, dando o dito por não-dito. Seria uma denúncia demasiado ingénua (pois que outra coisa seria de esperar?).
Não irei também deter-me no “argumento” de que os portugueses só poderão validar o Tratado por, desde logo, ele ter sido acordado “em Lisboa”. Seria demasiado provinciano...

A haver referendo, o meu voto será, obviamente, “não”, independentemente da posição pública que a NOVA ÁGUIA vier a tomar a esse respeito (se vier a tomá-la, esse será também obviamente o seu voto, pois que é aquele que é mais consequente com o seu Manifesto, isto salvaguardando o facto de permitirmos entre nós opiniões divergentes; como se percebe por este blogue, a NOVA ÁGUIA é, desde logo, um espaço de absoluta liberdade).
Não obstante isso, venho aqui defender que esse referendo não se deve realizar. Pelo menos por agora. É, a meu ver, demasiado cedo.
Replicar-se-á que, ao invés, é demasiado tarde, que esse referendo já deveria ter sido realizado há muito tempo, pois que só assim se teria “legitimado democraticamente” o nosso caminho europeu.
Permito-me defender aqui o contrário. O facto de esse caminho nunca ter sido “legitimado democraticamente” é uma coisa boa…

O povo só deve ser chamado a validar opções que respeitem a nossa destinação histórica. Ora, esse não é o caso do nosso caminho europeu. Portugal “entrou” para a Europa porque, entretanto, havia perdido o seu Império e, sobretudo, pela promessa dos “fundos”, que desenvolveriam finalmente o país.
Foi pois, sobretudo, um “negócio”. E os negócios não merecem a deferência de um referendo.
O povo, aliás, na sua intuitiva sabedoria, sabe que é disso, sobretudo, que se trata: nós estamos na Europa para “sacar” algum dinheiro, o mais que pudermos…
Para mais, como bem lembrava Agostinho da Silva, esses “fundos” eram-nos devidos. Se a Europa se tornou historicamente a região mais desenvolvida do mundo foi, desde logo, porque Portugal lhe abriu as portas ao mundo. Nada mais justo, pois, do que agora sermos, enfim, pagos por esse nosso feito.

Mas a nossa destinação não é essa, continua a não ser essa. Nós somos a “Turquia do Ocidente”. Tal como a Turquia não é, de facto, um país europeu, Portugal também não é, ou é apenas numa pequena parte. Tal como a Turquia, tendo uma parte europeia, é sobretudo uma pátria asiática, a pátria lusa, tendo também uma parte europeia (a nação portuguesa), estende-se por África, pela América, pelo Oriente…
A nossa destinação só poderá ser, pois, por isso, a já aqui por nós referida União Lusíada, ou seja, a união de todas as nações lusófonas, numa relação não já, obviamente, colonial, mas de efectiva fraternidade.
O que acontece é que ainda é demasiado cedo para que essa União Lusíada seja realmente possível (as feridas coloniais ainda não sararam por inteiro). E, por isso, é também demasiado cedo para sairmos da União Europeia (para mais, os “fundos” ainda não acabaram). E, por isso, é também demasiado cedo para realizarmos esse referendo que nos faça reencontrar, enfim, a nossa destinação…

7 comentários:

Jorge Batista disse...

Acho piada aos argumentos dos anti-europeístas para não quererem o referendo sobre a Europa. A razão é só uma: se houver esse referendo, o "sim" ganhará esmagadoramente, assim expressando a genuína vocação europeísta do povo português, e o "não" ver-se-á reduzido à sua efectiva insignificância...

Renato Epifânio disse...

Caro Jorge Batista
A haver referendo, o único resultado "esmagador" será o da abstenção (daí, de resto, a hesitação dos nossos políticos), o que desde logo porá em causa a nossa alegada "genuína vocação europeísta".
Depois, admito que o "sim" ganhe com significativa margem. O que, aliás, considero até prudente: enquanto não houver uma alternativa efectiva à União Europeia (que só poderá ser a União Lusíada), sair dela será quase suicida...
Isto porque Portugal, em si próprio, é inviável. Portugal só terá sentido e relevância (até para a Europa) quando se reassumir de vez enquanto a parte europeia de uma pátria lusa universal. Sem esse Horizonte, o nosso destino fatal será diluirmo-nos na Península Ibérica, o que já, aliás, está a acontecer no plano económico. As grandes multinacionais sediam-se, cada vez mais, em Madrid e depois, quanto muito, têm por cá uma delegação regional. Mas suponho que isso não o preocupe muito...

Jorge Batista disse...

Caro Renato Epifânio
O seu argumentário parece-me francamente "salazarento". Foi, pelo menos em parte, o mesmo que justificou um guerra completamente absurda, feita contra todos os ventos da História... Não me diga que você foi um dos que votou em Salazar para o maior português de sempre...

Renato Epifânio disse...

Caro Jorge Batista:
O facto de se estar "contra todos os ventos da História" não significa, por si só, que se esteja errado. Os que estão sempre a favor dos ventos da história chamam-se, tecnicamente, cataventos. Conheço alguns...
Dito isto, não sou nem nunca fui "salazarista". Desde logo porque, por formação ou deformação filosófica, prezo acima de tudo a liberdade de expressão. Quem de resto, a meu ver, recorre ao condicionamento do debate está, de imediato, a confessar a sua inferioridade. Quem está seguro da superioridade das suas ideias, não teme o debate livre. É aliás por isso que debato consigo...
Quanto ao meu voto nesse programa, transcrevo, para seu esclarecimento, um pequeno texto que então redigi e que foi publicado nalguns jornais:
«Segui, com bastante interesse, o programa “Os Grandes Portugueses”, na RTP, que terminou recentemente (25.03.2007). Acompanhei quer os primeiros debates, quer alguns dos documentários, quer a projecção final de resultados, quer ainda a polémica que estes acabaram por desencadear. Fi-lo porque considero ser fundamental o exercício da auto-consciência colectiva, ainda que promovida por um programa televisivo.
Cheguei mesmo a votar, segundo o critério que estabeleci para mim mesmo: o maior português seria aquele que mais tivesse contribuído para o Portugal do Futuro. Por isso votei na primeira ronda em Agostinho da Silva, aquele que considero ser o primeiro grande português do Portugal do Futuro, do Portugal a Haver. Na derradeira ronda, votei em Fernando Pessoa, segundo o mesmo critério.
Em conversa com múltiplas pessoas, dei-me conta de que quem votou seguiu critérios muito diversos. Na maior parte dos casos, privilegiando o Passado em vez do Futuro. O que, de resto, não surpreende. É opinião corrente que Portugal teve um grande Passado mas que já não terá um grande Futuro, se é que algum Futuro terá. Assim sendo, tratou-se pois apenas, para muitos daqueles que votaram, de celebrar o nosso “glorioso Passado”, já sem qualquer perspectiva de Futuro. Daí a presença, na ronda final, das figuras mais ligadas aos “Descobrimentos”.
Como se tornou patente ao longo dos primeiros debates, não era essa, contudo, a escolha que mais paixões desencadeava. Até porque escolher entre o Infante D. Henrique, D. João II ou Vasco da Gama, convenhamos, não é algo que possa estimular alguém, excepto, quanto muito, algum descendente directo de uma dessas figuras históricas. Todas elas “grandes”, sobrepõem-se mutuamente. Daí que não me parecesse expectável que alguma delas viesse a ser a mais votada.
Restavam, pois, sete nomes: Afonso Henriques, Camões, o Marquês de Pombal, Fernando Pessoa, Aristides de Sousa Mendes, Cunhal e Salazar. Pelos ecos das votações parcelares que foram chegando à imprensa, cedo se percebeu que a decisão seria entre estas duas últimas figuras, precisamente aquelas que mais paixões continuam a suscitar. A partir de certa altura, creio, aliás, que quem votou nos outros cinco fê-lo por recusar votar ou em Cunhal ou em Salazar. Por boas e más razões: quer porque consideravam que nenhum deles, por razões diversas, merecia o seu voto, quer porque não queriam tomar partido ideológico.
Daí a tentação da “escolha cultural”, ou seja, em Camões ou em Pessoa, aparentemente acima das sempre melindrosas escolhas políticas. O voto em Afonso Henriques, não sendo cultural, também já não seria político – procurava-se, no dizer de muitos, celebrar toda a nossa História elegendo a sua primeira grande figura. Já o voto no Marquês de Pombal não seria tão “consensual”, dada a “questão religiosa” e os “assassinatos de Estado”. Nessa esteira, a escolha óbvia era a de Aristides de Sousa Mendes, o único com as “mãos realmente limpas”, o único que poderia ser apresentado como um “exemplo ético”.
Durante os debates prévios a que assisti, foi, aliás, óbvia, a meu ver, a procura por parte da moderadora do programa, Maria Elisa, de promover a votação em Aristides, assim contornando a muito mais melindrosa escolha entre Cunhal e Salazar. Mais ainda, Aristides foi, a partir de certa altura, apresentado como aquele que melhor poderia encarnar a figura do “Anti-Salazar”, dado que, a esse respeito, Cunhal, mesmo para muitos anti-salazaristas, seria sempre uma escolha inaceitável. Daí o seu muito honroso “terceiro lugar” (13%), ainda que apenas escassas décimas acima do quarto mais votado, Afonso Henriques (12,4%), este dois, ainda assim, bem acima dos restantes, todos eles com votações abaixo dos 5% – por ordem decrescente: Camões, D. João II, Infante D. Henrique, Pessoa, Marquês de Pombal e Vasco da Gama.
A decisão era, contudo, entre Cunhal e Salazar, de longe, de facto, os dois políticos mais icónicos do século XX – aqueles que, por isso, mais paixões ainda suscitam. Não obstante a apreciável mobilização dos militantes comunistas (19,1%), venceu, com mais do dobro da votação, Salazar (41%). Cabe perguntar porquê? A meu ver, não por nenhuma mobilização “anti-democrata”. Salazar não era, assumidamente, um democrata (ainda que, no plano teórico, não fosse o mais anti-democrata; leiam-se os textos políticos de Pessoa…), mas não foi o seu pensamento político que terá mobilizado tanta gente. Até porque esse pensamento, que existe, continua a ser em grande medida desconhecido. Há mesmo quem julgue que Salazar era “analfabeto”.
A meu ver, os votos em Salazar derivam, sobretudo, da saturação do discurso das elites emergentes no pós-25 de Abril. Esse discurso é de tal modo maniqueísta que acaba por gerar, por reacção pendular, uma espécie de “branqueamento”, para mais atendendo à não muito gloriosa situação presente. É tempo, pois, de acabar de vez com a tese simétrica à dos “comunistas que comiam criancinhas ao pequeno-almoço”. É tempo de ter um discurso equilibrado sobre Salazar e o seu Regime. Só assim nos libertaremos definitivamente desse Passado. Só assim poderemos enfim começar a construir o Portugal Futuro que, obviamente, já nada poderá ter a ver com Salazar e com a sua ideia de um Portugal imperial. Daí o meu primeiro voto em Agostinho da Silva, o primeiro grande português do Portugal Futuro, do Portugal a Haver. Um Portugal descomplexadamente pós-imperial mas nem por isso um Portugal pequeno.».
Esclarecido?

Jorge Batista disse...

Caro Renato Epifânio
Não inteiramente! O que quer exactamente dizer com "um discurso equilibrado sobre Salazar e o seu Regime"?

Renato Epifânio disse...

Caro Jorge Batista
Apenas lhe digo que os mortos mal enterrados não deixam os vivos em paz...

Renato Epifânio disse...

Talvez nós aqui, na NOVA ÁGUIA, venhamos a prestar (mais) esse serviço à Pátria: enterrar condignamente Salazar, para que ele nos deixe definitivamente em paz... Já vai sendo tempo de olhar para a sua governação com o devido distanciamento histórico, sem histerias, sem facciosismos de esquerda ou de direita...